Título: Vitória da investigação
Autor: Cipriani, Juliana
Fonte: Correio Braziliense, 04/11/2012, Política, p. 4
Quatro políticos que ganharam visibilidade na CPI dos Correios vão comandar capitais importantes
Enquanto os envolvidos no maior escândalo da história política brasileira ficam cada vez mais perto de saber quanto tempo vão cumprir na cadeia, depois da condenação em série pelo Supremo Tribunal Federal (STF), quatro dos parlamentares que ganharam notoriedade durante a CPI dos Correios, que investigou o mensalão em 2005, vivem dias de glória. Em janeiro, vão assumir as prefeituras de importantes capitais brasileiras: Arthur Virgílio (PSDB), em Manaus; ACM Neto (DEM), em Salvador; Gustavo Fruet (PDT), em Curitiba; e Eduardo Paes (PMDB), no Rio de Janeiro. Eles se tornaram estrelas do mundo político atuando pela punição dos envolvidos no esquema de compra de votos no Congresso. Agora, sete anos depois, medem as palavras antes de falar sobre os condenados. Assumem os cargos com uma lupa da sociedade sobre si por terem atuado na revelação das provas que ajudaram nas condenações no maior julgamento penal da história do STF sobre um caso de corrupção.
Os quatro chegam ao Executivo com histórias diferentes. Um dos mais exaltados críticos — à época era líder do PSDB no Senado —, Arthur Virgílio (PSDB) se elegeu prefeito de Manaus derrotando a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB), que teve o ex-presidente Lula em seu palanque. A briga particular com o ex-presidente foi tensa. Lula encarou como projeto pessoal derrotar Virgílio na capital amazonense. Isso porque desde as denúncias do mensalão o tucano o atacou por todos os flancos. Chegou inclusive a ameaçar o petista com uma surra.
ACM Neto também continuou na oposição. Derrotou em Salvador Nelson Pelegrino, do PT. Na campanha, se desculpou por um episódio da CPI explorado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), na campanha do adversário. É que durante as investigações, o democrata disse que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) o estaria grampeando e que, a exemplo de Arthur Virgílio, também seria capaz de dar uma surra em Lula. Agora eleito, o discurso é outro: diz buscar uma relação harmoniosa com a presidente Dilma Rousseff.
Gustavo Fruet e Eduardo Paes tiveram trajetórias diferentes. Ambos eram do PSDB e migraram para partidos aliados do PT nacionalmente. Fruet seguiu para o PDT para disputar a Prefeitura de Curitiba e venceu Ratinho Junior (PSC) com o apoio do PT de Lula. Paes aderiu ao PMDB sob protestos em outubro de 2007, quando era secretário do governo do peemedebista Sérgio Cabral no Rio. Em sua reeleição para a Prefeitura do Rio de Janeiro, Paes, que em 2005 chegou a sugerir que os caras-pintadas voltassem às ruas (em referência ao processo de revolta popular que levou ao impeachment de Collor), teve fartas aparições de Lula e da presidente Dilma Rousseff (PT) em sua propaganda eleitoral.
Como subrelator de movimentações financeiras da CPI, Fruet na época disse que tentar negar o mensalão do PT era tentar negar os fatos. Hoje não se importa em ter o PT como aliado. "O mundo não é tão simples, como se fosse dividido entre partidos do bem e do mal. É um pouco mais complexo. A realidade dos municípios é totalmente diferente da nacional", afirmou.
Arthur Virgílio garante que continua opositor do PT, mas admite que as relações terão de mudar, já que é prefeito eleito de Manaus. "Agora a preocupação não é tanto fazer oposição e sim governar. Quero ter uma relação correta, republicana, com a presidente Dilma, porque ela tem obrigações com Manaus e eu tenho obrigações com a cidade. Então, vamos ver a melhor forma de cumprirmos com elas juntos", disse. Para ele, ACM Neto, que também não mudou de partido, não cometeu vacilos na campanha eleitoral. Já sobre Fruet e Paes, que tiveram apoio dos petistas, ele preferiu não comentar.
Por onde andam Delcídio do Amaral (PT-MS) O petista, que foi presidente da CPI dos Correios, continua atuando como senador. É cotado para concorrer ao governo de Mato Grosso do Sul em 2014. Participou das campanhas petistas no seu estado e apoiou o vencedor em Campo Grande, Alcides Bernal (PP).
Osmar Serraglio (PMDB-PR) Relator da CPI dos Correios que balizou as acusações da Procuradoria Geral da República, entregou o texto final sobre o mensalão no início de 2006. Em 2009, tentou ser presidente da Câmara dos Deputados, mas acabou abandonando a candidatura em favor de Michel Temer. É atualmente deputado federal. Você se lembra?
“Foi delegação do Lula. incompetência e a omissão s vezes fazem um mal para o Brasil pior do que a corrupção. sob esse aspecto o presidente responsável sim” Gustavo Fruet, em agosto de 2005, em entrevista sobre a CPI dos Correios
“Estou dizendo aqui que, na melhor das hipóteses, senhor Lula, o senhor é um idiota; na pior, o senhor é um corrupto. Chega dessa história de Lula ão saber das coisas” Arthur Virgílio, em 14 de julho de 2005, da tribuna do Senado
“O presidente da República, ou qualquer um dos seus que tiver coragem de se meter na minha frente, assim como disse o senador Arthur Virgílio, tomará uma surra. Não me intimido. Tenho coragem e vou até o fim. Não mexam com os meus nem comigo, porque estou pronto para me defender” ACM Neto, em novembro de 2005