Correio braziliense, n. 20516, 23/07/2019. Política, p. 4

 

Previdência deve ser preservada

Renato Souza

Maria Eduarda Cardim

23/07/2019

 

 

Apesar da sequência de declarações polêmicas do presidente, líderes acreditam que efeitos se limitarão à relação Executivo-Legislativo

As últimas declarações do presidente Jair Bolsonaro causaram turbulência no mundo político, mesmo no recesso do Legislativo, conhecido por ser um período de calmaria em Brasília. Na Câmara, há um acordo entre os parlamentares, costurado pelos líderes partidários, para que as reformas sejam tocadas de maneira independente do Executivo. No entanto, os posicionamentos do chefe do Executivo têm estremecido o plano dos congressistas. Líderes de legendas criticaram comentários de Jair Bolsonaro, principalmente no que se refere aos governadores do Nordeste.
No PSD, parlamentares falam em uma resposta ao chefe do Executivo—que viria por meio das votações relacionadas aos projetos de interesse do governo. Pelo menos cinco deputados da sigla, eleitos por estados nordestinos e que votaram a favor das mudanças previdenciárias, avaliam sua posição.
O deputado Tadeu Alencar (PSD-PE) afirmou que Bolsonaro está tornando mais difícil as relações entre o Executivo e o Legislativo. “Eu acho que já não surpreendem as declarações infelizes do presidente, que ratifica o comportamento inadequado de um chefe de Estado. Isso dificulta e tensiona, desnecessariamente, o cenário político. Torna mais rarefeito o clima com uma região populosa. É algo muito grave e é claro que isso tem repercussões na relação com o Congresso e governadores”, disse
O parlamentar declarou, no entanto, que não vislumbra mudança de posições em relação à reforma da Previdência. “Não acredito que causará virada de votos. É claro que não se pode tirar a competência dos senadores em relação a mudanças no texto, mas já temos um cenário de aprovação”, completou. 
Essa também é a opinião do líder do PSD, deputado André de Paula (PSD-PE).  “A reforma foi fruto de uma construção ao longo de meses. Eu não vejo nenhum risco à aprovação no segundo turno. O grau de amadurecimento da casa já é grande”, avalia. No entanto, ele acredita que a relação com o legislativo pode piorar com as declarações polêmicas. “Acho que isso não ajuda e não harmoniza, porque dificulta muito o trabalho. Só o fato do governo não ter uma base própria já é um elemento dificultador. A relação precisa ser preservada por quatro anos, e ela é remexida a cada declaração desconcertada”, opina.
Para o líder do PC do B na Câmara dos Deputados, Daniel Almeida (BA), a postura é incompatível com o cargo de presidente da República. “Para mim, funciona até como uma cortina de fumaça para que problemas mais sérios não ganhem visibilidade. Enquanto ele faz esse discurso fora do padrão, totalmente inconveniente, o governo tem tomado medidas na área de liberação de agrotóxicos, na cultura, e etc”, diz.
O deputado José Nelto, líder do Podemos, criticou a declaração sobre os dados divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) sobre o desmatamento na Amazônia.

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Dados do Inpe serão divulgados

 

 

 

 

 

Ingrid Soares

Rafaela Gonçalves

23/07/2019

 

 

 

Ministro Marcos Pontes também duvidou dos números do Inpe (Rovena Rosa/Agência Brasil - 14/5/19)

Ministro Marcos Pontes também duvidou dos números do Inpe

O porta-voz da Presidência, Otávio Rêgo Barros, disse ontem que o governo não tem a intenção de impedir a divulgação dos dados do Instituto Nacional de Pesquisa (Inpe) sobre o desmatamento na Amazônia. Ele foi questionado após Bolsonaro afirmar que seria necessário avaliar os dados do instituto antes de “ampla divulgação” e, em caso de o governo entender que são sensíveis, os dados não seriam divulgados. Na semana passada, Bolsonaro questionou os dados sobre desmatamento na Amazônia. No fim semana, ele chegou a dizer que a divulgação sobre o desmatamento “prejudica o Brasil”.

“Absolutamente, o Planalto sempre trabalha pelo princípio da transparência. A intenção do senhor presidente é identificar, desde pronto, no relatório, quais são as demandas e quais são as ações prospectivas para corrigir, se for o caso, e para potencializar eventuais dados que ali ocorram no relatório”, afirmou o porta-voz.

Sobre uma possível demissão do presidente do Inpe, Ricardo Galvão, o porta-voz afirmou que ‘o presidente não adiantou nenhuma possibilidade nesse sentido’. No domingo, Bolsonaro anunciou que designaria um ministro para discutir com Galvão os dados de desmatamento que, na sua opinião, não correspondem à verdade. Bolsonaro acrescentou que seu governo não quer fazer “propaganda negativa do Brasil” e que não queria ser ‘pego de calças curtas’ em relação aos dados. O presidente sugeriu ainda que Galvão poderia estar a serviço de uma ONG internacional. Galvão desafiou o presidente a chamá-lo para que ele explicasse os dados do desmatamento “olhando em seus olhos” e afirmou que Bolsonaro teve uma atitude “pusilânime”.

Ontem, em nota, o ministro da Ciência, Tecnologia,  Inovações e Comunicações, Marcos Pontes, defendeu Bolsonaro,  criticou Galvão pelas reações às falas do presidente e também questionou os dados, ao dizer que   compartilha “da estranheza” com relação aos números do desmatamento, e pediu relatório técnico.