Título: Comissão vai apurar caso Anísio Teixeira
Autor: Almeida, Amanda
Fonte: Correio Braziliense, 07/11/2012, Política, p. 4

Grupo do governo federal recebe dossiê e começa a investigar o suposto acidente que matou o ex-reitor da UnB em 1971. Especialista classifica a versão oficial de "idiota"

A Comissão Nacional da Verdade começou ontem a investigar a morte do educador Anísio Teixeira, encontrado no fosso de um elevador em 1971, no Rio de Janeiro. Diante de um dossiê entregue pela família da vítima, integrantes do grupo chegaram a classificar a versão oficial, de que houve um acidente, de "idiota". "Nunca vão nos convencer das versões idiotas, que foram absolutamente "me engana que eu gosto", dadas para esse crime", disse o professor de ciência política Paulo Sérgio Pinheiro.

O elevador em cujo fosso o corpo de Teixeira foi encontrado havia passado por manutenção 20 dias antes do suposto acidente que matou o ex-reitor da Universidade de Brasília (UnB). A informação consta no pacote entregue pela família às comissões da verdade do governo federal e da UnB, que também relata avisos de amigos, com trânsito entre os militares, de que o educador havia sido detido pela Aeronáutica antes de ser encontrado morto.

A audiência pública, ontem, na UnB, marcou também a assinatura de convênio entre as duas comissões, que dará ao grupo da universidade prerrogativas de investigação, como acesso a documentos sigilosos e poder de convocação de depoimentos. Segundo o presidente da comissão da UnB, que carrega o nome do ex-reitor, o caso será tratado como prioritário pelo grupo e os próximos passos são ouvir testemunhas e procurar documentos da época.

Teixeira é considerado um dos maiores educadores da história do Brasil, sendo defensor da democratização da educação e da escola laica. Ele iria visitar o ensaísta Aurélio Buarque de Holanda quando desapareceu. Três dias depois, foi encontrado morto no fosso do elevador de Holanda, a quem se apresentaria como candidato a uma cadeira da Academia Brasileira de Letras.

Embora a própria polícia tenha dito que as circunstâncias em que o corpo foi encontrado, entre duas vigas, sem paletó e sapatos, eram "estranhas", a morte acabou registrada como acidente. Teixeira era visto como comunista pelos militares e havia deixado a UnB justamente por pressões políticas. Emocionado, o filho dele, Carlos Teixeira, disse que a família não tocou as investigações por falta de crime durante a ditadura.

Participantes da reunião cobraram punições aos responsáveis por mortes durante o período militar. Pinheiro disse que, embora a comissão tenha como papel revelar a história, e não se tornar um tribunal, os casos registrados no relatório do grupo certamente "terão consequências".

A Comissão Nacional da Verdade também vai investigar a atuação das igrejas Católica e evangélica no regime militar. O grupo criado para a apuração se reunirá pela primeira vez amanhã, em São Paulo. "Ele irá estudar tanto o papel de resistência quanto o de colaboração à repressão", diz o coordenador da comissão, Cláudio Fonteles, acrescentando que o resultado constará em um capítulo do relatório final do grupo.

O coordenador do trabalho sobre as igrejas será o professor Paulo Sérgio Pinheiro. Ele contará com a assessoria de pesquisadores especialistas em sociologia, ciência da religião e história. Na semana que vem, é a vez da Guerrilha do Araguaia, ocorrida entre 1960 e 1970, entrar na pauta da Comissão Nacional da Verdade. Parte dos integrantes irá para o interior do Pará para obter informações sobre o assunto.

"Nunca vão nos convencer das versões idiotas, que foram absolutamente "me engana que eu gosto", dadas para esse crime" Paulo Sérgio Pinheiro, professor de ciência política