O Estado de São Paulo, n. 46072, 08/12/2019. Política, p. A12

 

Mais 2 índios são mortos no Maranhão

Paulo Beraldo

08/12/2019

 

 

Vítimas são de etnia guajajara e foram baleadas as margens de rodovia; após 3º caso em um mês, Moro fala em enviar Força Nacional

Dois índios da etnia guajajara morreram após atentado a balas ontem às margens da BR226, no município de Jenipapo dos Vieiras, no Maranhão, 500 quilômetros ao sul da capital São Luís. Em pouco mais de um mês, foram três vítimas na região. De acordo com a Fundação Nacional do Índio (Funai), os indígenas foram atingidos por tiros disparados por ocupantes de um veículo Celta, de cor branca e com vidros espelhados por volta das 14h30. Outros dois ficaram feridos.

Após a confirmação das mortes, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, lamentou o ataque e informou no Twitter que uma equipe da Polícia Federal havia sido enviada ao local para investigar o crime e suas motivações. “Vamos avaliar a viabilidade do envio de equipe da Força Nacional à região. Nossa solidariedade às vítimas e aos seus familiares”, escreveu Moro.

Em nota, a Funai também lamentou as mortes ocorridas na Terra Indígena Cana Brava, próxima da Aldeia El-Betel, e afirmou que enviou equipe à região, assim como fizeram as secretaria de Segurança Pública e de Direitos Humanos do Maranhão. Depois do atentado, como forma de protesto, os indígenas interditaram a rodovia nos dois sentidos e a passagem de veículos ficou bloqueada.

Episódios como o de ontem são recorrentes na região. No dia 1º de novembro, Paulo Paulino Guajajara foi morto em uma emboscada na Terra Indígena Arariboia (MA) quando realizava uma ronda contra invasões. Ele era um dos “guardiões da floresta”, índios organizados desde 2012 com auxílio da Funai para proteção das terras.

Há cinco anos que a escalada de violência em terras indígenas do Maranhão levou o Ministério Público Federal (MPF) a pedir na Justiça que as autoridades tomassem providências para evitar mais mortes. Atualmente existem ao menos quatro “guardiões” sob ameaça de morte na área e outros 20 em todo o Estado.

O governador Flávio Dino (PCdoB) já criou uma força-tarefa para garantir a segurança dos indígenas e mediar conflitos. Mas, segundo o governo, para funcionar plenamente a força-tarefa depende da União.

Para a líder indígena Sônia Guajajara é hora de dar um basta nessas mortes. “São casos articulados e fomentados por essa onda de incitação ao ódio em curso no Brasil”, disse.

A deputada federal Joênia Wapichana (Rede-RR), líder da Frente Parlamentar em Defesa dos Direitos dos Povos Indígenas, afirmou que a situação é urgente e ligou o aumento da violência à impunidade. “A violência está crescendo porque não há punição”, disse. Ela defendeu que a Polícia Federal e a Força Nacional atuem provisoriamente para garantir a segurança, mas pediu uma atuação contínua. “É essencial que se crie uma base de proteção contra essa violência orquestrada.”