Título: Deputados e senadores reprovados nas urnas
Autor: Correia, Karla
Fonte: Correio Braziliense, 30/10/2012, Política, p. 7

O eleitor não anda mesmo muito animado com os seus congressistas. Poucos conseguiram, nestas eleições, trocar o trabalho legislativo pelo comando da sua cidade de origem. Apenas um terço dos que se candidataram obteve sucesso

O saldo final das eleições municipais revelou o fraco desempenho de deputados e senadores nas urnas. Apenas um em cada três deputados que entraram na disputa pelas prefeituras conseguiu se eleger e nenhum dos cinco senadores que se candidataram ao comando de municípios atingiu o objetivo.

Ao todo, dos 78 deputados que entraram na corrida pelas prefeituras, 25 se elegeram prefeitos e deixarão Brasília no ano que vem: 15 venceram a disputa no primeiro turno e 10, no segundo. Para o cientista político da Universidade de Brasília (UnB) David Fleischer, a escassez na liberação de emendas parlamentares pelo governo pode ser apontada como um dos motivos das dificuldades que os deputados candidatos enfrentaram com um eleitorado que, na maior parte dos casos, os ajudou na eleição para o Congresso dois anos atrás.

"As emendas são a essência do que esses políticos têm para apresentar como resultado de seu trabalho às suas base eleitorais, sobretudo nas cidades do interior do país. Quando eles não conseguem ter suas emendas liberadas, o discurso no palanque fica enfraquecido", diz Fleisher. Na avaliação do cientista político, o mau resultado nas urnas deverá ter impacto ainda pior na relação entre governo e as bancadas da base aliada. "É só pensar que tem uma massa de deputados que não conseguiu liberar emendas a contento, não se elegeu e está voltando para suas atividades no Congresso. O humor deles no plenário não vai estar dos melhores", acredita o acadêmico.

Ainda assim, o número de deputados eleitos cresceu em relação às eleições municipais anteriores. Em 2008, dos 86 deputados que se candidataram a prefeito, apenas 18 conseguiram se eleger. Entre os senadores, o desempenho foi tão ruim quanto o das eleições deste ano: nenhum dos três parlamentares que disputaram prefeituras se elegeu. Em 2004, dos 89 deputados que entraram na disputa municipal, apenas 18 conquistaram prefeituras. Entre os senadores, o resultado foi um pouco melhor que o das disputas posteriores. Foram dois eleitos entre quatro que se lançaram na disputa.

Neste ano, o partido com melhor resultado foi o PSB. A legenda elegeu seis dos 11 deputados que se candidataram para prefeituras nos estados do Rio de Janeiro, do Espírito Santo, de Rondônia, de São Paulo, do Tocantins e do Maranhão. Na sequência, aparecem as bancadas do PMDB, com cinco deputados eleitos prefeito; e do PSDB, que teve quatro deputados que vão trocar o plenário da Câmara, em Brasília, pela prefeitura de sua cidade de origem. O DEM conseguiu emplacar apenas dois dos oito deputados que se candidataram ao cargo de prefeito.

A bancada do PCdoB, por sua vez, não conseguiu eleger nenhum dos quatro deputados da agremiação que disputaram as eleições municipais deste ano. Da leva de deputados que saiu vitoriosa nas urnas no último domingo, quatro irão comandar capitais a partir de janeiro de 2013: Mauro Nazif (PSB-RO) foi eleito em Porto Velho; Zenaldo Coutinho (PSDB-PA) irá comandar Belém; Edivaldo Holanda Júnior (PTC-MA) assumirá a prefeitura de São Luís; e ACM Neto (DEM-BA), que conquistou a prefeitura de Salvador.

O grande campeão de votos das disputas municipais, proporcionalmente, foi o petista Gilmar Machado, eleito prefeito de Uberlândia (MG) no primeiro turno com 68,72% dos votos.

"Quando eles não conseguem ter suas emendas liberadas, o discurso no palanque fica enfraquecido" David Fleischer, cientista político da UnB