Título: Frustração na ONU
Autor: Tranches, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 05/11/2012, Mundo, p. 12

O Brasil e a América Latina passaram praticamente despercebidos durante a campanha presidencial dos Estados Unidos. Enquanto a região foi citada pelo candidato republicano Mitt Romney para atacar a China, o Brasil apareceu, com elogios, na plataforma democrata. Mas os candidatos não foram além. Nenhum dos fatores sinaliza para mudanças imediatas da política de Washington para a região ou para os temas de interesse do Brasil. O apoio às aspirações brasileiras por um assento no Conselho de Segurança da ONU, por exemplo, não veio. Ainda assim, o Itamaraty considera que houve avanços na agenda bilateral.

No último debate com Obama, Romney afirmou que priorizaria o mercado na região como um contraponto econômico à China. Na avaliação da professora de relações internacionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Cristina Pecequilo, a menção do republicano pareceu puramente eleitoreiro. Ao mesmo tempo em que tentou agradar os latino, mirou os trabalhadores americanos, com os ataques à China. "Os republicanos aparentemente têm um discurso mais liberal, com a abertura de mercado. Mas, quando chegam à Casa Branca, enfrentam o lobby de setores protegidos na política interna, o que leva a um travamento da pauta", afirma Cristina.

Por outro lado, o Brasil foi citado na plataforma de governo democrata e na Estratégia de Segurança Nacional de Obama de 2010. "A liderança do Brasil é bem-vinda e buscamos ir além das ultrapassadas divisões Norte-Sul para progredir em questões bilaterais, hemisféricas e globais", dizia a estratégia, que substitui a doutrina Bush. Mas a esperança de um apoio norte-americanopara as aspirações do Brasil de inclusão no Conselho de Segurança nunca se concretizou. Algo que na avaliação de Pecequilo pode até ser que ocorra em meados de um eventual segundo mandato de Obama. Até lá, o fato seguiria usado por sua administração como uma estratégia para quebrar as alianças entre os emergentes — por isso, o apoio à Índia —- e para coptar aliados.

Para a embaixadora Vera Lúcia Machado, o desempenho do Brasil como membro rotativo na instância máxima da ONU mostrou a importância do país para ocupar a vaga. Mais do que o "apreço", como se referem os EUA ao tratar do fato, o Brasil "tem esperança" de que Washington "aceite seu pleito". O diretor da Divisão de EUA e Canadá e Assuntos Interamericanos do Itamaraty, Carlos Henrique Moojen de Abreu e Silva, destacou que houve avanços nos últimos anos nas relações com os americanos, como os diversos acordos na área de educação e de energia e a celeridade no processo de emissão de vistos aos brasileiros. Esse último, com o "genuíno interesse no turismo brasileiro". Mas a aguardada isenção desta exigência, porém, ainda parece longe de ocorrer. Segundo Silva, existem questões técnicas e de segurança que vão além da vontade política de acabar com o visto. (RT)