Correio braziliense, n. 20526, 02/08/2019. Brasil, p. 5
Novo modelo para avaliar desmatamento
Simone Kafruni
02/08/2019
Após criticar os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que apontaram aumento de 88% no desmatamento da Amazônia em junho ante igual mês do ano anterior, o governo apresentou, ontem, estudos que contrariam o índice apurado pelo órgão. Além disso, será criado um novo modelo para avaliar a redução da Floresta Amazônica.
Segundo o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, a metodologia utilizada pelo sistema Deter, do Inpe, acumula ocorrências de outros períodos, por isso, a expansão de 88% não corresponderia à verdade. Apesar de não apresentarem o número que consideram real, o ministro e o presidente Jair Bolsonaro garantiram que o aumento no desmatamento foi muito menor.
Salles explicou que se reuniu com o ministro de Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, e as equipes do Inpe e do Ibama para analisar a questão. “De ontem para hoje, o número que vem sendo aventado é de 12% de aumento. Não queremos esconder a realidade. O desmatamento vem crescendo, mas é preciso fazer a real análise dos números”, explicou. “A fórmula adotada até agora não é a mais adequada. Para que a discussão possa ser feita de forma razoável, é preciso retirar um pouco do sensacionalismo que está por trás das divulgações”, afirmou.
Para confrontar os dados do Inpe, a apresentação do ministro focou o desmatamento do mês de junho de 2019, com base nas informações do Deter, a partir de um corte raso de 878,51 km² e 3.250 alertas de desmatamento. “Analisamos 500 dos 3.250 alertas, que representam 493 km², 56% da área total. E verificamos que 266 km² não ocorreram em junho de 2019, portanto, não corroboram o percentual de 88%”, justificou.
O governo anunciou que vai construir um novo modelo de monitoramento por imagens de alta resolução, com tempo diário, para evitar lapsos temporais que provocam “distorções muito grandes”. “Isso vai se somar ao trabalho do Deter, e vamos ajudar o Inpe, inclusive, a recompor o quadro técnico”, afirmou Salles. Segundo ele, quem faz a análise não são servidores, mas bolsistas, e há rotatividade grande. “Queremos um corpo técnico permanente, capacitado.”
Para a comunidade científica, que garante que o Brasil é referência em monitoramento do desmatamento, a postura do governo pode derrubar a credibilidade do Inpe em termos globais. Salles garantiu que as mudanças “não fragilizam a credibilidade do órgão”. “Ao contrário, são medidas para dar mais condições de trabalho, reconhecendo o grande papel que cumpre.”
Ameaça de demissão
Indagado sobre o futuro do diretor do Inpe, Ricardo Galvão, que contesta as críticas do governo, Bolsonaro afirmou que, “se ele quebrar a confiança, vai ser demitido sumariamente”. “Não tem desculpa para quem quer que seja divulgar um dado com essa importância para o Brasil. A perda da confiança é uma pena capital. Agora, teremos muita responsabilidade em identificar se houve ou não má-fé por parte dessa pessoa”, disse.