Título: Mensalão em baixa nas campanhas
Autor: Mader, Helena
Fonte: Correio Braziliense, 28/10/2012, Política, p. 3

Especialistas veem como fracassada a tentativa de mostrar o julgamento no STF na disputa. Justiça chegou a proibir veiculação de propagandas

A grandiosidade e a inédita repercussão do julgamento do mensalão levaram à crença de que o caso teria um impacto considerável nas eleições municipais. A análise da Ação Penal 470 começou apenas dois meses antes do primeiro turno e o mais célebre caso de corrupção da recente história política brasileira virou munição para os rivais de candidatos petistas ou de aliados do governo. Mas de forma surpreendente, à medida que o julgamento avançava com número expressivo de condenações, a influência do mensalão sobre os rumos da política municipal caía de forma proporcional.

Na largada das campanhas, não foram poucos os candidatos que levantaram o tema para tentar sensibilizar o eleitorado. Em São Paulo, o tucano José Serra tentou por sucessivas vezes vincular o rival, o petista Fernando Haddad, ao mensalão. Em um debate, disse que o escândalo surgiu no PT, partido “de onde Haddad vem”. Em eventos, repetia à exaustão que “o mensalão é obra dos petistas, é uma marca do partido”. A equipe do tucano chegou a criar uma propaganda eleitoral em que Haddad era vinculado ao ex-ministro José Dirceu, condenado por corrupção ativa e formação de quadrilha. Diante de reclamações do QG petista, o Tribunal Regional Eleitoral suspendeu a veiculação da associação entre o ex-ministro da Educação e Dirceu.

Em Salvador, o candidato do DEM, ACM Neto, explorou tanto o julgamento da Ação Penal 470 que a Justiça Eleitoral teve que intervir e proibir que seu programa eleitoral fizesse qualquer menção ao caso. O petista Nelson Pelegrino ainda conseguiu direito de resposta de seis minutos para rebater os argumentos de ACM Neto de que tivesse vínculos com os condenados pelo mensalão. Apesar da exploração do tema na campanha, Pelegrino conseguiu ir para o segundo turno contra o candidato do DEM.

O cientista político Fábio Wanderley Reis, professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), acredita que as tentativas de usar o tema nas campanhas foram fracassadas. “Claramente, não houve nenhum efeito apreciável do uso do mensalão nas eleições”, garante o especialista. Por outro lado, ele acredita que o julgamento terá um efeito político, especialmente para o Partido dos Trabalhadores. “Quanto a uma perspectiva mais ampla de consequências políticas e institucionais, o mensalão causou efeitos, que eu considero positivos. Bem ou mal, os cidadãos veem que as instituições estão funcionando, que políticos importantes estão sofrendo condenações e serão punidos”, explica o cientista político. “Com o julgamento, os partidos vão rever suas práticas com relação a alguns temas, especialmente sobre o caixa dois. Isso era visto na cultura política do Brasil de forma banalizadas, e a decisão do Supremo será como um alerta.”