O globo, n.31416, 12/08/2019. País, p. 06

 

Presidente compartilha que Dallagnol é 'esquerda'

Daniel Gullino

12/08/2019

 

 

A página de Facebook do presidente Jair Bolsonaro foi tomada ontem por pedidos para que o coordenador da Lava-Jato em Curitiba, o procurador Deltan Dallagnol, seja nomeado procurador-geral da República. Em resposta a alguns comentários, o perfil de Bolsonaro compartilhou a publicação de uma página chamada Bolsonaro Opressor 2.0 afirmando que “Pra quem pede o Deltan Dallagnol na PGR... O cara é esquerdista estilo PSOL”.

O link compartilhado traz reproduções de declarações de Dallagnol nas quais ele critica atos de Bolsonaro no governo e repudia a ditadura militar. Também há publicações de Deltan compartilhando notícias sobre suspeitas de irregularidades contra o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, e contra Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro. Ainda há registros de “curtidas” do procurador em publicações de outras pessoas sobre Amazônia, direitos indígenas, direitos humanos e ditadura militar, entre outros assuntos.

OS TEMAS

Os pedidos para que Dallagnol seja indicado à PGR chegam no momento em que o ministro da Justiça, Sergio Moro, ex-juiz da Lava-Jato em Curitiba, enfrenta desgaste crescente no Palácio do Planalto. Em público, nenhum integrante do governo faz críticas, mas, nos bastidores, o entorno do presidente demonstra incômodo com o ex-juiz, que conquistou popularidade por sua atuação ao julgar processos da Lava-Jato.

Em outras postagens, Bolsonaro respondeu com uma lista de temas sobre os quais gostaria de fazer perguntas a um candidato a PGR, como desarmamento, ideologia de gênero, Amazônia, excludente de ilicitude, Comissão da Verdade, reserva indígena, ONGs na Amazônia e meio ambiente.

A página Bolsonaro Opressor 2.0 já foi comandada por Tercio Arnaud Tomaz, assessor do gabinete do presidente. No ano passado, Tercio trabalhou na campanha de Bolsonaro ao mesmo tempo em que era lotado no gabinete do vereador Carlos Bolsonaro.

Bolsonaro disse que fará até sexta-feira sua escolha para a PGR e brincou dizendo que hoje há “uns 80” candidatos.

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Conselho do MP analisa duas representações contra procurador

André de Souza

12/08/2019

 

 

Após o recesso do meio do ano, o Conselho Nacional Ministério Público (CNMP) volta a se reunir amanhã com uma pauta de mais de 150 itens, dos quais dois têm como alvo o procurador Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Operação Lava-Jato em Curitiba. Um deles, movido pelo senador Renan Calheiros (MDBAL), deve ser retirado de pauta. Ainda assim resta um processo apresentado pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, e existe a possibilidade de desarquivamento de um outro movido por um conselheiros do próprio CNMP.

O caso de Renan deve ser adiado porque o senador fez recentemente um aditamento, apresentando mais documentos ao CNMP. Ele acusa Dallagnol de ter feito campanha no Twitter para atacá-lo e influenciar a eleição de 2018.

O processo de Toffoli está num estágio mais adiantado e, segundo um conselheiro do CNMP ouvido pelo GLOBO, pode já resultar em punição. O caso não tem relação com reportagens recentes do site The Intercept Brasil, cujo teor sugere que Dallagnol incentivou investigações de ministros do STF. O processo tem origem numa entrevista à rádio CBN em agosto de 2018, quando ele afirmou que decisões tomadas pelos ministros Toffoli, Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski passam a mensagem de leniência com a corrupção.

A lista de processos pode aumentar caso alguns conselheiros solicitem a revisão do arquivamento de uma representação feita em junho, após as primeiras reportagens sobre Dallagnol. A tendência é que o pedido seja feito, mas ainda é incerto se haverá tempo para julgá-lo. Em junho, o corregedor nacional do Ministério Público, Orlando Rochadel Moreira, arquivou a representação. Mas o clima hoje é outro. Uma inação do CNMP agora pode levar o STF a medidas mais drásticas.

A condução dos trabalhos ficará com a procuradora geral da República, Raquel Dodge, que preside o CNMP. É ela quem chama os processos para julgamento, respeitando prioridades. Dallagnol tem dito que os processos contra ele miram na verdade a Lava-Jato. Quanto às mensagens publicadas, costuma dizer que não reconhece a autenticidade e que elas resultam de crime cibernético.