O globo, n.31428, 24/08/2019. País, p. 10

 

'Brasil esteve à beira da insolvência institucional'

24/08/2019

 

 

O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEMAP), afirmou que o país “esteve à beira da insolvência institucional” no momento em que Executivo, Legislativo e Judiciário trocavam críticas e acusações publicamente, até maio deste ano. Em entrevista à revista “Veja”, o senador sustenta que o perfil conciliador foi determinante para a pacificação das relações, ao menos temporariamente, por meio do pacto entre os Poderes. Alçado ao comando do Senado com apoio do governo, logo em seu primeiro mandato na Casa, o ex-deputado apontou que o contexto de tensão fragilizava as instituições brasileiras e, nesse contexto, poderia abrir caminho para “outras coisas antidemocráticas”.

—Não acredito que a gente poderia ter vivido um novo golpe. Isso não. Mas, como a situação estava, nós não iríamos votar nada no Congresso. O Legislativo estava acuado e fraco diante das agressões. O Supremo estava sendo agredido todos os dias. O Brasil esteve à beira da insolvência institucional —afirmou.

No início deste mês, também em entrevista à “Veja”, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, afirmou que o país estava “em uma situação de muita pressão, com uma insatisfação generalizada. Mas o pacto (entre Poderes) funcionou. A reforma da Previdência foi aprovada e as instituições estão firmes”.

BOLSONARO POUPADO

Na entrevista, Alcolumbre evitou comentar qual considerava ser a responsabilidade do presidente Jair Bolsonaro na escalada da tensão entre os Poderes. O chefe do Planalto foi criticado, na época, por apoiar uma manifestação convocada, em princípio, com pauta de ataques ao Congresso e ao Supremo.

— Ele (Bolsonaro) sempre falou essas coisas polêmicas que são criticadas agora, e as repetiu na eleição também. As pessoas votaram nele. Então, ele tem legitimidade. É o estilo dele. Se eu ficar todo dia criticando o governo, o presidente da República criticando o Supremo e o Supremo criticando o Poder Legislativo, não vamos avançar. Colocamos um ponto final nisso com o pacto —disse. O presidente do Senado afirmou não saber o que ocorreria no país sem o acordo entre Poderes, mas apontou que “certamente não teria sido bom para os brasileiros”. Para Alcolumbre, o país não sairia do fundo do poço se os ataques continuassem:

— Após a eleição do presidente Bolsonaro, o Brasil estava muito polarizado e dividido. E essa situação se arrastou até abril, maio. Foi um período de muita tensão. As pessoas não se deram conta de que as agressões que estavam sendo feitas contra o Congresso e o Supremo eram ataques contra a democracia. Tivemos de tomar a decisão de que a conciliação era um caminho e a pacificação era necessária. Se fôssemos agir pela emoção, talvez não estivéssemos vivendo o que estamos vivendo hoje no Brasil. Na visão de Alcolumbre, a aprovação da reforma da Previdência em dois turnos na Câmara foi resultado prático do pacto. Segundo ele, Bolsonaro entendeu, a partir de maio, que precisava se aproximar da política: começou a dizer que confiava nos presidentes de Câmara e Senado, e os ataques nas redes diminuíram. O senador afirmou ser prematuro avaliar o governo.

— É um governo que está começando, que tem sete meses. Assim como eu aqui, no Senado, o presidente Bolsonaro está aprendendo. Ele é muito criticado por suas declarações. Mas esse Bolsonaro, repito, todo mundo conhecia. Ninguém pode dizer que ele não existia.

Para Alcolumbre, as eleições municipais do próximo ano serão decisivas para que “se dimensione o espaço do centro político em um ambiente polarizado como o do Brasil”.Com base neste pleito, o qual chamou de “grande teste”, os centristas deverão se posicionar para 2022.