O Estado de São Paulo, n. 46075, 11/12/2019. Política, p. A4

 

Lava Jato apura contratos da Oi com filho de Lula

Pepita Ortega

Ricardo Brandt

Patrik Camporez

Fausto Macedo

11/12/2019

 

 

 Recorte capturado

 

 

 Investigação. Força-tarefa vê ligação entre R$ 132 milhões recebidos pela Gamecorp/Gol, empresa de Fábio Luís Lula da Silva, e dinheiro usado para comprar o sítio de Atibaia (SP)

Em sua 69ª fase, a Lava Jato investiga contratos da Oi/Telemar e da Vivo Telefônica com empresas controladas por Fábio Luís Lula da Silva, filho mais velho do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo o Ministério Público Federal (MPF), firmas de Fábio Luís receberam R$ 132 milhões entre 2004 e 2018 sem comprovar que prestaram serviços. Em troca dos repasses, as operadoras de telefonia teriam sido beneficiadas pelo governo do petista. Ainda de acordo com os investigadores, parte do dinheiro teria sido utilizada por sócios de Fábio Luís para comprar o sítio de Atibaia, que rendeu uma condenação a Lula.

A PF pediu a prisão temporária do filho de Lula e dos empresários Kalil Bittar e Jonas Suassuna, sócios do grupo Gamecorp/Gol, mas a juíza Gabriela Hardt, da 13.ª Vara Federal em Curitiba, responsável por autorizar a operação Mapa da Mina, negou a solicitação. Por ordem da juíza, agentes cumpriram 47 mandados de busca e apreensão em São Paulo, Rio, Bahia e Distrito Federal.

De acordo com o Ministério Público, há indícios de que parte dos R$ 132 milhões que a Gamecorp/Gol recebeu da Oi foi usada para comprar o sítio de Atibaia. A propriedade está no nome do empresário Fernando Bittar, sócio de Fábio Luís na Gamecorp, e é o pivô da segunda condenação de Lula na segunda instância da Lava Jato. Em novembro, o Tribunal Regional Federal da 4.ª Região sentenciou o ex-presidente a 17 anos e 1 mês de reclusão por corrupção e lavagem de dinheiro. Ele recorre em liberdade.

A Lava Jato afirmou que, paralelamente aos repasses à Gamecorp/Gol, a Oi/Telemar foi “beneficiada” pelo governo federal por meio de decisões no setor de telecomunicações. Citou como exemplo decreto assinado pelo então presidente Lula em 2008 que permitiu a aquisição da Brasil Telecom pela Oi/Telemar.

O procurador Roberson Pozzobon, da força-tarefa da Lava Jato, disse que “evidências indicam que o maior ativo que o grupo Oi/Telemar buscava na contratação da Gamecorp era o fato de que entre seus sócios estava o filho do então presidente da República”. “No mundo dos negócios, não há lanche grátis.”

Aletheia. As atividades da Gamecorp já foram alvo de investigações. Uma delas apurava possível tráfico de influência de Fábio Luís – ele teria recebido, em 2004, R$ 5 milhões da operadora de telefonia Telemar, atual Oi. O caso foi arquivado em 2012 por falta de provas.

A Mapa da Mina, no entanto, tem como base “novas evidências” colhidas na 24.ª etapa da Lava Jato, a Aletheia, que, em março de 2016, levou Lula para depor. Segundo a força-tarefa, contratos, notas ficais e dados extraídos a partir do afastamento dos sigilos bancário e fiscal dos investigados indicam que empresas do grupo Oi/Telemar contrataram a Gamecorp/Gol sem cotação de preços e “fizeram pagamentos acima dos valores contratados e praticados no mercado, assim como realizaram pagamentos por serviços não executados”.

Gabriela Hardt falou em “entrelaçamento societário” entre Gamecorp/Gol e Oi/Telemar. Além disso, a Receita aponta que, a Gamecorp “não possuía mão de obra e ativos necessários para produzir os serviços vendidos” para as empresas de telefonia. Quinze auditores fiscais da Receita participaram da operação.

A Mapa da Mina apura ainda “indícios de irregularidades no relacionamento” entre Vivo/Telefonica e Gamecorp/Gol no projeto Nuvem de Livros. A Procuradoria diz ter identificado movimentação suspeita de R$ 40 milhões entre empresas dos dois grupos entre 2014 e 2016.

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Ex-presidente classifica ação da PF de 'pirotecnia'

Pepita Ortega

Ricardo Brandt

Patrik Camporez

Fausto Macedo

Vinicius Neder

11/12/2019

 

 

Para petista, há uma perseguição contra ele e integrantes de sua família; empresas dizem colaborar com polícia

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou a ação da Polícia Federal. “O espetáculo produzido hoje (ontem) pela forçatarefa da Lava Jato é mais uma demonstração da pirotecnia de procuradores viciados em holofotes que, sem responsabilidade, recorrem a malabarismos no esforço de me atingir, perseguindo, ilegalmente, meus filhos e minha família”, disse o petista em uma rede social.

Segundo ele, investigações sobre o caso já foram arquivadas. “Os órgãos do Estado competentes para promover a análise e a investigação do assunto já atuaram e concluíram de longa data que Lula e seus familiares não cometeram qualquer ato ilícito”, escreveu ele no Twitter. Lula falou novamente em “perseguição ilegal”.

O grupo Gamecorp/Gol e o empresário Fábio Luís Lula da Silva não responderam aos contatos da reportagem.

Em nota, a Oi informou que “sempre atuou de forma transparente” e “tem prestado todos os esclarecimentos que vêm sendo solicitados, assegurando total e plena colaboração com as autoridades competentes”. O executivo da Oi Rodrigo Abreu disse, durante evento no Rio, que a gestão atual da empresa “não tem nada a ver com o passado”. No mesmo evento, o presidente da Oi, Eurico Teles, confirmou que vai deixar a companhia em janeiro. “É só pepino”, afirmou Teles.

A Telefonica/Vivo também declarou que está fornecendo todas as informações solicitadas. “A Telefônica reitera seu compromisso com elevados padrões éticos de conduta.”

As defesas dos outros citados não foram localizadas.

Defesa

“Os órgãos do Estado competentes já atuaram e concluíram que Lula e seus familiares não cometeram qualquer ato ilícito.”

Luiz Inácio Lula da Silva 

EX-PRESIDENTE DA REPÚBLICA