O Estado de São Paulo, n. 46054, 20/11/2019. Política, p. A12

 

Deputado destrói peça sobre consciência negra

Fabrício de Castro

Renato Onofre

20/11/2019

 

 

Coronel Tadeu, do PSL, arranca cartaz e provoca troca de acusações na Câmara; Maia pediu diálogo e ‘não agressão’

Confusão. Jandira, Benedita e Taliria com cartaz rasgado

Uma exposição sobre racismo no Brasil foi pivô de discussões e acusações, ontem, na Câmara dos Deputados, na véspera do Dia da Consciência Negra. O deputado federal Coronel Tadeu (PSL-SP) arrancou da parede, rasgou e pisou em uma imagem do cartunista Carlos Latuff, em que aparecia um policial, com uma arma fumegante na mão, e um rapaz negro estendido no chão, algemado e com a camisa do Brasil. No cartaz, lia-se a frase “o genocídio da população negra”.

“Policiais não são assassinos. Policiais são guardiões da sociedade, sinto orgulho de ter 600 mil profissionais trabalhando pela segurança de 240 milhões de brasileiros”, escreveu Coronel Tadeu no Twitter.

Houve bate-boca na saída da exposição e gritos de “racista” em direção a Tadeu e a discussão dominou os discursos do plenário. “Ele arrancou tudo, destruiu tudo e cometeu o crime de racismo e quebra de decoro”, afirmou a deputada federal Jandira Feghali (PC do B-RJ) ainda na exposição. Jandira e a deputada Benedita da Silva (PT-RJ) prometeram levar o caso ao Conselho de Ética da Câmara. A bancada do PSOL também prometeu acionar o conselho.

Plenário. No plenário, o deputado Daniel Silveira (PSL-RJ) questionou o debate sobre racismo. “Não venha atribuir à Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro as mortes porque um negrozinho bandidinho tem que ser perdoado”, afirmou. “Alguns vão à mídia para falar que acham que o negro morre, porque ele é negro. Ele morre porque sustenta um fuzil”, disse.

A oposição criticou o Coronel Tadeu. “A violência de rasgar uma placa de uma exposição dentro do Congresso é compatível com a violência que se vê nas periferias e favelas por parte do Estado”, afirmou o deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ).

O deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) classificou a atitude como “inaceitável”. “É desonroso para esta Casa que um deputado federal não tenha tolerância, não respeite a história dos negros no Brasil, não perceba a gravidade do genocídio praticado nessa sociedade contra a juventude negra e pobre da periferia do Brasil”, disse.

Desde o início do dia, a imagem vinha causando desconforto aos deputados da chamada “bancada da bala”. Mais cedo, o deputado federal Capitão Augusto (PL-SP) já havia encaminhado ao presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), pedido para que o cartaz fosse retirado da exposição.

Com a polêmica, Maia defendeu o diálogo para resolver as divergências entre os parlamentares. “Não é um dia que marca de forma positiva a nossa Casa. Não agredir um cartaz que pode, inclusive, ser injusto com parte da polícia, mas isso nós deveríamos ter resolvido com diálogo, não com agressão.” 

Protesto

“Policiais não são assassinos. Policiais são guardiões da sociedade, sinto orgulho de ter 600 mil profissionais trabalhando pela segurança dos brasileiros”

Coronel Tadeu (PSL-SP)

DEPUTADO FEDERAL

'Negrozinho'

“Não venha atribuir à Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro as mortes porque um negrozinho bandidinho tem que ser perdoado.”

Daniel Silveira (PSL-RJ)

DEPUTADO FEDERAL

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Maia se compromete a dar prioridade ao 'pacote penal'

Breno Pires

20/11/2019

 

 

Conjunto de medidas de combate ao crime usa 90% das propostas feitas por Alexandre de Moraes e 75% por Sérgio Moro

Quase dez meses após apresentação do “pacote anticrime” à Câmara dos Deputados, o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), se comprometeu a dar prioridade e pôr em votação, em até duas semanas, as propostas consolidadas a partir dos projetos enviados pelos ministros Sérgio Moro, da Justiça, e Alexandre de Moraes, hoje no Supremo Tribunal Federal. Em audiências com ambos os ministros ontem, Maia apresentou o substitutivo elaborado pelo grupo de trabalho da Câmara, criado em março, com o propósito de unificar as medidas.

Moro, no entanto, saiu do encontro pedindo a retomada de propostas descartadas no texto – o que deve ser discutido em reuniões nos próximos dias. Maia frisou, pela manhã, em pronunciamento à imprensa ao lado de Moraes, que a base do conjunto de medidas para combater a criminalidade organizada e a corrupção é o texto elaborado por uma comissão de juristas encabeçada pelo ministro do Supremo – mantido em 90% do original. O parlamentar disse que as propostas de Moro – mantidas em cerca de 75% – se somaram ao texto.

Deputados também rebatizaram de “pacote penal” o conjunto de alterações pretendidas. Nos bastidores da Câmara, há uma leitura de que Maia não quer dar protagonismo a Moro,  ex-juiz titular da Operação Lava Jato no Paraná. “Nossa intenção é poder votar a urgência na próxima semana. Se tiver acordo, já votar o mérito, ou, se não, votar urgência na próxima semana e o mérito na semana seguinte”, afirmou Maia.

À tarde, Moro elogiou o grupo de trabalho, em um tom político, disse que “tanto faz” se as medidas forem aprovadas primeiro na Câmara ou Senado – onde seu texto não sofreu cortes e deve ser apreciado hoje na Comissão de Constituição e Justiça. Já Moraes destacou que houve aproveitamento da maior parte do que foi proposto pela comissão de juristas que presidiu. “Eu fico muito satisfeito porque o grupo aceitou 90% das propostas da comissão que eu presidi”, disse o ministro do STF.

Marca

O ministro da Justiça e da Segurança Pública, Sérgio Moro, apresentou o pacote anticrime em 4 de fevereiro, numa tentativa de estabelecer uma marca no governo