Correio braziliense, n. 20506, 13/07/2019. Economia, p. 8

 

Indicadores mostram risco de nova recessão

Simone Kafruni

13/07/2019

 

 

O Brasil mal saiu de uma recessão e já caminha para outra. Os dados de maio dos três principais setores produtivos — indústria, comércio e serviços — mostram a paralisia da economia. Para alguns especialistas, o fraco desempenho das atividades terá impacto no Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre de 2019, que pode ser negativo. Como nos primeiros três meses do ano, o indicador, que representa a soma de toda riqueza produzida no país, recuou 0,2%, serão dois trimestres seguidos de queda, o que configura recessão técnica.
O volume de serviços no Brasil ficou estável (0,0%) em maio na comparação com o mês anterior, após ter avançado 0,5% em abril, quando interrompeu três taxas negativas seguidas, com perda acumulada de 1,6%, divulgou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A produção industrial caiu -0,2%, e as vendas do comércio recuaram 0,1% na mesma comparação, de acordo com outras duas pesquisas do órgão. Apenas o varejo ampliado, que inclui veículos e material de construção, teve alta de 0,2% em maio.
Para André Perfeito, economista-chefe da Necton, o país está entrando numa recessão técnica. “Os dados são muito fracos, indústria caiu, varejo, também, serviços no zero a zero. Pelo nosso modelo de projeção, o PIB terá queda de 0,1% no segundo trimestre, após a contração de 0,2% no primeiro”, destacou.
Conforme Rodrigo Lobo, gerente da Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) do IBGE, o setor está 1,1% abaixo do patamar de dezembro de 2018. “Houve perda de dinamismo, sobretudo no segmento de transportes (-0,6%), que recua pelo segundo mês consecutivo 0,6%”, disse.
Fabio Bentes, economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), destacou que o quadro é preocupante. “Os três motores pela ótica da oferta continuam apresentando desempenhos decepcionantes”, assinalou. O especialista lembrou que serviços e indústria, juntos, representam mais da metade do PIB brasileiro. “Com zero contribuição do comércio, a leitura é que a economia não saiu do lugar”, afirmou.
Antes da última safra de dados, a CNC projetava alta de 0,2% no PIB do segundo trimestre. “Como os dados vieram fracos, vai dar algo próximo de zero. O primeiro semestre foi perdido”, lamentou Bentes. Para o ano, a previsão é de alta de 0,9%, que pode ser revista para 0,7% ou 0,8%.
Segundo Flávio Castelo Branco, gerente executivo de Política Econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o setor está no patamar de oito anos atrás. “Estamos estagnados depois de uma grande recessão. É como se o país tivesse caído 10 degraus e não conseguiu se equilibrar para subir de volta”, comparou.
Castelo Branco destacou que o setor industrial perdeu participação no PIB. “Mas toda a economia está parada. A demanda não se recuperou. As famílias melhoraram, mas não recuperaram o consumo. As empresas estão produzindo menos e não investem, porque há capacidade ociosa”, explicou.
No entender de Julio Gomes de Almeida, diretor executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), tecnicamente é cedo para se falar em recessão. “Não temos os dados de dois trimestres seguidos. A indústria, sim, porque já acumula quedas seguidas. Serviços e comércio, ainda não. Em maio, é tudo muito próximo de zero”, alertou.
Almeida ressaltou, contudo, que se dependesse da indústria, o país já estaria em recessão. “Agora, o comércio, no acumulado, cresceu 0,7% após expansão de 3,2% no mesmo período do ano passado. Ou seja, não está no negativo, mas está perdendo velocidade. O setor de serviços demorou mais para entrar em crise, mas também é o último a se recuperar”, avaliou. “Ou seja, a indústria anda de ré, o comércio está desacelerando fortemente, e os serviços estão andando de lado. Se isso vai dar em recessão? Minha opinião é que esse quadro não muda em 2019. Vamos fechar cinco anos em crise”, opinou.
Para o país reagir, conforme Castelo Branco, é preciso que o governo priorize uma agenda mais ativa. “A reforma da Previdência andou, mas está travando todo o resto. É preciso que outras pautas avancem, como as privatizações, a reforma tributária. Há espaço para um corte de juros. Precisamos de novas fontes de financiamento. Alguma coisa precisa ser feita para tirar a letargia da economia”, destacou o gerente da CNI.
Paralisia

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Governo revê alta do PIB para 0,8%

Vera Batista

13/07/2019

 

 

 

 

O governo revisou para baixo, pela terceira vez consecutiva, as estimativas de crescimento econômico para 2019 e para 2020. De acordo com o Boletim Macro Fiscal da Secretaria de Política Econômica do Ministério da Economia, o Produto Interno Bruto (PIB, soma das riquezas do país) terá avanço de 0,81% este ano e vai superar a marca dos R$ 7 trilhões. Em maio, a previsão era de crescimento de 1,6%, e já havia caído, em junho, para alta de 1%. A projeção para 2020, que começou em incremento de 2,6%, caiu para 2,5% e, agora, está em alta de 2,2%.
A revisão se deve, de acordo com a secretaria, à demora na recuperação da economia no segundo semestre, à redução da confiança de empresários e consumidores, à estabilidade da produção industrial e à lenta recuperação dos serviços. O documento aponta que a queda no crescimento teve como pano de fundo questões estruturais e choques de curto prazo, como a guerra comercial no exterior, as intempéries climáticas que prejudicaram a agricultura e o rompimento da barragem da Companhia Vale, em Brumadinho (MG), que afetou a indústria. A retomada deverá passar necessariamente por um conjunto de reformas de reequilíbrio fiscal, em especial a da Previdência e reformas pró-mercado.
Alinhamento
Para os analistas, no entanto, o governo alinhou, com atraso, as expectativas às previsões do mercado. “Desde maio, nós já prevíamos PIB de 0,75% este ano”, afirmou Pedro Paulo Silveira, economista-chefe da Nova Futura Investimentos. A questão, disse ele, é que esse resultado tem pequeno impacto fiscal por um lado, mas, por outro, vai “exigir uma taxa maior de sacrifício da população, já que vai afetar o emprego e a renda”. A explicação é que, com um PIB menor, o governo arrecada menos e o mercado de trabalho fica paralisado, porque os investidores ainda não viram os resultados práticos das prometidas reformas estruturais.
“Não tem milagre. O governo anunciou novas medidas para destravar a economia. Eu não as conheço. Vamos acreditar que vão aparecer”, disse Silveira. Flavio Serrano, economista-chefe do Haitong Banco de Investimentos, igualmente, não viu novidades no relatório do Ministério da Economia. “O Brasil tem um sério problema de falta de produtividade e vive nesse momento uma escassez de oferta”, disse. Um dos motivos é o fato de o setor público estar sem condições de fazer investimentos por causa da necessidade de sério ajuste fiscal. “Caberá esse papel ao setor privado. Mas para isso é preciso um conjunto de ações de incentivo. A reforma da Previdência foi somente o primeiro passo. Mesmo assim, não se sabe o tamanho que ela terá. O mercado está em compasso de espera”, assinalou Serrano.
Cálculos do secretário especial de Fazenda, Waldery Rodrigues, projetam incremento de 0,5 ponto percentual  no PIB, caso as mudanças nas aposentadorias e pensões sejam aprovadas pelo Congresso Nacional. O secretário de Política Econômica, Adolfo Sachsida, ressalta que a reforma tem um grande peso nos planos do governo. Menos otimista, o subsecretário de política macroeconômica, Vladimir Teles, previu que o impacto, este ano, deve ser pequeno, melhorando no ano que vem.