O globo, n.31419, 15/08/2019. País, p. 06

 

PGR: Bolsonaro adia escolha e avalia inteiro 

Aguirre Talento 

Jussara Soares 

Daniel Gullino

15/08/2019

 

 

O presidente Jair Bolsonaro adiou novamente a escolha do procurador-geral da República e passou a considerar novos nomes para o cargo. Prevista para ser definida até amanhã, a decisão deve ficar para as próximas semanas. A informação foi confirmada ao GLOBO pela Secretaria-Geral da Presidência, do ministro Jorge de Oliveira, um dos principais conselheiros do presidente no tema. Com isso, até a ideia de ter um interino no cargo é avaliada por Bolsonaro.

Durante visita ontem a Parnaíba, no Piauí, Bolsonaro falou sobre a dificuldade da escolha do nome.

— Eu tenho tempo ainda. Está difícil a escolha, tem muitos bons nomes — disse o presidente.

Bolsonaro tem afirmado que deseja uma pessoa “que esteja alinhada com o futuro no Brasil” e não seja “xiita na questão ambiental, na questão de minorias e na questão indigenista”.

—O prazo é aquele que melhor se adequar à seleção da melhor pessoa para este cargo, que é tão importante. Ele adiantou a sexta-feira como um deadline. Não obstante, se necessária for a extensão desse prazo, ele o fará com toda a tranquilidade, visto que o essencial é a seleção da pessoa que ocupará tão importante cargo — disse ontem o porta-voz da Presidência, Rêgo Barros.

O mandato da atual procuradora-geral, Raquel Dodge, termina no dia 17 de setembro. De acordo com auxiliares do presidente, o ideal era que a escolha fosse feita até um mês antes do fim período de Dodge no cargo para que houvesse tempo hábil de aprovar o nome no Senado e evitar uma interinidade no cargo.

Nos bastidores do Ministério Público, cita-se a possibilidade de que Bolsonaro não irá indicar um nome ao comando da PGR e pretende deixar a instituição sob a chefia de um interino. Pela legislação, o nome que assume interinamente o cargo de procurador-geral da República é o vice-presidente do Conselho Superior do Ministério Público Federal (MPF), que é o subprocurador Alcides Martins, eleito na última sexta-feira.

DISCRIÇÃO

O perfil de Alcides Martins agradou Bolsonaro: discreto e moderado, ele havia votado favoravelmente à indicação do procurador Ailton Benedito para a Comissão de Mortos e Desaparecidos. Essa indicação, porém, acabou sendo barrada pelo Conselho Superior. Chefe da Procuradoria da República de Goiás, Ailton Benedito é alinhado a teses conservadoras e era um nome desejado por Bolsonaro para a comissão.

Com um interino, Bolsonaro fica com uma carta na manga. Caso o PGR desagrade ao presidente, ele pode indicar um nome para ser nomeado definitivamente e substitui-lo, o que não existe no caso da nomeação definitiva de um PGR.

Antes favorito ao cargo, o subprocurador Augusto Aras perdeu pontos no Palácio do Planalto após passar a ser alvo de ataques dos parlamentares do PSL, que o classificaram de “esquerdista”. Bolsonaro reuniu-se durante esta semana com vários cotados para o cargo, dentre eles o mais votado da lista tríplice formada em uma eleição interna da categoria, subprocurador Mario Bonsaglia.

Outros dois que se encontraram com o presidente nesta semana foram o subprocurador José Bonifácio de Andrada, que foi vice-PGR de Rodrigo Janot e já foi advogado-geral de Aécio Neves (PSDB) no governo de Minas Gerais, e Antonio Carlos Simões Martins Soares, subprocurador que já cursou a Escola Superior de Guerra, instituição de estudos ligada ao Ministério da Defesa.

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Bonifácio de Andrada ganha apoio informal da Lava-Jato 

Aguirre Talento 

15/08/2019

 

 

Em meio à imprevisibilidade na escolha do novo procurador-geral da República, o nome do subprocurador José Bonifácio de Andrada foi bem recebido nos bastidores por integrantes e ex-integrantes das forças tarefas da Lava-Jato.

A avaliação dos investigadores da operação é que o cenário ideal seria que o presidente Jair Bolsonaro respeitasse a lista tríplice da categoria para garantir independência e transparência na escolha. Entretanto, como Bolsonaro tem sinalizado que não precisa seguir a lista, o nome de Bonifácio é considerado positivo para as investigações, pelo fato dele ter sido vice do ex-procurador-geral Rodrigo Janot no auge da Lava-Jato. Segundo os investigadores, Bonifácio conduziu com firmeza os casos criminais.

As forças-tarefas têm divulgado notas públicas de apoio à lista tríplice e, por isso, não se manifestarão em favor de Bonifácio. O apoio ao nome dele é apenas informal, nos bastidores do Ministério Público Federal (MPF).

— Se a decisão do presidente for rasgar a lista tríplice, Bonifácio é um bom nome para ser indicado — comentou um procurador, sob condição de anonimato.

O nome de Bonifácio ganhou força nos últimos dias, ao mesmo tempo em que o favorito, até então, o subprocurador Augusto Aras, sofreu forte desgaste no Planalto após ser atacado por parlamentares do PSL. Bonifácio foi recebido por Bolsonaro na última terça-feira.

LIGADO AOS TUCANOS

Pesa contra a indicação de Bonifácio, porém, sua ligação histórica com o PSDB — o subprocurador já atuou como advogado-geral da União na gestão Fernando Henrique e também como advogado-geral de Aécio no governo de Minas Gerais.

Outro ponto de desgaste, este perante ao próprio MPF, está o fato de que Bonifácio concorreu à lista tríplice e assinou um documento se comprometendo a respeitar o resultado e só aceitar uma indicação dos nomes que constam na relação.

Bonifácio foi o sétimo colocado na disputa interna, com 154 votos. O primeiro colocado da lista tríplice foi o subprocurador Mario Bonsaglia, com 478 votos. O candidato também foi recebido por Bolsonaro na última terça-feira.

Com a queda de Aras, os nomes de Bonifácio e de Bonsgalia foram considerados bem avaliados dentro do Palácio do Planalto. A decisão, porém, segue incerta.