Título: CPI do Cachoeira sem acordo
Autor: Valadares, João
Fonte: Correio Braziliense, 31/10/2012, Política, p. 5

Oposição quer estender investigações por 180 dias para incluir a Delta. Governistas não aceitam e tentam encerrar os trabalhos ainda este ano

A reunião de líderes que decidiria o prazo de prorrogação da CPI do Cachoeira, ocorrida na tarde de ontem, no Senado Federal, não chegou a acordo algum. Diante do impasse, oposicionistas e governistas correm para coletar as assinaturas necessárias para a aprovação de dois requerimentos diferentes. Os integrantes da base aliada querem uma prorrogação breve, de apenas 48 dias. Dessa maneira, o foco das investigações não seria ampliado, e a CPI, sepultada sem nenhuma cerimônia. O objetivo é utilizar o tempo apenas para debater e votar o relatório final com o que já foi apurado.

A oposição, que classificou a manobra governista como "uma das maiores vergonhas do Congresso Nacional", pretende prorrogar os trabalhos por 180 dias. Período suficiente para quebrar o sigilo de empresas fantasmas da empreiteira Delta, que estariam no centro do esquema de corrupção comandado pelo bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Assim, também envolveria o governador Sergio Cabral, do Rio de Janeiro, nas investigações.

Na guerra das assinaturas, os oposicionistas garantem que conseguiram 122 na Câmara dos Deputados e 35 no Senado. Para aprovação de qualquer um dos requerimentos, são necessários 171 apoios formais na Câmara e 27 no Senado. "Não podemos aceitar isso. Estão enterrando a CPI e temos até o risco de encerrarmos o nosso trabalho sem relatório", reagiu o senador Randolfe Rodrigues (PSol-AP), autor do requerimento de prorrogação por 180 dias.

O relator da comissão, deputado Odair Cunha (PT-MG), garantiu que já existem 150 assinaturas coletadas na Câmara solicitando a prorrogação por 48 dias. "Estamos trabalhando com a hipótese de que vamos conseguir as assinaturas até as 10h15 de amanhã (hoje), hora da reunião administrativa. Esse é o tempo que entendo ser necessário para debater o relatório, já concluído, que é bom e bastante contundente."

O primeiro a deixar a sala de reunião foi o líder do PPS, deputado Rubens Bueno (PPS-PR). Visivelmente irritado, ele afirmou que a CPI estava sendo enterrada. "Trata-se de um acordão vergonhoso, um verdadeiro fiasco para salvar a Delta, aliados do governo e empresas laranjas que receberam recursos federais desviados pela empreiteira. Há dois meses, a CPI não investiga nada", lamentou.

No fim da tarde, o juiz Ari Queiroz, da Justiça de Goiás, negou pedido de bloqueio dos bens de Cachoeira, de servidores públicos e de funcionários da Delta. Eles foram acusados pelo Ministério Público de Goiás por irregularidades em contratos de locação de veículos. A Delta foi uma das empresas vencedoras da licitação.