O globo, n.31417, 13/08/2019. Mundo, p. 23

 

Governo estuda rever Mercosul se aliado perder

Jussara Soares 

Eliane Oliveira 

13/08/2019

 

 

O presidente Jair Bolsonaro encomendou aseus assessores uma avaliação completa sobre a derrota do presidente Mauricio Macri, seu aliado, nas eleições primárias realizadas anteontem na Argentina. O tema será debatido hoje na reunião ministerial e deve ajudara definir o posicionamento do governo brasileiro.

Auxiliares do presidente ligados ao grupo ideológico já defendem, inclusive, rever a participação do Brasil no Mercosul diante de uma eventual vitória de Alberto Fernández, quete ma ex-presidente e senadora Cristina Kirchner como vice. Por sua vez, a alamais conservadora do Planalto entende que é preciso aguardar os desdobramentos da eleição no país vizinho e evitar posicionamentos precipitados.

‘VOTO DE CONFIANÇA’

Assessores do Planalto lembram que Bolsonaro sempre se posicionou contra o bloco, mas reviu a opinião a ose aproximar de Ma cri. Em caso de vitória kirchnerista, eles defendem que o novo presidente demonstre“disponibilidade de fazer concessões” para a permanência do Brasil.

Um assessor do Planalto rela touque Bolsonaro tem afirmado que o Brasil deu“voto de confiança ao Mercosul devido à boa vontade demonstrada por Macri e outros presidentes”, mas pode voltar atrás. Isso, no entanto, segundo o mesmo auxiliar, não significaria romper relações comerciais coma Argentina, mas optar apenas por negociações bilaterais para avançar na agenda de abertura comercial.

Macri e Bolsonaro têm em comum um projeto de reduzir pela metade, a partir do ano que vem, as alíquotas de importação da Tarifa Externa Comum (TEC) usada pelo Mercosul no comércio com países que não fazem parte do bloco. Na hipótese de a chapa de Cristina vencer e decidir não embarcar no projeto, o Brasil poderá seguir sozinho no processo de abertura comercial.

— É sempre complicado um processo eleitoral em um país do Mercosul onde a chapa eleita não esteja totalmente alinhada com a estratégia estabelecida pelos sócios — disse o secretário de Comércio Exterior do Ministério da Economia, Lucas Ferraz, que admitiu a possibilidade de o Brasil reduzir unilateralmente suas tarifas, embora não seja um processo simples. Mexer com as alíquotas sem a concordância dos demais sócios seria o fim da TEC, mas não do Mercosul, observou o secretário.

— O que estaria em discussão seria a flexibilização das regras do bloco, o que permitira ao Brasil seguir sozinho e acabaria com a TEC. Mas isso não significaria o fim da área de livre comércio —afirmou. Para a ala que defende um afastamento, o Brasil poderia buscar um acordo bilateral com a União Europeia.

O Brasil assumiu a presidência pró-tempore do bloco em julho durante a cúpula do Mercosul em Santa Fé, Argentina, prometendo modernizar regulamentos sobre produção e comercialização de bens, e buscar relevância no cenário internacional. De crítico do Mercosul durante sua vida parlamentar, Bolsonaro passou a defensor do bloco, mas pregando um “Mercosul 2.0”.