O globo, n.31418, 14/08/2019. País, p. 06

 

PGR: Aras enfrenta resistência da Lava-Jato

Thiago Herdy 

14/08/2019

 

 

Apontado como favorito ao cargo de procurador-geral da República (PGR) segundo o entorno do presidente Jair Bolsonaro, o subprocurador-geral Augusto Aras enfrenta a oposição dos integrantes das forças-tarefas da Operação Lava-Jato. A ampliação da movimentação de Aras nas últimas semanas, reforçada por encontros com o presidente e aliados do PSL, acendeu um alerta entre procuradores, que temem a descontinuidade das ações e da independência funcional da Lava-Jato sob sua eventual gestão.

Em contato com representantes do governo, os procuradores reforçaram nos últimos dias a defesa do respeito à lista tríplice da Associação Nacional de Procuradores da República (ANPR), votação da qual Aras se recusou a participar e que resultou na escolha de três nomes de preferência da categoria: Mário Bonsaglia, Luiza Frischeisen e Blal Dalloul.

A preocupação com o futuro da Lava-Jato foi levada ao ministro da Justiça, Sergio Moro, que também encampa a escolha para o comando da PGR a partir da lista tríplice. O ministro, no entanto, vem deixando de ser interlocutor de peso no governo em função do desgaste que sofreu após a divulgação de conversas atribuídas a ele e a integrantes do MPF, no período em que Moro era juiz da Lava-Jato em Curitiba.

Um dos principais entusiastas da campanha pró-Aras é o publicitário baiano e conterrâneo Fernando Barros, dono da Propeg, empresa que tem contratos com as principais estatais do país. A Propeg é citada pelo marqueteiro Renato Pereira, delator da Lava-Jato, como uma das intermediárias de um repasse via caixa dois de R$ 5 milhões da construtora Andrade Gutierrez para a campanha de Luiz Fernando Pezão ao governo do Rio de Janeiro, em 2014. Pereira também relatou ter direcionado à Propeg contratos de publicidade da prefeitura do Rio. A empresa de publicidade nega as acusações. O episódio é investigado no âmbito da Lava-Jato no Rio.

EM DEFESA DA LISTA TRÍPLICE

Em nota pública distribuída após o resultado da votação da lista tríplice ser divulgado, procuradores das forçastarefa das operações LavaJato, Greenfield e Zelotes defenderam a escolha de um dos nomes eleitos pela categoria. “Os três nomes que compõem a lista tríplice foram escolhidos pelos membros do MPF em processo democrático e transparente, que contou com a presença de 82,5% da categoria. A indicação de qualquer um dos três pelo presidente da República é o melhor caminho para a construção de um MPF fortalecido, a serviço do interesse público”, escreveram os procuradores na ocasião.

Em abril deste ano, o procurador aposentado Carlos Fernando dos Santos Lima, símbolo da Lava-Jato, foi o primeiro a se manifestar contra a candidatura de Aras, criticando o fato de o subprocurador conciliar o cargo com o exercício da advocacia. A medida foi uma reação a críticas públicas de Aras à independência funcional da Lava-Jato. Para o subprocurador, a força-tarefa teria contrariado a unidade e a indivisibilidade institucional do Ministério Público e, por isso, seria necessário encontrar uma maneira de manter “a casa dentro dos limites” em uma eventual nova gestão.

Ao ser questionado ontem sobre o que tem feito para reverter a oposição da Lava-Jato à sua candidatura, Aras mudou o tom do discurso. Em nota, informou que “apoia e sempre apoiou a Lava-Jato” e que a “considera um avanço civilizatório para o Brasil”. No mesmo texto, defendeu a adoção do padrão Lava-Jato em todas as atividades do MP, “por reconhecer na operação um exemplo de eficiência no combate à corrupção que responde à necessidade de mudança no país”. Aras caiu no gosto do bolsonarismo quando passou a fazer críticas públicas ao que chama de “posições radicalizadas e ideologizadas” do MPF sobre meio ambiente e cultura indígena.

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Bolsonaro recebe primeiro colocado da lista tríplice 

Jussara Soares 

Aguirre Talento 

14/08/2019

 

 

O presidente Jair Bolsonaro recebeu ontem, pela primeira vez, um candidato ao cargo de procurador-geral da República que compõe a lista tríplice. O subprocurador Mario Bonsaglia, primeiro colocado na votação organizada pela Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), foi levado ao Palácio do Planalto pelo ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência, Jorge Oliveira, que tem defendido conversas do presidente com todos os postulantes ao comando da Procuradoria. Não há previsão, porém, de que Bolsonaro receba os demais integrantes da lista tríplice, a subprocuradora Luiza Frischeisen e o procurador regional Blal Dalloul.

Ao deixar o encontro com Bolsonaro, Bonsaglia afirmou que o presidente “não fez questionamento ideológico nenhum”, mas defendeu um Ministério Público mais flexível nas questões ambientais. Segundo o subprocurador, Bolso na rores saltou a importância de tornara preservação da Amazônia e a proteção dos direitos indígenas compatíveis com o desenvolvimento sustentável.

— Essa é minha posição também —disse Bonsaglia.

Questiona dose o presidente, ao criticara atuação do Ministério Público no tema, interfere na atuação de outro órgão, o subprocurador respondeu que Bolso na rotem legitimidade par afazê-lo porque foi eleito com essas pautas:

—O cargo de procurador da República é designado pelo presidente da República, que é uma autoridade eleita em eleições realizadas democraticamente e, então, tem legitimidade para escolher em função das propostas que entende serem as mais corretas.

Ate então Bolsonaro havia conversado apenas com candidatos que correm por fora da lista. O presidente recebeu também ontem José Bonifácio de Andrada e Antonio Carlos Simões Martins Soares, subprocuradores que almejam o cargo sem ter disputado a eleição da ANPR.