O globo, n.31434, 30/08/2019. Economia, p. 19

 

Sinal de alívio 

Cássia Almeida 

Pedro Capetti 

Gabriel Martins 

João Sorima Neto 

Marcello Corrêa

Amanda Pinheiro 

30/08/2019

 

 

 Recorte capturado

 

 

Economia avanga 0,4% no segundo tri,mas previsão  para o ano ainda fica em 1%

A economia brasileira reagiu no segundo trimestre, com um avanço de 0,4%, o dobro do que a média dos especialistas previa para o período. O desempenho afastou os riscos da chamada recessão técnica, quando a atividade econômica encolhe por dois trimestres consecutivos, mas não foi suficiente para alavancar as projeções do Produto Interno Bruto (PIB) este ano. Economistas avaliam que o país deve encerrar este ano com crescimento em torno de 1%. Caso as previsões se confirmem, indicam que o Brasil seguirá estacionado no mesmo ritmo de expansão que registra desde 2017, quando o país saiu da recessão que se estendeu por dois anos.

A construção civil teve papel crucial no desempenho de abril a junho. Ela avançou 1,9% em relação ao período de janeiro a abril e 2% na comparação com o segundo trimestre de 2018. Nesta base de comparação, foi a primeira alta em cinco anos e ajudou a impulsionar o investimento e a indústria.

Apesar do sinal positivo, o país ainda está 4,8% abaixo do pico de produção, registrado no primeiro trimestre de 2014, antes da crise.

—É uma recuperação lenta e gradual. Estamos no mesmo patamar do segundo trimestre de 2012. Já chegamos atero PIB quase 7% abaixo do pico — afirmou Rebeca

Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE.

Alguns fatores podem impulsionara economia no segundo semestre, como a liberação de recursos do FGTS, a perspectiva de desbloqueio de recursos do governo, aprovação da reforma da Previdência na Câmara, os juros baixos e a inflação controlada. Mas economistas ponderam que ainda é difícil calcular o impacto de ameaças no cenário externo, como a desaceleração da economia mundial e acrise na Argentina, e, no cenário doméstico, a instabilidade política e a demanda ainda fraca.

— Se o mundo não entrar em recessão, talvez essa desaceleração seja benéfica, porque tem muito dinheiro barato( os governos estão injetando recursos para reativara economia) que pode ser destinado às privatizações. Mas, se as condições da economia global piorarem muito, o Brasil entra no barco efica ruim para todo mundo — afirmou o economista Leonardo Carvalho, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

No segundo trimestre, o PIB avançou influenciado pela demanda interna. As exportações recuaram 1,6% com o crescimento menor da economia global e com acrise na Argentina, que fez com que o país perdesse espaço entre os principais destinos de exportações brasileiras.

O presidente Jair Bolsonaro comemorou o resultado, que ele classificou como “boa notícia”. Em nota, a Secretaria de Política Econômica do Ministério da Economia afirmou que “a estratégia adotada pelo governo, de crescimento com responsabilidade fiscal, vai se mostrando acertada”.

—Não dá para soltar fogos com resultado de um trimestre. Ter um número que é um pouco maior que o mercado estava esperando é um certo alívio. O Brasil está em um processo de recuperação muito lento dessa recessão —afirmou o secretário do Tesouro, Mansueto Almeida.

FGTS: ALENTO NO CONSUMO

O empresário Eduardo Canjani, dono da indústria gráfica Ciagraph, viu melhora de 5% no faturamento em agosto e avalia que as encomendas vão crescer até o fim do ano. No segundo trimestre, o investimento avançou 3,2%.

—Temos feito trabalhos para a construção civil. É um setor que parece estar se recuperando. Se a economia ainda não está a todo vapor, pelo menos há sinais de recuperação —afirmou o empresário.

Já a cozinheira Cassia Bragança conta coma liberação de R$ 1 mil de duas contas inativas do FGTS para pagar dívidas e aliviar o orçamento. O consumo das famílias responde por 70% do PIB e avançou 0,3% no trimestre. Ele está em alta há dois ano semeio e influencia o desempenho do setor de serviços, que avançou 0,3% no último trimestre.

— Depois de quitar a dívida, com certeza vou respirar mais aliviada —disse Cássia.

Diante do resultado acima da expectativa, a economista da FGV Silvia Matos mudou sua projeção para o PIB do ano de 1,1% para 1,2%, mas avalia que a percepção quanto à recuperação ainda não é um consenso:

— Escapamos da recessão, mas não significa que todos os problemas econômicos estão resolvidos. Ainda há dificuldade, por parte dos empresários, de ver que o pior já passou.

Luka Barbosa, economista do Itaú, tem avaliação mais pessimista. Com projeção de alta de 0,8% no ano, ele não descarta a hipótese de queda do PIB entre julho e setembro:

— Nosso indicador mostra que o PIB continua crescendo (ao ritmo de) 1% há mais de nove trimestres, sem sinal de desaceleração ou aceleração. Os poucos dados disponíveis mostram queda, como a indústria, que deve recuar 2% (no terceiro trimestre) —afirmou, citando que o desempenho da construção ainda é incógnita. — Os lançamentos são concentrados em São Paulo. A construção parou de cair.

Economistas citam ainda a instabilidade política como outro fator que pode atrapalhar a retomada.

—As declarações do presidente são um choque negativo no potencial de negócios — afirmou Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, que prevê expansão de 0,9% este ano.

*Estagiária, sob a supervisão de Cássia Almeida