Correio braziliense, n. 20509, 16/07/2019. Política, p. 4

 

Critica é sinal de que é a pessoa certa

Bernardo Bittar

16/07/2019

 

 

Poder » Na Câmara, presidente diz que reação ao nome de Eduardo Bolsonaro reforça a escolha, e chama ministro de "terrivelmente evangélico"

O presidente Jair Bolsonaro visitou ontem a Câmara dos Deputados pela terceira vez, desde de junho. Em sua fala, disse estar convencido de que o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) é a pessoa certa para ocupar a embaixada do Brasil em Washington, justamente porque o parlamentar está recebendo críticas. Antes de deixar a Câmara, ele  cumprimentou nominalmente alguns ministros militares e, quando se referiu a André Mendonça, da Advocacia-Geral da União (AGU), o chamou de “um ministro terrivelmente evangélico”.

Ele esteve na Câmara dos Deputados para participar de sessão em homenagem ao Comando de Operações Especiais do Exército. “Pela função que ocupo, às vezes tenho que me calar. Tem uma passagem bíblica que fala disso: “hora de falar, hora de calar”. Mas, às vezes, queria vir aqui para dizer o que sinto (...) Essa indicação de um filho meu para a embaixada nos Estados Unidos (...) tão criticada pela mídia. Se é criticado, é sinal de que é a pessoa certa”, disse o presidente.

Bolsonaro foi criticado por congressistas e integrantes do corpo diplomático brasileiro, que afirmam que Eduardo Bolsonaro não faz parte da carreira de diplomatas brasileiros e não estaria apto a chefiar uma missão no exterior. O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, reuniu-se com Eduardo e, na ocasião, teria manifestado seu apoio publicamente.

Erro

Na avaliação da presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, Simone Tebet (MDB-MS), a indicação foi “o maior erro” de Bolsonaro até o momento. Para ela, o nome do deputado poderá ser rejeitado pelos senadores, o que pode expor fragilidades do governo em votações.

Bolsonaro aproveitou a solenidade na Câmara para dizer que as Forças Armadas são compostas por pessoas dispostas a proteger a democracia com sua vida. “Feliz é a nação que tem Forças Armadas e auxiliares comprometidos com a democracia e com a liberdade. Mesmo com a destruição da vida e da própria reputação. É o preço que se paga para que o povo tenha a vida prometida”, afirmou.

No fim do discurso, ao se despedir, se dirigiu ao general Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional (GSI); ao general Luiz Eduardo Ramos, ministro-chefe da Secretaria de Governo; ao major Jorge Antônio, da Secretaria-Geral da Presidência da República; e a André Mendonça, da Advocacia-Geral da União (AGU), a quem chamou de “um ministro terrivelmente evangélico”, emendando ao plenário: “Assim como somos terrivelmente patriotas”.

Bolsonaro voltou a dizer que as ministras Tereza Cristina, da Agricultura, e Damares Alves, dos Direitos Humanos, “são duas, mas valem por 10. E nenhum ministro discorda quando eu falo isso”. O único congressista citado nominalmente pelo presidente, além do líder do governo na Câmara, deputado Major Vitor Hugo (PSL-GO), que teve a iniciativa de promover a solenidade desta segunda, foi Marcos Feliciano (Pode-SP). “Em nome do qual, cumprimento os demais parlamentares”, afirmou o presidente. Feliciano é cotado para vice na chapa de Bolsonaro à reeleição.

Na semana passada, em meioa à expectativa de votação da reforma da Previdência, o presidente esteve na Câmara para um culto evangélico. Depois, acompanhou sessão solene em plenário para a comemoração de 42 anos da Igreja Universal. No fim de maio, ele chegou de surpresa e acompanhou uma sessão que homenageava o humorista Carlos Alberto de Nóbrega. Nesta segunda, Bolsonaro atravessou a pé o trecho que separa o Palácio do Planalto da Câmara dos Deputados, cerca de 300 metros.

Políticos costunan fazer o trajeto de carro. Um dos exemplos é a líder do governo no Congresso, deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), e o ministro Onyx Lorenzoni, da Casa Civil. É a segunda vez que Bolsonaro vai a pé para a Câmara, acompanhado de seguranças, assessores e ministros.