O globo, n.31431, 27/08/2019. País, p. 10

 

Bancada do PSL critica Witzel por declarações sobre eleições de 2022

Paulo Cappelli

27/08/2019

 

 

Eleito na esteira do bolsonarismo, o governador Wilson Witzel (PSC) tem desagradado o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), que foi seu cabo eleitoral na campanha de 2018 e preside o PSL no estado. As frequentes declarações de Witzel de que quer ser presidente da República soam como uma afronta para o grupo político de Jair Bolsonaro.

Deputados federais do PSL criticaram o governador, após a revista Época mostrar que Witzel tem compartilhado com seus contatos no WhatsApp uma montagem na qual aparece com a faixa presidencial. Um dos mais descontentes é Luiz Lima (PSL-RJ), que já anunciou a intenção de disputar o governo do Rio contra Witzel em 2022.

—Gratidão não prescreve e tampouco tem prazo de validade. Ele foi eleito principalmente pelo alinhamento com o Bolsonaro. Quando a gente vê essa falta de sensibilidade logo no início de governo, opinando

em pontos sensíveis que atacam nosso presidente, como fez na entrevista para a Época, é claro que gera uma surpresa infeliz — disse Luiz Lima, referindo-se a um trecho da entrevista no qual Witzel afirmou que “Bolsonaro anima as redes, e o Brasil não sai do lugar”.

O parlamentar também criticou nomeações de políticos para o primeiro escalão do governo do Rio.

— O Bolsonaro não loteou politicamente os ministérios. Gostaria de ver o mesmo discurso sendo aplicado pelo Witzel em suas secretarias — disparou Lima.

Daniel Silveira (PSL-RJ), que subiu no mesmo palanque de Witzel durante a eleição de 2018, também criticou o governador:

—Tenho extrema simpatia pelo Wilson, mas há, sim, insatisfação no PSL com essa história de o governador ficar toda hora dizendo que quer ser presidente. Tudo tem o seu tempo. Agora é o tempo do Jair Bolsonaro presidente.

Witzel convidou deputados federais de siglas aliadas para uma reunião no Palácio Guanabara ontem. Dos 12 parlamentares do PSL do Rio, no entanto, apenas dois foram ao encontro: Antônio Furtado e Ricardo Pericar.

LIVRES

O grupo político de Bolsonaro atribui ao Pastor Everaldo, presidente nacional do P SC, o plano de Witzel de se lançar candidato à Presidência: “O Everaldoéo mentor político do Witzel”, afirmou um aliado próximo de Flávio Bolsonaro.

Procurado, Flávio Bolsonaro emitiu uma nota na qual afirmou que deputados estaduais do partido têm autonomia para adotar postura favorável ou crítica a Witzel. “O governo Witzel foi eleito com nossas bandeiras, mesmo assim a bancada tem liberdade para apoiá-lo ou não. Nosso maior compromisso é com o presidente Jair Bolsonaro, apoiar o seu governo incondicionalmente”, diz o texto.

Um aliado do senador afirmou que, para distensionar o clima, Witzel deveria deixar claro que só será candidato à Presidência em 2026, e não em 2022. Procurado, Pastor Everaldo evitou a polêmica e se limitou a dizer que Witzel “é candidato a ser o melhor governador que o Rio de Janeiro já teve”. Ontem, em agenda pública, Witzel minimizou qualquer mal-estar com Bolsonaro.

— Quero reafirmar que o governo do Estado do Rio de Janeiro mantém a parceria com o governo federal. Nosso objetivo é apoiar sempre. Só queria deixar claro isso aí — afirmou Witzel.

“Há, sim, insatisfação no PSL com essa história de o governador ficar toda hora dizendo que quer ser presidente”

Daniel Silveira , deputado federal do Rio pelo PSL