O globo, n.31434, 30/08/2019. Rio, p. 14

 

Bancada evangélica discute afastamento de Flordelis 

Natália Portinari 

30/08/2019

 

 

Na bancada evangélica da Câmara dos Deputados, se discute um tema incômodo: o futuro político da deputada Flordelis (PSD-RJ), vice-presidente da frente e investigada no inquérito sobre a morte de seu marido, o pastor Anderson do Carmo, ocorrida em 16 de junho na casa da família, em Pendotiba, Niterói.

Em uma reunião na última terça-feira, um grupo de deputados defendeu que ela fosse afastada do cargo e outros ponderaram que, como cristãos, deveriam aguardar uma acusação formal antes de tomarem qualquer atitude. Foi difícil chegar a um consenso.

Em meio às discussões, Flordelis chegou à reunião, atrasada, e o assunto mudou. Ela cumprimentou os colegas e, de resto, se manteve calada. Antes da morte do marido, a cantora gospel era uma das mais ativas da frente, uma das poucas mulheres a se envolver em articulações e a participar das discussões nas reuniões.

—Como evangélicos, o importante nesse momento é evitar qualquer tipo de prejulgamento — diz Gilberto Nascimento (PSC-SP).

O pastor Abílio Santana (PL-BA), amigo de Anderson e Flordelis, é um dos que mais sentiram a morte do pastor. No grupo de WhatsApp da frente, ele posta notícias sobre um possível envolvimento de Flordelis e pede justiça.

NADA DE CONVERSAS

A deputada está no grupo, mas ignora as mensagens. Procurado, Abílio não quis se pronunciar. Recentemente, Flordelis procurou o pastor Marco Feliciano (PODE-SP) para intermediar uma conversa dela com o deputado da Bahia. Abílio, que conhece o casal há duas décadas, negou-se a encontrá-la, segundo interlocutores. Como os outros deputados da frente, ele prefere se manter à distância.

A deputada tem comparecido regularmente às sessões da Câmara, mas só por alguns minutos, para marcar presença ou votar. Não se dedica às conversas que costumava ter com colegas. Procurada pelo GLOBO, disse que só sua advogada poderia comentar a investigação.

Deputados dizem que a cumprimentam, mas evitam conversas. Alguns já especulam como irão se portar em um eventual processo de cassação. O inquérito mostra que pelo menos cinco filhos do casal —ao todo, são 55, a maioria adotivos — deram depoimentos que comprometem a mãe. O vereador de São Gonçalo Wagner Pimenta, conhecido como Misael, disse que Flordelis foi “mentora intelectual” do crime.