Título: Indústria ainda não saiu do atoleiro
Autor: Bancillon, Deco
Fonte: Correio Braziliense, 08/11/2012, Economia, p. 21

Em setembro, só o nível de emprego continuou aumentando nas fábricas. Apesar dos estímulos do governo, o faturamento caiu 6,5% e o número de horas trabalhadas recuou 5,4% em relação ao mesmo período de 2011 »

Mesmo com todas as medidas adotadas pelo governo para reaquecer a economia e desovar os estoques do setor produtivo, a indústria brasileira ainda não conseguiu reagir. Em setembro, de cinco indicadores que medem o desempenho do setor, apenas o que avalia o emprego nas fábricas mostrou avanço, ainda assim de mero 0,4%, em relação ao mesmo mês do ano passado. Em sentido contrário, registraram queda os índices de faturamento real (-6,5%), horas trabalhadas (-5,4%), massa salarial real (-0,6%) e rendimento médio real (-1%). Os números foram divulgados ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).

O grande problema do setor é que, apesar do consumo aquecido, incentivado pelas medidas de desoneração tributária do governo, a ociosidade continua elevada. Em setembro, a utilização da capacidade instalada (UCI) se manteve em 80,9%, o mesmo patamar registrado em agosto. Para o gerente executivo de pesquisa da CNI, Renato da Fonseca, o número reflete o mau momento do setor. “A recuperação da indústria, que todos estamos esperando para este último período do ano, está mais fraca, o que mostra que o resultado do ano pode ainda ser pior do que prevíamos”, disse.

Surpresa

A CNI estima que a indústria de transformação feche o ano em queda de 1,9%, mas esse número tende a ser revisado para baixo em dezembro, segundo Marcelo de Ávila, economista da entidade. Para que o recuo ficasse dentro do previsto seria necessário que a atividade das fábricas se expandisse 0,5%, a cada mês, de setembro a dezembro. Como isso não deve ocorrer, os números serão reavaliados, assim como outras previsões da CNI para a economia brasileira. O resultado fraco de setembro “surpreendeu” o setor, segundo Ávila. “O número veio bem mais fraco do que prevíamos”, contou.

Para Fonseca, medidas como a redução dos juros, a depreciação acelerada de bens de capital e as desonerações de tributos ajudaram a reduzir os problemas da indústria, mas, para que um resultado melhor fosse obtido, seria preciso atacar problemas estruturais. “Foram decisões tomadas para contrabalançar uma crise, para ter efeito imediato”, disse o gerente da CNI. “As medidas de curto prazo permitem respirar, mas você tem que acompanhar isso com políticas de longo prazo também”, cobrou.

PIB em baixa Até agora, a CNI avalia que o país crescerá apenas 1,5% neste ano, número mais pessimista do que as previsões do Ministério da Fazenda (2%) e do Banco Central (1,6%). Ainda assim, a projeção também deve ser revisada para baixo. “Precisamos ver o PIB do terceiro trimestre, que o IBGE divulgará em breve. Se o resultado vier pior do que imaginávamos, faremos uma revisão de todas as projeções para a economia brasileira”, disse Marcelo de Ávila.

Custo em alta

para a CNI, a indústria sofre por causa de fatores como câmbio desfavorável e mão de obra desqualificada e cara. “O grande problema é a competitividade”, diz Renato da Fonseca. “Nos últimos três anos, os salários cresceram muito mais do que a produtividade, portanto os custos aumentaram acima dos preços cobrados pelas empresas. Também é preciso levar em conta o impacto do real forte. Passamos cinco anos com o câmbio jogando contra a competitividade”, afirmou.