Título: Compromisso reforçado com afagos e cobranças
Autor: Lyra, Paulo de Tarso ; Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 08/11/2012, Política, p. 6

Em meio a elogios ao PMDB, Dilma anuncia teste de lealdade a Renan Calheiros, futuro presidente do Senado: não vai aceitar emendas no projeto das concessionárias de energia

A presidente Dilma Rousseff avisou ao PMDB, durante jantar oferecido no Palácio da Alvorada na noite de terça-feira, que não vai intervir ou sugerir nomes para as disputas das mesas diretoras da Câmara e do Senado, em fevereiro. Mas defendeu o rodízio entre o PT e o PMDB para a presidência da Câmara. "Compromissos existem para serem cumpridos", declarou ela, aliviando a vida do deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), sempre assombrado pelo desejo dos petistas de romperem o acordo firmado no passado.

No Senado, não existem problemas, já que a regra implícita é a de que a maior bancada — no caso, o PMDB — tem o direito de indicar o presidente. O pré-candidato peemedebista, Renan Calheiros (AL), no entanto, ouviu um alerta de Dilma: a medida provisória que altera as regras das concessionárias de energia deve ser aprovada da maneira como foi encaminhada pelo Planalto. Renan é o relator da MP na Comissão Mista, o que a transforma no principal teste de fidelidade do líder ao Planalto. "Não é para aceitar nenhuma emenda que altere o conteúdo da proposta", exigiu a presidente, segundo apurou o Correio.

Dilma aproveitou para destacar a parceria PT-PMDB nos dois primeiros anos de seu mandato. Não confirmou diretamente, como se especulava anteriormente, a manutenção da aliança entre as duas legendas nas eleições presidenciais de 2014, mas sinalizou a importância da união em 2013. "PT e PMDB ajudaram o governo a ter várias vitórias ao longo destes dois primeiros anos", declarou.

A presidente também elogiou a atuação do PMDB nas eleições municipais, sobretudo em São Paulo e Belo Horizonte. Por diversas vezes, enalteceu o engajamento do deputado Gabriel Chalita (SP) na campanha vitoriosa do petista Fernando Haddad. "Ele se envolveu para valer, esteve presente em vários eventos de campanha", elogiou a presidente. "Chalita também foi importante para conquistar votos no eleitorado católico", completou o secretário-geral da Presidência, ministro Gilberto Carvalho.

Reforma As palavras de Dilma reforçam a tese de que Chalita só não se tornou ministro porque a reforma ministerial ainda não foi deflagrada pela presidente. Além das demonstrações de apreço públicos e em particular, Dilma não anunciou onde pretende encaixar o aliado. A principal hipótese, até por uma questão de afinidade com o setor, é o Ministério da Ciência e Tecnologia.

Dilma também enalteceu o comportamento do PMDB mineiro, que tinha um candidato competitivo à prefeitura de Belo Horizonte — o deputado federal Leonardo Quintão —, mas abriu mão da candidatura própria para indicar o vice de Patrus Ananias. Foi um pedido expresso de Dilma após o rompimento do PT com o PSB de Marcio Lacerda, que acabou reeleito prefeito. Segundo relato de alguns dos presentes, o presidente nacional do PMDB, senador Valdir Raupp (RR), aproveitou a deixa para pedir mais espaço para o PMDB mineiro. "Isso é um assunto que eu vou tratar depois", cortou a presidente.

Enquanto Dilma recebia a cúpula do PMDB, uma parte da bancada federal se reunia na casa do deputado Girotto (MS) e ameaçava, mais uma vez, descumprir as recomendações do comando partidário. Chegaram a cogitar lançar o próprio Girotto candidato avulso à presidência da Casa, mas recuaram da proposta. Juraram, em um périplo ao gabinete de Henrique Eduardo Alves, na manhã de ontem, fidelidade ao projeto do peemedebista potiguar. "Mas queremos ser ouvidos. O DEM começou a morrer quando Marco Maciel acomodou-se na cadeira de vice-presidente", comparou um integrante do grupo.