Título: O mel e o fel da Copa de 2014
Autor: Al,eida Amanda
Fonte: Correio Braziliense, 05/11/2012, Política, p. 5
Prefeitos eleitos das cidades sedes do Mundial têm a missão de acelerar as obras ou correm o risco de um desgaste político. Dos R$ 27,4 bilhões previstos, somente R$ 3,3 bilhões foram executados até agora
A pouco mais de um ano para a Copa do Mundo de 2014, prefeitos recém-eleitos para comandar as cidades sedes já demonstram preocupação com o atraso das obras. Diante da impossibilidade de cumprir compromissos firmados, alguns já anunciaram que vão rever os empreendimentos previstos para o evento e fazem o cálculo político do recuo. Garantia de vitrine para futuros voos eleitorais, as realizações do Mundial podem acabar, no fim das contas, virando fonte de desgaste.
Anunciado como sede em 2007, o Brasil prevê investimentos de R$ 27,4 bilhões nas cidades sedes — definidas em 2009. O valor pode garantir obras importantes para a população, como a ligação entre o Aeroporto de Congonhas e a rede metroferroviária de São Paulo, por meio do monotrilho. Mas, para transformá-las em vitrine, os prefeitos terão de correr contra o tempo. Por ora, segundo o Portal da Transparência da Copa do Mundo, somente R$ 3,3 bilhões foram efetivamente executados. O restante está em obras em fase de projeto, licitação ou contratação.
O atraso de intervenções está entre as preocupações de Gustavo Fruet (PDT), eleito em Curitiba. "Já conversei com o ministro do Esporte Aldo Rebelo para ficar a par da situação da cidade. Existem obras atrasadas, outras que nem começaram", relata. Para ele, ainda há tempo de concluir a maioria das intervenções. Outras, porém, como a construção do Anel Metropolitano, só ficarão prontas depois do Mundial. "A copa é, sem dúvidas, uma importante marca para a gestão. Mas não vejo como potencial eleitoral. Não pleiteio o governo do estado em 2014", diz Fruet, que pode disputar a reeleição em 2016.
Em Manaus, o prefeito eleito, ex-senador Arthur Virgílio (PSDB), e o governador do Amazonas, Omar Aziz (PSD), também já anunciaram que duas obras de mobilidade urbana não serão entregues até o evento. Uma linha de monotrilho e um sistema de corredores exclusivos para ônibus (BRT) foram retirados da Matriz de Responsabilidades do Mundial, assinada em 2010. As duas intervenções deixaram o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) da Copa e passaram a integrar o PAC da Mobilidade. Agora, os dois discutem como contornar o problema viário da capital até 2014.
Holofote eleitoral Com a missão política de fortalecer o partido para as eleições estaduais de 2014, Mauro Mendes (PSB), o prefeito da Copa em Cuiabá, também calcula os atrasos e promete criar um programa de aceleração das obras. Para o presidente estadual da legenda, deputado federal Valtenir Pereira, o Mundial pode ser um bom holofote, mas também uma marca negativa. "É um momento histórico. E o prefeito que está à frente dessas cidades tem esse privilégio. Mas, se não conseguir organizar a capital para recebê-la, pode estar liquidado."
Os investimentos da Copa já tiveram sua parcela de contribuição na disputa eleitoral deste ano. Em Belo Horizonte, embalaram a campanha de reeleição do prefeito Marcio Lacerda (PSB). Embora diga que pretende ficar os próximos quatro anos à frente da prefeitura, ele é um dos potenciais candidatos ao governo de Minas Gerais e pode, mais uma vez, ser beneficiado pelas mudanças conquistadas no evento.
No Rio de Janeiro, os planos do prefeito reeleito são outros. "Eduardo Paes (PMDB) quer se consagrar como o prefeito do Mundial e das Olimpíadas de 2016. Não pretende disputar o governo do Rio em 2014. A ideia é se fortalecer para 2018, numa briga pelo governo estadual ou a Presidência da República", diz um correligionário do mandatário.