Correio braziliense, n. 20510, 17/07/2019. Economia, p. 9

 

Montezano promete abrir caixa-preta do BNDES

Hamilton Ferrari

17/07/2019

 

 

Conjuntura » Amigo da família Bolsonaro, o novo presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social promete transparência, continuidade nas devoluções ao Tesouro, venda de ações da instituição e corte nos empréstimos

Amigo da família Bolsonaro, o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Gustavo Montezano, foi empossado no cargo com o discurso que agrada ao presidente da República, Jair Bolsonaro, e ao eleitorado do governo: abrir a “caixa-preta” da estatal. A falta de transparência sobre financiamentos em empreendimentos feitos durantes as gestões petistas foi o motivo para a exoneração do ex-comandante do banco Joaquim Levy, mas o novo chefe da instituição promete apresentar os dados à sociedade em até dois meses.

Durante a cerimônia de posse, ontem, no Palácio do Planalto, Bolsonaro comemorou que Montezano, amigo desde jovem de seus filhos, tenha alcançado o cargo (confira reportagem ao lado). Após desentendimentos com Levy, o presidente demonstrou insatisfação com a falta de divulgação da má alocação de recursos no passado, apesar de os dados serem públicos no site do BNDES.

Montezano disse que ainda não tem um posicionamento sobre a “caixa-preta”, mas que é notória a “nuvem cinza” em cima da instituição por conta de críticas a práticas irregulares. “Essa imagem do banco é extremamente questionada. É criticada por uns e defendida por outros. Empresarialmente, ao assumir a instituição financeira, a primeira coisa a se fazer é o dever de casa: entender o que tem, criar sua própria visão sobre os fatos e se posicionar”, afirmou.

Cuba

Bolsonaro enfatizou, em várias ocasiões, que o BNDES aplicou recursos em Cuba e na Venezuela, por exemplo, para operações que não são de interesse do Brasil. O presidente do BNDES afirmou que está com a “cabeça extremamente aberta” sobre as informações que estão na caixa-preta e que terá o prazo para formar opinião sobre o tema. Questionado se a posição política de Bolsonaro poderia interferir na avaliação, ele disse que o trabalho será feito sem viés ideológico. “Qualquer que seja a conclusão, nós precisamos ser transparentes para a sociedade e a mídia. Se A ou B vai ficar feliz, não dá para controlar.”

Montezano traçou outras quatro metas para serem cumpridas até o fim de 2019 (veja quadro). Uma delas é a venda de ações aplicadas pelo BNDES na Bolsa de Valores. De acordo com ele, não é função do banco investir em papéis especulativos que não dão retorno à sociedade. O BNDES tem uma carteira de títulos de empresas em torno de R$ 110 bilhões. “Quando se constrói uma estrutura de saneamento e produz receita, quem fez o investimento terá lucro, mas as famílias também terão menos doenças. Esse retorno é incomparavelmente maior do que investimentos na Bolsa”, completou, sem dar prazo para os desinvestimentos. Na carteira do BNDES estão R$ 45 bilhões na Petrobras, R$ 17 bilhões na Vale, R$ 11 bilhões na Fibria, R$ 7 bilhões na JBS e R$ 6 bilhões na Eletrobras.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, indicou Gustavo Montezano para o cargo para ajudar na agenda de privatizações, que ganhará celeridade no segundo semestre. O recém-empossado explicou que o banco funcionará como uma “consultoria” para coordenar a desestatização. “Vamos usar o corpo técnico na modelagem financeira das privatizações e para estruturar concessões”, disse. Montezano foi secretário-adjunto de Desestatização, cargo abaixo de Salim Mattar, titular da secretaria.

Sobre a atuação no mercado, Montezano disse que o banco vai reduzir os empréstimos para cerca de R$ 70 bilhões por ano. Em anos anteriores, foram operacionalizados entre R$ 150 bilhões e R$ 200 bilhões. O BNDES também continuará a devolver recursos ao Tesouro. Neste ano, já foram pagos quase R$ 40 bilhões. O banco pretende enviar mais R$ 86 bilhões até o fim de 2019. Ainda restará um passivo de R$ 150 bilhões, que deve ser devolvido até o fim de 2022.

Metas

Gustavo Montezano elencou cinco objetivos para cumprir até o fim de 2019

» Abrir a caixa-preta do BNDES em até dois meses

» Ter um plano para acelerar a venda de ações na Bolsa de Valores para aplicar recursos em áreas prioritárias para o social, como saneamento

» Continuar a devolução de recursos emprestados ao banco durante os anos 2008 e 2014 para estimular a economia. Serão R$ 126 bilhões pagos em 2019

» Apresentar para o governo e a sociedade um plano trianual com mudança de viés econômicos e que traga metas claras, além de definir orçamentos

» Melhorar de forma substancial a prestação de serviço e se tornar a assessoria financeira do Estado brasileiro e de entes da Federação

Fonte: presidente do BNDES

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Bolsonaro se emociona

17/07/2019

 

 

 

 

Durante a posse do novo presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o presidente da República, Jair Bolsonaro, se emocionou ao comemorar o sucesso dos filhos e do novo comandante da estatal. “Quando (Guedes) me apresentou o garoto, eu também me empolguei”, afirmou. “Como o morador do condomínio, acompanhava, em parte, as atividades deles. Vi que, daquela garotada da Dona Maria do 71, temos um presidente do BNDES, um senador da República (Flávio Bolsonaro), que por ser meu filho tem seus problemas potencializados, e, se Deus quiser, o embaixador na potência mais importante do mundo”, disse, em referência ao deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).

Bolsonaro relembrou que Montezano morava no mesmo condomínio, o que levou à amizade com seus filhos. O pai do presidente do BNDES é Roberto Montezano, que trabalhou durante “15 a 20 anos” com o ministro da Economia, Paulo Guedes. Sobre a atuação de Montezano no BNDES, o chefe do Executivo disse que será uma gestão transparente, servindo o povo, “que nós devemos ter uma terrível lealdade”.

Guedes também elogiou o novo gestor da estatal e afirmou que tem muito apreço por Roberto Montezano. Ele declarou que a prioridade do novo presidente é “despedalar” o BNDES e devolver recursos que são da União. Também enfatizou que o banco não terá mais foco em financiar os campeões nacionais, que, segundo o ministro, as famílias enriqueceram, mas as empresas sumiram. Guedes defendeu a desestatização do mercado de crédito e frisou que o BNDES tem papel fundamental para isso. O ministro ainda disse que vai “liberar o choque de energia barata e o choque do gás” em duas semanas, e lembrou que o governo conseguiu acelerar o processo da cessão onerosa. (HF)