Correio braziliense, n. 20518, 25/07/2019. Política, p. 6
Acordo afasta ameaça de greve
Simone Kafruni
Luiz Calcagno
25/07/2019
Governo, empresários e profissionais autônomos chegam a um entendimento prévio sobre tabela de fretes. Reuniões na próxima semana definirão valores específicos para cada uma das 11 categorias de transporte de cargas
Após reunião de mais de cinco horas com representantes dos caminhoneiros autônomos, o ministro de Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, garantiu, na noite de ontem, que o impasse sobre a tabela de fretes, que passou a valer no último sábado, mas foi suspensa na segunda-feira, está prestes a ser resolvido — e que não há ameaça de nova greve. Reuniões com todos os envolvidos — embarcadores, transportadores, caminhoneiros — serão realizadas na semana que vem para fechar valores específicos para cada uma das 11 categorias de transporte de cargas.
“O setor de transporte rodoviário está dando exemplo de como construir soluções por meio do diálogo. A tabela que foi elaborada pela Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da USP) é de custos operacionais, portanto, o mínimo. Mas há parcelas adicionais que compõem o frete”, explicou o ministro. Segundo ele, nas negociações, surgiu a oportunidade de se fazer acordos coletivos. “Todos concordaram, e isso gera engajamento, consenso, e estabelece um patamar de valor que efetivamente será praticado. Isso não aconteceu antes, porque o valor não era pago nem fiscalizado”, ressaltou.
Freitas disse que, até o fim da semana que vem, todos os acordos serão fechados. “Os setores têm estimativas de ajuste da tabela, nós também. E são muito parecidas, por isso acredito que será tranquilo”, ressaltou. Haverá revisão de custos mínimos a cada seis meses, mas os acordos coletivos serão feitos uma vez por ano.
O ministro ressaltou que está se estabelecendo uma cultura de negociação. “O mercado vai se regular. Isso deve ajudar no julgamento da constitucionalidade da tabela (pelo Supremo Tribunal Federal). Houve restabelecimento da paz. Isso é importante, porque a insegurança jurídica represou carga. Há um estoque de coisas armazenadas que podem sair, o que vai gerar demanda”, detalhou.
Carlos Alberto Liti Dahmer, presidente do Sindicato dos Caminhoneiros Autônomos de Ijuí (RS), confirmou o entendimento. “O que todos queremos é uma condição digna de trabalho. Em um acordo, sempre alguém perde. Que percam todos um pouquinho para ganharmos todos”, afirmou. “A tabela da Esalq não agradou porque são 11 categorias de cargas diferenciadas. Agora, vai ser ajustada para que possa incluir parte da lucratividade do caminhoneiro”, disse.
Norival de Almeida Silva, presidente da Federação dos Caminhoneiros de Carga Geral de São Paulo (Fetrabens) e representante da Confederação Nacional de Transportadores Autônomos (CNTA), ressaltou que tirar o atravessador é uma reivindicação de mais de 10 anos. “Se tirar o intermediário, melhora o frete para o caminhoneiro, sem aumentar para o embarcador.” Segundo ele, todos os caminhoneiros vão assinar a convenção. “Temos mais de 30 nomes formalizados. Até quarta-feira, isso estará resolvido”, disse.
O caminhoneiro Wallace Landim, conhecido como Chorão, saiu contente da reunião. “Vamos buscar o consenso. A gente precisa de segurança jurídica e de paz para o Brasil voltar a crescer”, afirmou.