O globo, n.31420, 16/08/2019. País, p. 10

 

Presidente da ANJ: governo retalia imprensa 

16/08/2019

 

 

Em sessão solene no Senado pelos 40 anos da entidade, Marcelo Rech, vice-presidente Editorial e Institucional do Grupo RBS, criticou a edição de Medida Provisória que desobriga a publicação de balanço de empresas em jornais

Plenário. Sessão para comemorar os 40 anos da Associação Nacional de Jornais: defesa da liberdade de imprensa

Em sessão solene no Senado pelos 40 anos da Associação Nacional de Jornais (ANJ), o presidente da entidade, Marcelo Rech, vice-presidente editorial e institucional do Grupo RBS, defendeu ontem a liberdade de imprensa e criticou a edição, pelo presidente Jair Bolsonaro, da medida provisória (MP) que desobriga a publicação de balanço de empresas em jornais. Para ele, é uma retaliação à imprensa.

— Agora, também aos olhos internacionais, o Brasil começa a ingressar no rol de países que usam instrumentos oficiais para retaliar veículos e intimidar a imprensa, como é o caso da Medida Provisória nº 892, de 5 de agosto passado, que cancelou, de uma hora para outra, a publicação de balanços em jornais —disse ele.

A MP estabelece que publicações obrigatórias devem ser feitas apenas pelos sites da Comissão de Valores Mobiliários( CV M ), da própria companhia e oda Bolsa, noca sode empresas de capital aberto.

Para o presidente da ANJ, aMP“nãoé só uma retribuição a jornais por sua cobertura crítica, como ironizou o presidente da República, é também uma afronta a este Congresso, que aprovou, em abril passado, uma nova e moderna legislação para a transição digital na divulgação de balanços”.

JORNALISMO PROFISSIONAL

Em seu discurso, o presidente da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), Paulo Ricardo Tonet Camargo, vice-presidente de Relações Institucionais do Grupo Globo, destacou o papel dos jornais na sociedade, pontuando que “nenhum Estado, nem ninguém, deve ter o poder de decidir sobre o que a sociedade deve ou não deve saber”:

— A população deve saber rigorosamente tudo e formar seu próprio juízo. O povo brasileiro tem senso crítico e o pleno direito de eleger seus governantes, escolher o que ver, ouvir, ler ou mesmo o que comprar sem interferência de quem quer que seja. Somente cidadãos livres e independentes garantirão ao nosso país uma democracia vigorosa e que tem se mostrado muito resiliente.

Tonet completou que “a pluralidade dos meios e a livre escolha por quem os acessa são fundamento essencial à liberdade de pensamento e formação das convicções”.

— Por esta razão, nunca o jornalismo profissional foi tão relevante e indispensável. Em tempos de mídias digitais e muitas vezes de desinformação, o nosso conteúdo tem, cada vez mais, a confiança da população. Pesquisas recentes apontam que os veículos de comunicação — TV, rádios, jornais e revistas, bem como suas extensões na internet — são os meios mais confiáveis no combate às notícias falsas porque têm mais credibilidade.

Para Rafael Menin Soriano, gerente jurídico do Grupo Globo e presidente da Associação Nacional de Editores de Revistas (Aner), o “remédio” para as “mentiras, boatos, desinformações e outras falsidades” que correm nas redes sociais é o bom jornalismo.

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Bolsonaro sobre Ancine: 'Se não houvesse mandatos, degolava tudo'

Fabiano Ristow

16/08/2019

 

 

O presidente Jair Bolsonaro disse ontem, num vídeo transmitido ao vivo nas redes sociais, que já teria “degolado tudo” caso a Ancine não “tivesse, em sua cabeça toda, mandatos”. A diretoria colegiada da agência tem três pessoas com mandatos de quatro anos.

Procurada, a Ancine não respondeu à declaração. O diretor-presidente do órgão, Christian de Castro, mantém o silêncio desde que Bolsonaro ameaçou extinguir a agência, em julho.

O presidente voltou a dizer que não vai impor censura no cinema brasileiro, mas criticou projetos aprovados para captação via Lei do Audiovisual ou por meio de editais. A maioria envolve temas como sexualidade.

Entre as obras citadas por Bolsonaro está o curta-metragem universitário “Afronte”, de Marcus Azevedo e Bruno Victor, um docudrama sobre a realidade vivida por negros e homossexuais do Distrito Federal. Foi exibido no Festival Mix Brasil de Cultura da Diversidade e no Festival de Brasília.

— Confesso que não entendi por que gastar dinheiro público com esses filmes. Não estou perseguindo ninguém. Cada um seja feliz como quiser. Mas gastar dinheiro público com isso... — afirmou, listando pelo menos outras três obras com temática LGBT, como “Religare queer”, série sobre uma “ex-freira lésbica”.