Título: Cúpula renova governo
Autor: Luna, Thais de
Fonte: Correio Braziliense, 07/11/2012, Mundo, p. 23

O 18º Congresso do PCC se reúne amanhã para sacramentar Xi Jinping na Presidência e Li Keqiang como primeiro-ministro do novo governo

Começa amanhã o 18º Congresso do Partido Comunista Chinês (PCC), que renovará a cúpula do partido e, consequentemente, o grupo de homens e mulheres que comandará o país nos próximos 10 anos. O grande nome do evento e da década será Xi Jinping, o atual vice-presidente e futuro substituto do chefe de Estado, Hu Jintao. Xi deve assumir a secretaria-geral do partido e, portanto, a Presidência do país em março de 2013. Li Keqiang, por sua vez, deve se tornar o novo primeiro-ministro, substituindo Wen Jiabao. Embora a escolha dos novos dirigentes tenha sido feita ainda em 2007, os desafios que eles devem enfrentar ainda estão sendo delineados. A segunda maior economia do mundo precisa manter seu crescimento anual de 10%, lidar com a pressão internacional por mudanças políticas e, desde o início do ano, abafar e resolver os escândalos de corrupção que envolvem o partido.

O PCC, último grande reduto comunista do mundo, depende do nacionalismo incondicional para manter o poder sobre uma sociedade que, gradualmente, está se tornando capitalista. Seus membros mais importantes são filhos de revolucionários chineses ou integrantes do alto escalão do partido e, por isso, recebem a alcunha de “príncipes”. O Comitê Permanente do Politburo, cujos nove integrantes concentram o poder do partido, é o órgão, que por meio de negociações, seleciona formalmente os próximos líderes nacionais. “A seleção é feita com base em interesses diversos. São conversas de bastidores, negociações em setores políticos e econômicos até que se chegue a uma decisão. Mas não se sabe exatamente como são essas discussões da elite da China, já que o governo é uma ditadura e seus membros controlam a mídia”, explicou o professor de política e economia internacional Jonathan Story, da faculdade de administração Insead (França).

Lidar com o crescimento acelerado do país, baseado na industrialização para exportação, associado aos problemas estruturais ligados ao setor de energia elétrica e alimentos, será uma tarefa difícil para os próximos presidente e primeiro-ministro. O economista e professor da Trevisan Escola de Negócios (São Paulo) Alcides Leite acredita que Xi e Li precisarão, em conjunto com as poderosas empresas estatais, diversificar a economia e se voltar mais para o mercado interno, investindo em saneamento e energia.

Como em qualquer processo de transição, Story destaca que a população pode receber a mensagem de que o governo estará mais aberto a mudanças políticas. Ele, porém, considera difícil que algo excepcional aconteça nesse sentido. “Ainda teremos que esperar por uma revolução.” Outros desafios serão combater a corrupção e as desigualdades sociais, que distanciam os ricos e as pessoas da classe média, com carros de luxo e consumidores de marcas caras, dos pobres, que nem sequer têm acesso a saneamento básico. Leite lembra que o inchaço das grandes cidades e as demandas de uma nação com classe média crescente — liberdade de expressão, por exemplo — vão levar a uma saturação cada vez maior do modelo comunista vigente. “Esse novo governo precisará de planejamento estratégico para executar uma abertura política, mesmo que lenta, mas gradual e contínua”, analisou.

Além disso, mesmo tendo controle sobre os meios de comunicação, os futuros dirigentes terão que lidar com uma opinião pública em expansão, que cada vez protesta mais e toma conhecimento, por meio da internet, de escândalos envolvendo grandes nomes do PC, como o do ex-secretário na província de Chongquing Bo Xilai e do premiê, Wen Jiabao. “A população ainda aceita essas situações, abafadas pela mídia oficial, porque a vida dos mais pobres está melhorando. Mas isso chegará a um limite”, acredita Leite. Bo investigado por uma série de acusações, entre elas corrupção generalizada, relações sexuais “impróprias” com várias mulheres e abuso de poder no caso do homicídio que envolveu sua mulher, Gu Kailai, e seu ex-chefe de polícia Wang Lijun. Wen, por sua vez, foi citado em matéria do jornal americano New York Times, que revelou que a família do primeiro-ministro teria acumulado, desde 2003, uma fortuna que chegaria a US$2,7 bilhões.

Conexões perigosas O empresário britânico assassinado por Gu Kailai, Neil Heywood, fornecia informações sobre a família de Bo Xilai ao serviço de inteligência de Reino Unido, o MI6. Heywood teria se reunido com um oficial do MI6 em 2009. Bo Xilai era cotado para integrar o Comitê Permanente do Politburo, mas os escândalos forçaram sua expulsão do PC e da Assembleia Nacional Popular (ANP)