Título: Justiça bloqueia bens do grupo de Cachoeira
Autor: Valadares, João
Fonte: Correio Braziliense, 01/11/2012, Política, p. 2

Juiz de Goiânia impede a venda de patrimônio de 21 pessoas, avaliado em R$ 81 milhões, e suspende atividades bancárias de uma empresa

A pedido do Ministério Público Federal, o juiz Alderico Rocha Santos, da 11ª Vara Criminal de Goiânia, determinou o sequestro de vários apartamentos de alto padrão, sete veículos de luxo, um avião e fazendas pertencentes à organização criminosa comandanda pelo bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. O patrimônio bloqueado, avaliado em R$ 81 milhões, está no nome 21 pessoas físicas e empresas fantasmas ligadas ao contraventor. A Justiça ordenou ainda o bloqueio de todas as contas bancárias, aplicações e ativos financeiros, com o sequestro dos saldos existentes, da empresa Vitapan Indústria Farmacêutica Ltda, registrada no nome de Andrea Aprigio de Souza, ex-mulher de Cachoeira.

Além disso, em sua decisão, o juiz Alderico Rocha Santos indisponibilizou todas as cotas societárias da Vitapan com a devida proibição de suas transferências a terceiros. "Determino o imediato bloqueio dos saques, resgates, retiradas, pagamentos, compensações e quaisquer outras operações que impliquem em liberação de valores acima de R$ 8 mil." O mesmo procedimento foi adotado em relação à empresa fantasma Alberto e Pantoja Construções, que recebeu recursos da empreiteira Delta, no foco do escândalo.

O procurador da República Daniel de Resende Salgado, um dos responsáveis pela desarticulação da quadrilha a partir das investigações da Operação Monte Carlo, explicou que, em março, o Ministério Público já havia requerido o bloqueio de alguns bens. No entanto, a instituição fez um cruzamento de dados e verificou que a Justiça tinha realizado o sequestro de apenas alguns deles. A lista completa de bens englobava 167 imóveis e um avião, avaliados em R$ 141,6 milhões, registrados em nome de 29 pessoas e três empresas fantasmas da quadrilha do bicheiro.

Em setembro, a CPI pediu o sequestro do patrimônio e o depósito em juízo dos 81 denunciados pelo Ministério Público Federal na Operação Monte Carlo. A decisão foi tomada após denúncia publicada no Correio. A reportagem de 16 de setembro mostrou que o patrimônio da organização criminosa estava sendo vendido às pressas, pela metade do preço, nas regiões administrativas do Distrito Federal e em cidades do Entorno, por José Olímpio de Queiroga Neto, braço direito do contraventor no DF, com o objetivo de levantar recursos para fugir para os Estados Unidos. "Se nós não formos céleres, pode ser que, quando chegarmos a esses bens, a quadrilha já tenha se desfeito deles", afirmou na época o relator da CPI, deputado Odair Cunha (PT-MG).

Fazenda Entre os imóveis que, agora, estão sob a responsabilidade da Justiça, a mulher de Cachoeira, Andressa Alves Mendonça, figura com o maior patrimônio. A 11ª Vara Criminal de Goiânia determinou a retenção de uma fazenda avaliada em R$ 20 milhões, localizada no Distrito Federal. Os bens da ex-mulher do bicheiro Andrea Aprígio de Souza, incluindo diversos imóveis e uma propriedade rural, foram avaliados em R$ 16,3 milhões. O avião, avaliado em R$ 750 mil, também está no nome de Andrea (veja quadro ao lado). Em nome de Cachoeira foi sequestrada a sua casa no condomínio de luxo Alphaville. O imóvel custa cerca de R$ 1,5 milhão.

O ex-delegado da Polícia Federal Deuselino Valadares também aparece na lista. Ele teve uma fazenda sequestrada no município paraense de José Porfírio, no valor de R$ 4,5 milhões. Em relação a José Olímpio de Queiroga Neto, além de um dos imóveis citados na reportagem, houve o bloqueio de quatro apartamentos, uma fazenda e uma chácara. O patrimônio soma R$ 4,6 milhões. Entre os veículos, destacam-se um Porsche modelo Cayenne, avaliado em R$ 270 mil, no nome de Paulo Roberto de Almeida Ramos; um Land Rover de R$ 190 mil, e uma Pajero, no valor de R$ 50 mil.

O juiz Alderico Rocha Santos justifica a sentença alegando que se tratam de crimes contra a administração pública (corrupção ativa e passiva, violação de sigilo funcional, contrabando), além de o grupo ser considerado uma organização criminosa. O ex-diretor da Delta no Centro-Oeste Cláudio Dias Abreu, que foi preso na Operação Monte Carlo, também teve bens sequestrados. A Justiça bloqueou um terreno em Goiânia, avaliado em R$ 330 mil, e uma casa de R$ 1 milhão na mesma cidade. Lenine Araujo de Souza, um dos homens de confiança de Cachoeira, perdeu imóveis, no município de Caldas Novas, que custam R$ 300 mil.