O Estado de São Paulo, n. 46086, 22/12/2019. Política, p. A10

 

Bolsonaro avalia Moro como vice na chapa 2022

Mateus Vargas

22/12/2019

 

 

Presidente defende ‘controle’ do Ministério Público ao citar investigação sobre Flávio: ‘Agora, se eu não tiver a cabeça no lugar, eu alopro’

Descontração. Presidente convidou jornalistas para visitar o Alvorada

O presidente Jair Bolsonaro avaliou abertamente ontem a possibilidade de uma chapa com o ministro da Justiça, Sérgio Moro, como seu vice nas eleições de 2022. Ele disse que é cedo para se apostar na composição com o ex-juiz da Operação Lava Jato. Mas afirmou que Moro, apesar de ainda não ter virado político, “está em adaptação”.

A menção a Moro acontece na semana em que seu filho, o senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ) foi alvo de busca e apreensão em investigação sobre suposto desvio de verbas na Assembleia Legislativa do Rio.

Segundo o presidente, “todo mundo fala” que o ministro, caso concorra à eleição presidencial de 2022, “tem muita chance”. “Agora, tem de perguntar pro Moro se ele quer, ele agora sabe o que é política.”

Ao mesmo tempo, Bolsonaro admitiu que, se for preciso, pode substituir o general Hamilton Mourão como candidato a vice. “Se eu estiver bem, posso ser candidato à reeleição. Questão do vice é peça fundamental na campanha. Mourão está indo bem. Agora, vamos supor que eu esteja razoavelmente bem e tenha que trocar essa peça: já falei com Mourão sobre isso aí.”

O presidente reconheceu que teve uma relação “tumultuada” com Mourão no começo do governo. Agora, segundo ele, isso está superado. Bolsonaro disse que Mourão “está indo muito bem”, mas que, se preciso, poderá escolher outro candidato a vice em 2022. “É uma pessoa bastante equilibrada e sensata. Até ele, se quiser, vamos supor que outro cara queira ser candidato a presidente e ele queira ser vice. Direito dele”, declarou.

A ideia de ter Moro como vice foi sugerida no começo do mês pelo ministro-chefe da Secretaria de Governo e amigo de Bolsonaro, Luiz Eduardo Ramos. Ao Estado, ele afirmou que a chapa seria imbatível. Bolsonaro afastou, então, a solução. Disse que estava casado com Mourão. “Sou sem amante.”

Convite. O nome de Moro volta ainda a ser mencionado depois que pesquisa Ibope mostrou que a avaliação negativa do governo cresceu de 34% para 38%, e sua aprovação oscilou de 31% para 29%. Pesquisas mostraram ainda que a aprovação de Moro é maior do que a do presidente. Ontem, Bolsonaro convidou jornalistas para uma visita ao Palácio da Alvorada, um dia depois de ofender repórteres na porta do local.

Na sexta-feira, Bolsonaro se exaltara ao ser questionado sobre a operação de busca que teve Flávio como alvo. Ontem, evitou elevar o tom de voz. Chegou a dizer que questionamentos sobre o processo não teriam réplica, mas acabou respondendo às perguntas. Na conversa, em tom informal, Bolsonaro usava uma camiseta do Flamengo e afastava moscas com tapas no ar. Ele disse que a condução da investigação contra Flávio pelo Ministério Público do Rio “está sendo um abuso” e que, se teve um “estardalhaço enorme”, pode ter sido por “falta de materialidade”.

“O processo tá em segredo de Justiça. Tá, né. Quem é que julga, o MP ou o juiz? Os caras vazam e julgam. Paciência, pô, qual a intenção, um estardalhaço enorme, será porque falta materialidade para ele? E que vale o desgaste agora? Quem está feliz com essa exposição absurda na mídia? Alguém está feliz com isso. Agora, se eu não tiver a cabeça no lugar, eu alopro”, afirmou.

E defendeu a necessidade de controle do Ministério Público. “É assim que deve se comportar o Ministério Público? Vou até fazer uma questão sobre o abuso de autoridade, vetos derrubados. Se chega esse ponto. Todo poder deve ter um controle. Não é só o Executivo. Quando começa buscar pelo em ovo, eu sou réu no Supremo. Já sofri muito.”

Bolsonaro disse que se controla ao falar com jornalistas e que a mídia o “provoca” para conseguir manchete. E que reflete sobre algumas declarações e se arrepende. Comparou a relação com a imprensa ao futebol: “Ali na frente, de vez em quando, você manda seu colega para a ponta da praia (base da Marinha que teria sido usada como local de tortura na ditadura). Depois vai tomar uma tubaína com ele”. Após ter dito a um jornalista que ele tinha “uma cara de homossexual terrível”, o presidente reconheceu o erro: “Não devia ter falado”.

Bolsonaro fez um balanço do primeiro ano de governo. “É uma vida sacrificante. Geralmente, é uma monotonia”, disse. E completou: “Tá difícil dia para ser feliz, cara. É só problema. A felicidade é que não tem aparecido nada sobre corrupção. Pode aparecer, nunca se sabe, né? Mas não apareceu nada.” 

Aproximações e rupturas 

“Eu não sou ameaça à democracia. A ameaça à democracia está do outro lado. A situação da Argentina preocupa. Por que o Evo Morales saiu do México e foi para lá? Onde ele está?”

“Alguns casos (indicações de políticos para cargos) foram atendidos. Não é porque é político que indicou que ele é mau caráter. Tem cara bom, indicado por isso. Tem a questão ideológica, que pesa na balança.”

“Que Witzel (governador do Rio)? Não era aliado meu. Ele era aliado do Flávio (filho). Você não vai ver uma foto minha.”

“Eu conversei com o (jornalista José Luiz) Datena. Sei que no passado ele tentou, mas, na última hora, desistiu. Tenho conversado com ele e ele tem o interesse (em ser candidato a prefeito de São Paulo em 2020).”

Jair Bolsonaro

PRESIDENTE

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'Um feliz Natal para você, mesmo sem carne para alguns'

Mateus Vargas

22/12/2019

 

 

Mensagem natalina do presidente diz que ele evitou o pior para o País; Bolsonaro quer aumento de faixa de isenção do IR

O presidente Jair Bolsonaro desejou ontem um “feliz Natal” aos brasileiros, “mesmo sem carne para algumas pessoas”. Ele deu a declaração após jornalistas lhe pedirem que enviasse uma mensagem de Natal.

Disse o presidente: “Vamos acreditar no Brasil, pessoal. Feliz Natal é um gesto, um simbolismo. Feliz Natal para você, mesmo sem carne para algumas pessoas aí, mas continua com a liberdade e temos outras opções. Outros países, que não tomaram a devida providência, as medidas na hora certa, hoje em dia não têm nem ovo. Nem cachorro tem para comer na Venezuela.” O país vizinho vive grave crise econômica e tem deficiência no abastecimento de alimentos e produtos.

Bolsonaro afirmou que, “do coração”, quer mudar o País para melhor e não há interesse pessoal em suas ações. “A gente está mudando isso aí. Algum efeito colateral acontece. Como tenho dito, reforma da Previdência é uma quimioterapia, não é fácil para muita gente ter seu tempo de serviço majorado, pensão diminuída, mas, se não fizer isso aí, quebraria o Brasil.”

Preço. O aumento das exportações de carne para a China e a menor oferta em razão da entressafra têm puxado para cima o preço da proteína animal desde novembro. Dos cinco alimentos da cesta de Natal cujos preços mais subiram, quatro são carnes. Depois do pernil (50,39%), filé mignon (46,49%), lombo suíno (24,2%) e picanha (22,88%) estão na lista das maiores altas. Os dados são de pesquisa sobre inflação dos produtos da cesta de Natal apurada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, nos últimos 12 meses.

Bolsonaro defendeu ainda o aumento da faixa de isenção para pagamento de Imposto de Renda, dos atuais R$ 1.903,98 para, pelo menos, R$ 3 mil já para 2020. “É opinião minha. O Tostes (José Barroso Tostes Neto, secretário especial da Receita Federal) que faz as projeções.” Para Bolsonaro, quem paga imposto de renda nesta faixa acaba recuperando depois na restituição com as deduções.

Por fim, o presidente disse ainda que prefere deixar “na mão do Paulo Guedes” a discussão de alternativas para desonerar a folha de pagamentos. “Não quero falar algo que possa constranger o Paulo Guedes amanhã por desconhecimento da minha parte. Eu que tenho que me alinhar a ele, não ele a mim. Ele que é meu patrão nessa questão, não eu patrão dele”, afirmou.

‘Patrão’

“Não quero constranger o Paulo Guedes amanhã por desconhecimento da minha parte. Eu tenho que me alinhar a ele, não ele a mim. Ele que é meu patrão nessa questão, não eu patrão dele.”

“As propostas de reforma tributária no Congresso estão avançadas e vão na linha do ‘Posto Ipiranga’.”

Jair Bolsonaro

PRESIDENTE