O globo, n.31428, 24/08/2019. Economia, p. 23

 

Dólar atinge R$ 4,12

Gabriel Martins 

Ana Paula Ribeiro 

Renata Vieira 

Gustavo Paul 

24/08/2019

 

 

A nova escalada da guerra comercial entre Estados Unidos e China levou o dólar comercial ontem a seu maior patamar em 11 meses. A moeda americana encerrou ontem e malta de 1,13%, a R$4,125. É a maior cotação desde 18 de setembro do ano passado, antes das eleições presidenciais, quando fechou a R$ 4,1417. Na máxima do dia, o dólar foi negociado a R$ 4,1315.

Logo cedo, caiu como uma bomba nos mercados a decisão da China de impor sobretaxas entre 5% e 10%, em um total de US$ 75 bilhões, sobre 5.078 itens dos EUA. Neste grupo estão produtos agrícolas como soja, petróleo, aviões de pequeno porte e carros. Parte entrará em vigor no mês que vem, parte em dezembro.

As novas taxas são uma retaliação contra as tarifas de 10% que o presidente Donald Trump vai aplicar a US$ 300 bilhões em produtos chineses.

‘NÃO PRECISAMOS DA CHINA’

Depois do anúncio da China, Trump subiu o tom. Nas redes sociais, afirmou que os EUA não precisam do país asiático. E ainda conclamou as empresas americanas que operam na China a “voltarem para casa” e fabricarem nos EUA.

“Nosso país perdeu, estupidamente, trilhões de dólares coma China durante muitos anos. Eles roubaram nossa propriedade intelectual a uma taxa de centenas de bilhões de dólares por ano e querem continuar. Eu não vou deixar isso acontecer! Nós não precisamos da China e, francamente, estaríamos melhor sem eles. As vastas quantias de dinheiro feitas e roubadas pela China dos Estados Unidos, ano após ano, durante décadas, irão e devem parar.”

No fim do dia, Trump anunciou que vai impor tarifas adicionais de 5% sobre os produtos chineses, em resposta ao que chamou de uma medida “politicamente motivada” do país asiático. E avisou que as taxas sobre US$ 250 bilhões, previstas para entrar em vigor em outubro, subirão de 25% para 30%. Já as tarifas sobre US$ 300 bilhões em itens da China, que começam a ser cobradas em dezembro, passarão de 10% para 15%.

“Infelizmente, governos passados deixaram a China ir muito além do comércio justo e equilibrado, tanto que ela se tornou um fardo para o contribuinte americano”, disse Trump numa rede social. não posso mais permitir que isso aconteça!”

Perguntado sobre como o Brasil deve se posicionar em meio à guerra comercial entre EUA e China, Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior do Brasil e sócio da consultoria Barral M Jorge, foi categórico:

— O Brasil não pode escolher um dos lados. Neste caso, o país precisa manter a neutralidade e seguir com seus acordos tanto com Pequim quanto com Washington.

O Ibovespa, principal índice da B3, recuou 2,35%, aos 97.656 pontos. Entre os papéis mais negociados, as ações preferenciais (PN, sem direito a voto) da Petrobras caíram 3,73%, e as ordinárias (ON, com voto), 3,75%. Já a Vale recuou 1,39%.

BC MANTERÁ VENDA DA MOEDA

Houve também queda forte nos papéis dos frigoríficos, devido ao temor de que países europeus tornem o Brasil alvo de sanções comerciais por causa das queimadas na Amazônia.

Os papéis dos frigoríficos BRF e JBS tiveram desvalorização de, respectivamente, 2,45% e 4,85%. Os papéis da Marfrig registraram perdas de 2, 44% e os da Minerva, 4,76%.

— Ainda não está claro se haverá ou não retaliação comercial contra o Brasil. De toda forma, em meio à apreensão do que pode acontecer, as ações dos frigoríficos caem — disse Ari Santos, gerente de renda variável da corretora H. Commcor.

O Banco Central anunciou ontem que manterá a estratégia de vender dólares das reservas no mercado de câmbio. Entre 2 e 27 de setembro, serão realizados leilões de swap reverso (equivalente à compra futura de dólares) e dólares à vista para rolar os swaps cambiais que vencem em 1º de novembro, que somam US$ 11,6 bilhões. Com isso, o BC sinaliza que garantirá a oferta de moeda americana e a liquidez do mercado.

Na Europa, as Bolsas de Frankfurt e Paris caíram 1,15% e 1,14%, devido à ação da China. Em Nova York, o índice Dow Jones perdeu 2,37%, e o S & P 500 recuou 2,59%. A Bolsa eletrônica Nasdaq caiu 3%.

Os investidores também repercutiram o discurso de Jerome Powell, presidente do Federal Reseve (Fed, o BC americano), no simpósio de Jackson Hole, que reúne presidentes de BCs e economistas de todo o mundo. Ele disse que a economia americana está em uma “posição favorável” e que o Fed irá “agir conforme apropriado”.

As declarações frustraram as expectativas dos investidores, que esperam sinais de novos cortes na taxa básica de juros dos EUA.

Com isso, o presidente do Fed voltou a ser alvo de críticas de Trump. Este afirmou, em uma rede social, que, os EUA têm “um dólar muito forte e um Fed muito fraco.” E alfinetou: “Minha única pergunta é quem é nosso maior inimigo, Jay Powell ou o Presidente Xi?”

Com agências internacionais