O Estado de São Paulo, n. 46118, 23/01/2020. Metrópole, p. A17

 

Cidade onde surto começou se isola para conter doença

23/01/2020

 

 

Wuhan, com 11 milhões de habitantes, suspendeu serviços de transporte; morador diz que não há mais máscaras nas farmácias

Uma cidade interditada e temerosa. A metrópole de Wuhan, situada na China central com 11 milhões de habitantes, é considerada o local de origem do novo coronavírus e se isola do mundo com o objetivo de conter uma epidemia. Autoridades decidiram fechar todos os meios de transportes. A maioria dos casos de contaminação foi registrada nessa cidade construída às margens do Rio Yangtsé.

A epidemia foi detectada pela primeira vez no último mês, em um mercado de frutos do mar localizado na cidade. Desde então, 17 pessoas morreram e os cientistas temem uma possível mutação e propagação desenfreada do vírus. Após ignorar a doença por semanas, nos últimos dias os habitantes de Wuhan começaram a usar máscaras de proteção, como relataram moradores.

“O medo realmente aumentou desde segunda-feira, quando informaram que o contágio ocorre de forma direta entre pessoas”, relata Melissa Santos, uma estudante dominicana que vive em Wuhan há pouco mais de dois anos.

Em um primeiro momento, as autoridades afirmaram que o vírus parecia ser transmitido apenas de animais para o ser humano e não havia contaminação entre humanos. Charly Bonnassie, um estudante francês que embarcou em um trem vindo de Wuhan, contou que “100% dos passageiros e funcionários” usavam máscaras.

“Não há mais máscaras disponíveis nas farmácias, todas sumiram”, disse Vincent Lemarié, um professor de francês que leciona na Universidade de Hubei, a Província de Wuhan.

As autoridades se preocupam pelo risco de contaminação a poucos dias do feriado de anonovo Lunar, quando milhões de chineses costumam viajar. “Caso não seja necessário, aconselhamos que não venham a Wuhan”, informou o prefeito da cidade, Zu Xianwang, em comunicado veiculado na televisão.

Em uma entrevista coletiva em Pequim, o vice-ministro da Comissão Nacional de Saúde da China, Li Bin, sugeriu que os moradores não saiam da cidade. O aeroporto e a estação de trem estão “temporariamente fechados”, segundo informou o governo chinês. Também foram suspensos os transportes por metrô.

Para evitar qualquer concentração de pessoas, as autoridades também cancelaram as comemorações previstas para o feriado do ano-novo chinês, no sábado. O famoso templo budista Guiyuan, que no último ano reuniu 700 mil pessoas para a ocasião, teve de cancelar o evento. Cerca de 30 mil pessoas já tinham reservado seus ingressos e outros 200 mil foram distribuídos de forma gratuita.

As autoridades também proibiram qualquer espetáculo e fecharam o museu. O prefeito, criticado por ter organizado no fim de semana um banquete no qual recebeu 40 mil famílias, teve de explicar que desconhecia o tamanho da epidemia.

“Um amigo que tinha me convidado para passar o ano-novo com ele em outra cidade da província de Hubei preferiu cancelar a festa”, diz Melissa.

Animais. A presença de animais selvagens e aves nos veículos que entravam e saíam da cidade já vinha sendo controlada.

No mercado onde surgiu a epidemia eram vendidos animais selvagens, disse ontem o diretor do Centro Nacional de Controle e Prevenção de Doenças, Gao Fu. Ele não informou, no entanto, se esses animais seriam a origem da infecção. O local de comércio, principalmente voltado para a pesca, mantém uma seleção variada de mercadorias, como lobos e civetas. 

Medidas

“Com ação forte, (Wuhan) não apenas vai controlar o surto na China, mas minimizar o risco de disseminação internacional.”

Tedros Ahanom Ghebreyesus

DIRETOR-GERAL DA OMS