O globo, n.31418, 14/08/2019. País, p. 10

 

Ascensão, queda e agora a disputa pelo passe do ex-ator 

Natália Portinari 

14/08/2019

 

 

A expulsão do deputado federal Alexandre Frota (SP) do PSL, ontem, marca o fim de um relacionamento turbulento com o bolsonarismo, que naufragou com a mesma intensidade com a qual deslanchou no ano passado.

Ex-ator convencional, pornô, apresentador, empresário, modelo e comediante, Frota foi escanteado pelos principais movimentos de direita nas manifestações de 2013. Assumiu o minúsculo Movimento Contra Corrupção e tomou gosto pela política em meio ao crescimento da nova direita no país. Agora, o deputado já tem convites para se filiar ao DEM e ao PSDB e ainda não indica qual pode ser sua decisão.

Frota passou a se promover nas redes sociais xingando políticos de esquerda, como o ex-deputado Jean Wyllys (PSOL), e até atrizes, como Cláudia Raia, com quem foi casado nos anos 1980. Compartilhou mais de uma vez vídeos violentos, em que policiais matavam suspeitos nas ruas, comemorando as mortes. No caso de Jean Wyllys, foi condenado por injúria e difamação por ter associado o então parlamentar à pedofilia.

Em 2018, foi convidado por Bolsonaro para se filiar ao PSL. Comprou a primeira briga por ter sido preterido na distribuição da verba do fundo eleitoral em São Paulo em relação a Eduardo Bolsonaro e outros candidatos, mas conseguiu se eleger com 155 mil votos.

Seguiu com as polêmicas que sempre o promoveram. Seu filho, a quem devia R$ 60 mil de pensão, disse em outubro que Frota queria que ele tivesse sido abortado, o que o deputado negou. Com esse episódio, ganhou milhares de seguidores.

Ao todo, durante a eleição, Frota triplicou a quantidade de pessoas que o acompanham no Twitter, de 50 mil para 150 mil. Nesta rede social, era dos mais ativos, chegando a publicar mais de cem vezes por dia em algumas ocasiões. No auge da lua de mel com Bolsonaro, o presidente disse que ele poderia ser ministro da Cultura.

ELOGIOS DE GUEDES E MAIA

Na Câmara dos Deputados, Frota quis ser um político tão aplicado quanto é polemista nas redes. Sempre ocupando uma cadeira no plenário, mesmo em dias esvaziados, chegou a presidir sessões e ganhou a simpatia do baixo clero e até de deputados de esquerda, como Alexandre Padilha (PT-SP), com quem trocou provocações quase amistosas na tribuna.

Afastou-se das discussões entre os colegas do PSL já nas primeiras semanas de mandato. Questionado sobre brigas entre a deputada Joice Hasselmann e o senador Major Olímpio, disse: “Quero que se foda”.

Passou a se destacar como articulador na reforma da Previdência. O ministro da Economia, Paulo Guedes, o elogiou publicamente por seu empenho nos trabalhos, assim como o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Chegava cedo nas reuniões, ajudou Maia no mapeamento de votos e passou a ser bem visto no PSDB.

A disputa com Eduardo Bolsonaro no diretório do PSL de São Paulo, porém, não parou nas eleições de 2018. Quando o filho do presidente assumiu a presidência da sigla no estado, Frota entrou com um pedido para que ele fosse afastado, alegando que Eduardo não frequentava as reuniões do partido.

Frota disse, também, que o diretório estadual é uma “milícia de ex-PMs”, e ridicularizou a possível indicação de Eduardo à embaixada do Brasil em Washington. O deputado compartilhou a foto de uma grelha de hambúrguer, em referência à experiência do filho do presidente nos EUA.

Ainda ligado à área audiovisual, na qual fez carreira por décadas, Frota criticou a ideia de impor um filtro ideológico às produções da Ancine, como quer Bolsonaro. A queixa veio após o deputado tentar, sem sucesso, emplacar um ex-assessor seu na diretoria do órgão.

NOTA 4

No início de agosto, deu nota 4 para o governo em entrevista a uma rádio e, para dar mais um recado a Bolsonaro, se absteve da votação em segundo turno da reforma da Previdência. Líderes de centro-direita, ainda impressionados com sua articulação na Previdência, já começavam a cogitar convidá-lo para mudar de partido.

—Ele fez para passar um recado, mas ele não prejudicou ninguém além dele mesmo —queixou-se a deputada Carla Zambelli (SP), a quem Frota chamou de “Louro José da vez”.

Os disparos de Frota contra Eduardo e Jair Bolsonaro eram o pretexto que Luciano Bivar (PE), presidente do PSL, queria para expulsar Frota, com quem nunca se deu bem. A toque de caixa, articulou o pedido de expulsão, redigido por ele mesmo, e convocou a Executiva da sigla para analisá-lo ontem.

Reunidos na sede do partido, o senador Major Olímpio (SP), o deputado Julian Lemos (PB), Bivar e outros decidiram em votação unânime expulsar Frota.

Após a expulsão, não apareceu na Câmara. Faltou à sessão ontem, apenas a segunda ausência em mais de 90 sessões neste ano.

—Ele é bem-vindo no partido, todo mundo gosta dele —diz Elmar Nascimento (BA), líder do DEM.