Correio braziliense, n. 20511, 18/07/2019. Política, p. 3

 

O preço de uma nomeação

Rodolfo Costa

18/07/2019

 

 

Poder » Aval à indicação de Eduardo Bolsonaro para embaixada nos EUA terá custo para o governo em forma de liberação de emendas e de cargos

O governo está ciente de que a nomeação do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) para a embaixada brasileira em Washington, nos Estados Unidos, terá um custo político. A fatura está posta, dizem senadores e interlocutores, mas não há, ainda, como quantificá-la. De certo, envolverá a liberação de emendas parlamentares e cargos. O recado é que “indicar por indicar”, o presidente Jair Bolsonaro pode apresentar qualquer um, mas a aprovação é uma outra seara.

Ao governo e a aliados, senadores afirmam que, atualmente, não há condições de aprovar o nome de Eduardo. Alguns acham até melhor o governo repensar a sugestão e recuar durante o recesso parlamentar, enquanto ainda é tempo. Ou conversar com o deputado e sugerir que ele abra mão de uma eventual indicação. “Não tem condições de aprovarmos isso: ou o governo recua, ou Eduardo desiste para não passar por essa saia justa”, declarou um senador.

O posicionamento do governo e do próprio presidente, de não cogitar um “plano B”, é algo que desconforta parlamentares. Votar a favor da nomeação de Eduardo vem sendo classificado como um constrangimento. “Os senadores terão de votar a reforma da Previdência e sofrerão desgastes em suas bases com isso. Mas a reforma será aprovada em segundo turno na Câmara, e chancelar isso no Senado é menos constrangedor do que dar o aval para a aprovação de Eduardo a embaixador dos EUA”, disse um interlocutor de um senador.

É aí que entra o custo político da nomeação. Para votarem a favor de Eduardo, senadores exigirão algo em troca. A contabilidade disso começa a ser feita pela articulação governista. O Executivo sabe que, assim como na Câmara, precisará negociar a liberação de emendas de bancada — que, atualmente, não são impositivas, ou seja, o governo não é obrigado a executar — para aprovar a reforma da Previdência. Mas precisará empenhar recursos extras para receber aval ao nome de Eduardo.

Ombro irmão

Quem pode ajudar a indicação é o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), irmão mais velho de Eduardo. O parlamentar tem bom trânsito entre os colegas e, na avaliação de alguns, inevitavelmente acabará atuando para apoiar a nomeação. Durante o recesso legislativo, no entanto, permanecerá fora dos holofotes. Continuará a cargo de Bolsonaro defender a indicação do filho.

É o que continua fazendo o presidente da República. Ontem, em pronunciamento na cúpula do Mercosul, ele fez nova menção ao assunto. “As negociações externas, aí, com o grande apoio do meu ministro das Relações Exteriores, no zelo das indicações das embaixadas, também sem mais o viés ideológico do passado, e, quem sabe, um grande embaixador nos EUA brevemente”, disse. O presidente em exercício, Hamilton Mourão, também se posicionou favoravelmente. “Dentro das regras para escolha de quem não é da carreira diplomática, ele (Eduardo) está dentro do padrão. É uma decisão do presidente, e a decisão a gente não discute”, frisou.

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Demissão na Embrapa

18/07/2019

 

 

 

 

A demissão do agrônomo Sebastião Barbosa da Presidência da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) é um aceno à Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA). A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, não admite isso oficialmente, mas a exoneração atende à bancada ruralista — que pediu um choque de gestão rápido e urgente no agronegócio nacional — e ao presidente Jair Bolsonaro, defensor de uma “repotencialização” no órgão.

O governo mantém relação estreita com a FPA e intensificou as conversas mirando a composição da base para o pós-Previdência. A cúpula da bancada ruralista é integrada por nomes do alto e médio cleros de alguns dos partidos mais influentes no Congresso. O Planalto sabe que bancadas temáticas não garantem voto, mas, ao mesmo tempo, tem consciência de que precisará do apoio de alguns desses membros para costurar uma sustentação política dentro de suas legendas.

A cúpula da FPA se reuniu com Tereza Cristina, Bolsonaro e o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, nas últimas duas semanas. A pauta não se referia a indicações políticas como contrapartida para apoiar o Planalto, mas, sim, em mudanças na gestão do agronegócio. Do Ministério da Agricultura à Embrapa. “A ministra foi avisada de que, ou ela começa a quebrar e expor os atuais problemas e as dificuldades no setor, ou ficará fragilizada e não nos atenderá. O recado, pelo visto, foi bem ouvido. A mudança na Embrapa nos atende”, declarou um parlamentar da bancada ruralista.

Os ruralistas identificam que, diferentemente do que ocorre em outras pastas, Tereza Cristina não tem o mesmo poder que outros ministros para impor sua agenda e programas. “E não é nem culpa dela, não. Ela está presa à burocracia do sistema fitossanitário. Mas avisamos que não dá para continuar do jeito que está. É preciso modernizar e impor um modelo moderno de gestão no setor, principalmente na Embrapa, para produzir e entregar mais”, acrescentou o congressista.

Dois nomes fortes estão sobre a mesa da ministra. O do chefe da Embrapa Territorial, Evaristo de Miranda, uma indicação da FPA, e o do agrônomo Vinicius Lages, ex-ministro do Turismo e gerente de Relações Institucionais do Sebrae. Por enquanto, a Presidência do órgão será conduzida interinamente pelo diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da estatal, Celso Luiz Moretti.

A ministra nega a intenção de indicar um general para a Embrapa e manifestou que a ideia é promover uma seleção pública para bater o martelo sobre o próximo dirigente. “Vamos fazer uma sugestão de nomes e, não necessariamente, será um pesquisador da Embrapa. Pode ser e pode não ser”, afirmou. (RC)