O Estado de São Paulo, n. 46125, 30/01/2020. Metrópole, p. A18

 

Brasil tem 9 suspeitas de coronavírus; cidade de SP isola 2 crianças e 1 adulto

Fabiana Cambricoli

Marlla Sabino

30/01/2020

 

 

Saúde. Possíveis infecções estão em seis Estados e ministério diz que não haverá bloqueio de brasileiros que voltem da China, onde se concentra a maioria dos casos. Doença já causou 170 mortes e atinge pelo menos 17 países. OMS vai decidir hoje se declara emergência

O Ministério da Saúde informou ontem a existência de nove casos suspeitos de infecção pelo novo coronavírus em seis Estados do Brasil, mas não há confirmação de nenhum deles. Entre os possíveis infectados estão três pacientes da cidade de São Paulo, dois deles são crianças. Na China, houve 170 mortes pela doença, que também foi confirmada em outros 16 países, de quatro continentes. Hoje, a Organização Mundial da Saúde (OMS) vai se reunir outra vez com o comitê de especialistas para decidir se declara emergência internacional.

No total, o Ministério da Saúde foi notificado de 33 casos, mas 20 foram excluídos por não se enquadrarem nos critérios da OMS e não foram considerados nem registros suspeitos. Só pacientes com sintomas como febre, tosse e dificuldade para respirar e com histórico de viagem para a China nos últimos 14 dias são incluídos no balanço oficial. Houve ainda quatro casos suspeitos, que acabaram descartados pela pasta ontem: três no Rio Grande do Sul e um no Paraná.

Os nove pacientes sob investigação estão sendo monitorados e ficarão isolados até a divulgação do resultado dos exames. Os casos suspeitos no País foram registrados em São Paulo, Minas , Santa Catarina, Paraná, Rio e Ceará.

A Secretaria da Saúde paulista informou que todos os três registros em investigação no Estado de São Paulo são da capital – dois irmãos, de 4 e 6 anos, e um adulto de 33. Os três passam bem e estão em isolamento domiciliar. A nacionalidade dos pacientes não foi informada.

Uma das crianças, o menino de 6 anos, retornou da China no dia 19 e apresentou febre e tosse no dia 28. A mais nova, uma menina de 4 anos, não esteve no país asiático, mas teve contato com o irmão e apresentou os mesmos sintomas. Eles foram atendidos no Hospital Infantil Cândido Fontoura, na zona leste, e depois levados para acompanhamento domiciliar.

Já o homem de 33 anos voltou da China no dia 20. Apresentou febre, tosse e dor de garganta e foi atendido em um hospital privado, segundo a secretaria. “Os familiares estão orientados com relação às medidas necessárias para se prevenirem, como uso de máscaras, higienização das mãos e não compartilhamento de objetos de uso pessoal”, informou a pasta. O resultado dos exames deve ser divulgado nos próximos dias.

Segundo Helena Sato, diretora da Vigilância Epidemiológica da secretaria, apesar dos casos suspeitos no Estado, não há motivo para pânico. “Temos de lembrar que os casos não estão confirmados ainda. Mesmo assim, o que temos de dados neste momento sobre o novo coronavírus é que ele não tem potencial de transmissão tão grande quanto o de outros vírus, como o do sarampo. Uma pessoa infectada com sarampo contamina, em média, outras 18 pessoas.

No caso do coronavírus, a pessoa infectada pode contaminar de duas a três pessoas, segundo estudos até agora.” A decisão de manter os pacientes isolados em casa, diz ela, segue protocolo do ministério para pacientes sem gravidade.

Professora de Infectologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Nancy Bellei concorda que o risco de propagação do vírus hoje é muito baixo. “A maioria dos casos investigados até agora foram descartados e medidas de precaução estão sendo tomadas quanto às suspeitas. O maior risco é para profissionais de saúde. Na epidemia de Sars (Síndrome Respiratória Aguda Grave, de 2002 a 2003, na China), esse foi o grupo mais afetado”, afirma.

Viagens. Secretário executivo do Ministério da Saúde, João Gabbardo disse que não haverá bloqueio de brasileiros que voltem da China. O governo federal espera queda no fluxo de viagens para o país asiático e também menos chineses chegando ao Brasil nos próximos dias, uma vez que Pequim fez recomendações sobre viagens ao exterior a seus cidadãos.

O presidente Jair Bolsonaro deve assinar hoje decreto para recriar um grupo interministerial para tratar de emergências de saúde pública.

PERGUNTAS & RESPOSTAS

Risco no País ainda é baixo

1. Quais são os sintomas do novo coronavírus?

Febre, tosse e dificuldade para respirar são os principais. Alguns pacientes tinham líquido nos pulmões.

2. Como ele é transmitido?

As formas de contágio ainda estão sendo estudadas, mas se sabe que a transmissão pode ocorrer entre humanos por via respiratória.

3. Há casos suspeitos de coronavírus no Brasil?

Sim, nove casos são investigados em seis Estados.

4. Qual é o risco para pessoas que estiveram no mesmo ambiente de pacientes com suspeita?

Como os casos ainda não estão confirmados e o potencial de transmissão do coronavírus não é tão alto quanto o de outros vírus, como o do sarampo, o risco ainda é considerado baixo.

5. O que uma pessoa que esteve no mesmo ambiente de um caso suspeito deve fazer?

Por enquanto, apenas ficar atento ao aparecimento de possíveis sintomas. Caso apareçam, procurar uma unidade de saúde.

6. Como me proteger?

Para reduzir o risco de transmissão, são recomendas medidas de higiene, como lavar as mãos, não compartilhar objetos pessoais e manter ambientes ventilados.

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Surto já ultrapassa epidemia de Sars em nº de infectados na China

30/01/2020

 

 

Oriente Médio registrou 1º caso; Austrália quer isolar em uma ilha seus cidadãos que viviam em província chinesa

O surto do novo coronavírus já registrou mais de 7,7 mil casos apenas na China continental. O número supera o de infectados pela Síndrome Respiratória Aguda Severa (Sars) entre 2002 e 2003, que contaminou 5,3 mil chineses e deixou 774 mortos em todo o mundo – 349 deles no país asiático. Além da China, que registra a maior parte das infecções, o novo coronavírus afeta pelo menos outros 16 países. E, ontem, chegou ao Oriente Médio.

Os Emirados Árabes Unidos informaram os primeiros casos de infecção no país, de quatro cidadãos chineses contaminados. Também já registram casos de coronavírus Canadá, Estados Unidos, Alemanha, França, Finlândia, Nepal, Tailândia, Sri Lanka, Malásia, Cingapura, Camboja, Vietnã, Japão, Coreia do Sul e Austrália.

Como forma de conter o surto, a China restringiu viagens de seus cidadãos entre províncias chinesas e para o exterior. Ainda assim, antes da determinação de quarentena, que já isola mais de 50 milhões de habitantes, milhares conseguiram deixar o país. Estrangeiros que permaneceram no epicentro do surto, a cidade de Wuhan, estão sendo retirados de lá por autoridades de seus países de origem.

Ontem, um avião com cerca de 200 cidadãos americanos que estavam isolados em Wuhan aterrissou em uma base militar em Riverside, na Califórnia, Estados Unidos. O grupo deve permanecer alojado nesta base militar. Já a Austrália pretende levar cerca de 600 cidadãos que moram na Província de Hubei, onde fica Wuhan, para a Ilha Christmas, um território do Oceano Índico. O projeto de repatriação foi apresentado ontem pelo primeiro-ministro australiano, Scott Morrison. A França prevê retirar seus cidadãos da cidade de Wuhan entre hoje e amanhã.

A Embaixada do Brasil em Pequim estima em 70 o número de brasileiros em toda a região de Hubei. O Ministério das Relações Exteriores diz acompanhar desdobramentos do surto para oferecer apoio aos brasileiros, mas, até o momento, não considera organizar a retirada dessas pessoas.

Viagens. Ontem, as companhias British Airways (Reino Unido), Lion Air (Indonésia), Ukraine International Airlines e Skyup Airlines (Ucrânia) e Air Austral (França) suspenderam os voos até a China. Já a Air France suspendeu viagens a Wuhan “até nova ordem” e reduziu o número de voos a Pequim e Xangai. A americana United Airlines e a Air Canadá já manifestaram a intenção de reduzir viagens