O globo, n.31432, 28/08/2019. País, p. 12

Contra Aécio, tucanos paulistas recorrem ao diretório nacional 

Silvia Amorim

28/08/2019

O PSDB não deu por encerrada a polêmica envolvendo a permanência do deputado Aécio Neves (PSDBMG) no partido. Depois de a executiva nacional decidir pela manutenção do mineiro na legenda, o presidente da sigla em São Paulo, Marco Vinholi, encaminhou ontem à presidência um pedido para que o caso seja analisado pelo diretório nacional, órgão máximo da legenda.

No último dia 21, Aécio teve na Executiva dois pedidos de expulsão formulados por tucanos paulistas arquivados por 30 votos a favor e quatro contra. O placar foi a maior derrota partidária sofrida pelo governador João Doria, que continua defendendo a saída de Aécio.

No recurso, o PSDB paulista alega que seu pedido de expulsão do deputado foi analisado às pressas na reunião do partido. O relatório que recomendou o arquivamento do caso Aécio foi do deputado Celso Sabino (PSDB-PA).

—Foi um relatório feito em duas horas. Entendemos que é assunto que deve ser analisado com mais profundidade. Acreditamos muito no nosso recurso e que a maior parte dos filiados tem a mesma crença que a nossa. Por isso apelamos ao diretório nacional —diz Vinholi.

Aécio é réu num processo que investiga se o parlamentar solicitou R$ 2 milhões de propina ao empresário Joesley Batista, do grupo J&F. Ele também é alvo de inquéritos em diversos tribunais. O deputado nega as acusações.

A convocação do diretório nacional para reanálise do pedido de expulsão depende de uma decisão do presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo. Em viagem ao exterior, ele não foi localizado ontem para se manifestar sobre o recurso de São Paulo.

Aliados de Doria têm expectativa de reverter o resultado por ser o Diretório Nacional um colegiado mais amplo do que a Executiva. Ao todo são 177 delegados, mais todos os presidentes estaduais do partido e o presidente do Instituto Teotônio Vilela, enquanto na Executiva são 35 membros. Por enquanto, os tucanos paulistas descartam levar o caso para a Justiça.

SOB A MIRA DE DORIA

O deputado mineiro tem estado sob a mira do grupo de Doria desde que a nova direção partidária assumiu. Governador do maior estado do país, Doria, embora não ocupe nenhum cargo na direção do partido, passou a ser identificado como sua maior liderança. Por diversas vezes, o paulista, que tem planos de ser candidato a presidente da República em 2022, fez declarações públicas como pressão para uma expulsão de Aécio Neves.

O deputado, por sua vez, manteve-se todo o tempo em silêncio e, usando do conhecimento e das relações pessoais construídas ao longo de décadas na sigla, conseguiu apoio da maioria da direção partidária para continuar filiado. Além do mérito de Aécio, alguns tucanos avaliaram a derrota imposta a Doria pela Executiva como um recado de que ele não mandará sozinho no partido.