Valor econômico, v.20, n.4751, 16/05/2019. Empresas, p. B4

 

Infraero planeja vender todos os aeroportos até 2022

Rafael Bitencourt 

16/05/2019

 

 

A Infraero trabalha com um cenário de reestruturação que inclui a venda das participações nas concessionárias aeroportuárias constituídas no governo Dilma Rousseff e perda de controle de terminais restantes que serão leiloados até 2022. A presidente da empresa, Martha Seillier, disse ontem que a estratégia é tocada com aval do governo, que chegou a ameaçar encerrar as atividades da estatal ao concluir o plano de concessão.

Martha explicou que a Infraero se tornará uma "incubadora de projetos" voltada para o desenvolvimento de aeroportos regionais. Segundo ela, existem mais de 500 aeroportos nessa modalidade, com potencial de retorno financeiro caso recebam investimentos.

"A gente já está desenhando essa nova frente de trabalho. Isso valerá para quando não tiver mais a operação dos grandes de hoje. A gente já terá conseguido desenvolver uma carteira de aeroportos regionais que justifique a continuidade dessa 'pequena' Infraero", afirmou Martha, depois de participar de audiência pública na Comissão de Viação e Transportes da Câmara.

A Infraero ainda administra 53 aeroportos no Brasil, mas vai perder nove até o fim deste ano e transferir os 44 aeroportos restantes, até 2022, à iniciativa privada. Na lista estão Congonhas (SP) e Santos Dumont (RJ), incluídos na rodada final de concessões. O governo já anunciou que venderá a fatia de 49% da estatal nos aeroportos de Guarulhos (SP), Brasília (DF), Galeão (RJ) e Confins (MG).

"Se a Infraero está se retirando desses aeroportos e a gente tem profissionais de altíssima competência, engenheiros aeronáuticos que entendem de operação, que fazem esse trabalho desde a década de 70, a empresas pode, agora, alocá-los nesses aeroportos regionais para que os investimentos sejam efetivamente feitos", afirmou a presidente da estatal.

Com a estratégia voltada para aeroportos regionais, a Infraero espera contar com recursos do Fundo Nacional de Aviação Civil (Fnac), abastecido com outorgas pagas pelas novas concessionárias e tarifas aeroportuárias. "Já temos recursos nesse fundo. Mas o problema é que hoje, com o déficit fiscal, muitos desses recursos estão sendo contingenciados", disse a executiva depois da audiência.

Para viabilizar o acesso ao Fnac, a presidente da Infraero tem defendido medidas de ajuste nas contas públicas. "Por isso, todos nós apoiamos muito a reforma da Previdência, porque, com o governo saneando sua situação fiscal, voltamos a usar os fundos setoriais", afirmou. Segundo ela, o fundo de aviação já contingenciou R$ 7 bilhões.

A executiva defendeu também, durante a audiência, a aprovação da Medida Provisória 863/18, que acaba com a restrição de 20% à entrada de capital estrangeiro nas companhias que atuam no Brasil. "O que nós desejamos, como operador aeroportuário, é ter os nossos aeroportos cheios de voos, de companhias", reforçou Martha.

Para a executiva, não é interessante o mercado brasileiro de aviação ficar restrito aos atuais grupos. "Podia ter muito mais companhias do que as três grandes, TAM, Gol e Azul. Sabemos que, pelo tamanho do nosso mercado e do seu potencial, essas empresas muitas vezes têm se dividido de forma a nem sequer concorrer, e pensam: 'com tanta oportunidade, por que a gente vai ficar brigando por aquela rota, se eu vou por um lado e você por outro'", disse.