Título: Espanha vive pesadelo
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Fonte: Correio Braziliense, 27/10/2012, Economia, p. 25

Taxa de desemprego no país europeu ultrapassa 25%, a mais alta desde os anos 1970, e deve crescer em 2013

Protestos nas ruas contra a política de austeridade se intensificam à medida que recessão se aprofunda

Madri — Um em cada quatro trabalhadores espanhóis estava sem emprego no fim do terceiro trimestre deste ano. Segundo o Instituto Nacional de Estatísticas, a recessão no país levou a taxa de desemprego a atingir o recorde 25,02% no fim de setembro, o patamar mais alto desde o fim da ditadura do general Francisco Franco, em meados da década de 1970. E a expectativa é a de que ocorram mais demissões em 2013, conforme forem sendo executadas as novas etapas do programa de cortes de gastos adotado pelo governo para reduzir o rombo nas contas públicas. No segundo trimestre, o índice de desocupação era de 24,63%.

"O crescimento mais fraco que o esperado, aliado à austeridade, pode facilmente fazer o desemprego alcançar 26% no próximo ano", disse o economista do Nomura Silvio Peruzzo. A queda na renda e a piora do mercado de trabalho, que vem motivando um número crescente de manifestações populares contra a política econômica do governo, deve dar novos argumentos aos sindicatos trabalhistas que programam uma greve geral para novembro.

O alvo dos sindicalistas é o primeiro-ministro conservador, Mariano Rajoy, que iniciou um ambicioso programa de austeridade com o objetivo de cortar 150 bilhões de euros entre 2012 e 2014, sendo 39 bilhões em 2013, o que complica a retomada do crescimento e do emprego. Em 2012, segundo o Banco da Espanha, a economia terá uma retração de 1,5%. No fim de setembro, 5,8 milhões de espanhóis estavam sem trabalho. Dos países da União Europeia, apenas a Grécia, que vive uma recessão ainda mais brutal, tem uma taxa maior.

Os números divulgados ontem complicam ainda mais a situação de Rajoy, que vem sendo pressionado a solicitar um plano de ajuda internacional para restaurar a confiança dos investidores na solvência do país. Os sócios europeus já abriram um crédito de 60 bilhões de euros para recapitalizar os bancos espanhóis. Ontem, a diretora-erente do FMI, Christine Lagarde, elogiou as reformas do sistema financeiro, mas disse que Madri precisa dar "passos adicionais" para recuperar a economia. Na mesma linha, o Banco Central Europeu (BCE) afirmou que a Espanha precisa de "ações decisivas" para lidar com os desafios que tem pela frente.

» Prejuízo bilionário Quarto banco espanhol por ativos, o Bankia anunciou ontem que teve perdas de 2,6 bilhões de euros no terceiro trimestre, acumulando prejuízo de 7,05 bilhões até setembro. Muito exposta à bolha do setor imobiliário, que explodiu em 2008, a instituição foi nacionalizada em maio passado por meio de um aporte oficial de 20 bilhões de euros. Em setembro, recebeu mais 4,5 bilhões de um fundo público de ajuda ao setor financeiro.