O Estado de São Paulo, n. 46126, 31/01/2019. Política, p. A4

 

Saída de auxiliar e perda de funções enfraquecem Onyx

Tânia Monteiro

Julia Lindner

Adriana Fernandes

31/01/2019

 

 

Ministério. Integrantes do governo falam em ‘fim da linha’ para ministro da Casa Civil após segunda demissão de Santini e retirada de programa de privatizações de sua pasta

O esvaziamento das funções da Casa Civil e a demissão de assessores da pasta, anunciados ontem pelo presidente Jair Bolsonaro, foram vistos por integrantes do governo como o “fim da linha” para o ministro Onyx Lorenzoni. O comportamento do ministro tem incomodado não apenas o presidente, mas seus colegas de Esplanada, que o acusam de fazer a velha política, ao usá-los para atender a demandas do baixo clero do Congresso, e de ter indicado para o governo nomes que viraram dor de cabeça para seu chefe, como o ministro da Educação, Abraham Weintraub.

Bolsonaro decidiu ontem tirar das mãos de Onyx o Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), que cuida das privatizações de estatais e concessões, uma das grandes vitrines do governo. O programa havia migrado para o guarda-chuva da Casa Civil em julho do ano passado, como uma espécie de “prêmio de consolação” após Onyx perder a articulação política do Planalto. Agora, foi transferido para o Ministério da Economia, comandado por Paulo Guedes.

Sem o PPI e sem a articulação política, Bolsonaro deixou a Casa Civil totalmente esvaziada.

A situação se agravou após o vai e vem envolvendo o agora ex-secretário executivo da pasta, Vicente Santini, braço direito de Onyx. Ele havia sido demitido publicamente por Bolsonaro na terça-feira após ter utilizado um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para ir à Europa e à Ásia. Na quarta-feira, foi readmitido em outra função. Ontem, voltou a ser exonerado.

A segunda demissão de Santini ocorreu após críticas que Bolsonaro recebeu nas redes sociais e foi decidida após Bolsonaro receber a informação de que o assessor de Onyx usou o nome do ministro Paulo Guedes para justificar sua polêmica ida a Davos num avião oficial, o que custou aos cofres públicos ao menos R$ 740 mil. Ao checar a história, o presidente descobriu que foi enganado.

Para Bolsonaro, Santini disse que foi a Davos, a pedido de Guedes, ajudar na defesa do PPI. Para Guedes, o assessor afirmou que viajou a mando do presidente. Ao saber das versões, Bolsonaro teria ficado possesso: “Mentiroso!”. O que nenhum interlocutor explica é por que, mesmo assim, Santini foi recontratado na quarta-feira.

Um dos primeiros apoiadores de Bolsonaro antes da eleição, Onyx coordenou a transição do governo no fim de 2018. Depois, na Casa Civil, acumulava a articulação política e a Subchefia de Assuntos Jurídicos (SAJ), por onde passam as principais decisões do governo.

Na metade do ano passado, Bolsonaro tirou a articulação de Onyx e a passou para a Secretaria de Governo. Já a SAJ foi transferida para a Secretaria-Geral da Presidência. Considerado um “prêmio de consolação”, Onyx ganhou o PPI, que agora foi para a Economia. A secretária especial do PPI, Martha Seillier, também está na corda bamba, embora tenha apoio do ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas, para se manter no cargo.

Coordenação. Em outro foco de desgaste, o ministro da Casa Civil tem recebido críticas nos bastidores por não coordenar a atuação de todas as pastas da Esplanada, o que também seria sua função. Um sinal de que Bolsonaro está insatisfeito com o trabalho foi o fato de ter passado o Conselho da Amazônia, no início do mês, para o vice-presidente Hamilton Mourão.

Para integrantes do governo, apesar de a situação de Onyx ser a mais grave, as mudanças na Casa Civil anunciadas ontem por Bolsonaro são vistas como um prenúncio de uma possível minirreforma ministerial.

Diante do esvaziamento de sua pasta, Onyx decidiu antecipar seu retorno ao Brasil e, segundo apurou o Estado, tem a expectativa de se reunir ainda hoje com Bolsonaro. Oficialmente, o ministro só voltaria ao trabalho na segunda-feira, após duas semanas nos Estados Unidos. Procurados, Onyx e Santini não responderam.

CRONOLOGIA

Turbulências na gestão

10 de janeiro Luz para as igrejas

Estado revela que Bolsonaro estuda conceder subsídio na conta de luz para templos religiosos de grande porte. Medida desagrada à equipe econômica e presidente desiste.

16 de janeiro Goebbels

Então secretário da Cultura, Roberto Alvim cita trechos de discurso do ideólogo nazista Joseph Goebbels em vídeo institucional. Pressionado, presidente o demite.

22 de janeiro Segurança Pública

Bolsonaro avalia recriar Ministério da Segurança Pública e gera atrito com Moro. Presidente recua.

27 de janeiro Casa Civil

Bolsonaro demite número 2 da Casa Civil, Vicente Santini, que utilizou uma aeronave da FAB para se deslocar até Nova Délhi, na Índia. Santini é readmitido em outra função um dia depois. Ontem, Bolsonaro anunciou sua segunda demissão.