Título: Dilma opta pela discrição
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Correio Braziliense, 07/11/2012, Mundo, p. 22

Apesar da importância das eleições presidenciais na maior economia do mundo e da discreta preferência do governo brasileiro pela reeleição do democrata Barack Obama na disputa com o republicano Mitt Romney, a presidente Dilma Rousseff não alterou sua agenda para acompanhar a disputa americana. Em um dia na qual foi derrotada na votação da nova regra de distribuição dos royalties do petróleo e que terminou com um jantar para selar a parceria com o PMDB em 2014, Dilma foi informada do pleito nos Estados Unidos pelo ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, e pelo assessor especial para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia.

Ambos recebiam notícias dos desdobramentos eleitorais pela embaixada brasileira em Washington. Dilma orientou seus auxiliares para acompanhar de perto a eleição americana. O fluxo de informações intensificou-se ao longo dos últimos dias e foi constante ontem. Ninguém no governo, contudo, quis expressar torcida pelo democrata ou republicano. O argumento padrão é que, pelo espaço internacional conquistado pelo Brasil, não há como haver retrocessos nas relações bilaterais, independentemente de uma vitória de Obama ou de Romney. E que caberá ao cidadão americano escolher aquele que considerar o melhor representantes dos seus anseios.

Essa também foi a opinião da presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministra Cármen Lúcia, que presidiu as recentes eleições municipais brasileiras. Ela esquivou-se de comparar as duas disputas. “Eu sou mineira. Como posso fazer uma coisa dessa (comparar eleições nos Estados Unidos com as do Brasil)? Eu elogio a minha, a dos outros, nem pensar. Eu tenho certeza de que o cidadão norte-americano também saberá escolher o que for da conveniência dele e, da nossa parte, todos os processos eleitorais democráticos são bons exemplos para nós”, afirmou ela.

Aproximação Apesar da discrição, são nítidas as afinidades entre o atual governo brasileiro e a gestão de Barack Obama. O presidente democrata acabou desgastado com o ex-presidente Lula, mas Dilma buscou a reaproximação com os Estados Unidos, rompendo o “viés de esquerda” que imperava nas relações internacionais durante a gestão de seu antecessor. O primeiro passo nesse sentido foi a nomeação de Antonio Patriota como ministro das Relações Exteriores no lugar do chanceler Celso Amorim. Patriota foi embaixador brasileiro em Washington e é casado com uma americana, o que contribuiu com uma relação mais leve com a secretária de estado dos EUA, Hillary Clinton.

Além disso, Barack Obama é visto como um presidente que tem projetos econômicos “mais ambientalmente sustentáveis”. Romney, por exemplo, não descarta retomar os projetos de exploração no Alasca e disse em um dos três debates presidenciais que não vê problema nenhum na geração de energia com base no carvão. “Obama quer salvar o planeta. Eu quero salvar a sua família”, declarou ele, dirigindo-se ao eleitor que acompanhava o debate.

Guerras Do ponto de vista institucional, Obama também levaria vantagem sobre o seu concorrente republicano, na visão de diplomatas ouvidos pelo Correio. Ele seria bem mais “multipolar” e cioso do papel das organismos multilaterias, como Otan e ONU. Romney, por sua vez, poderia retomar o tom belicoso que marcou as gestões de Bush pai e Bush Filho, quando os Estados Unidos invadiram o Iraque duas vezes e iniciaram a guerra contra os talibãs no Afeganistão.

A grande incógnita ainda é a questão comercial. Nem Obama nem Romney destacaram, ao longo de toda a campanha presidencial, a América Latina como parceiro preferencial. O foco total está na Ásia e no Oriente Médio. No último debate presidencial, Romney chegou a afirmar que a América Latina, em volume comercial, é equivalente à China. Mas não passou daí.

Os republicanos, na opinião de especialistas internacionais, são menos protecionistas e mais pragmáticos nas relações comerciais, o que poderia ser bom para o Brasil. O viés social dos democratas, por exemplo, já causou problemas econômicos aos brasileiros. No auge do regime militar, o presidente democrata Jimmi Carter condicionou as relações comerciais entre os dois países ao respeito aos direitos humanos. A balança comercial Brasil-Estados Unidos despencou.

A opinião do Brasil

Vitorioso » Existe uma afinidade natural entra a presidente Dilma Rousseff e o democrata Barack Obama. Mas, oficialmente, o governo brasileiro afirma que não tem preferência

Meio ambiente » Os projetos de Obama são mais ambientalmente sustentáveis, na visão do governo brasileiro, do que os do Republicano Mitt Romney

Comércio exterior » Republicanos tendem a ser mais pragmáticos e menos protecionistas que Democratas. No último debate, Romney foi o único que incluiu a América Latina no radar econômico americano

Multipolaridade » Obama tem um perfil mais multipolar que Romney. Essa característica estende-se ao respeito às organizações internacionais como a ONU e a Otan