Título: Agora é com as urnas
Autor: Tranches, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 06/11/2012, Mundo, p. 16

Obama e Romney visitam hoje Ohio e Pensilvânia, na reta final da campanha. Disputa na Flórida pode ser resolvida pela Justiça

Eles percorreram milhares de quilômetros, gastaram bilhões de dólares e, principalmente, falaram a milhões de pessoas para convencê-las de que são donos do melhor projeto para o país mais poderoso do mundo. Hoje, a eles, só resta esperar. Depois da frenética agenda de campanha, o presidente democrata, Barack Obama, e seu adversário republicano, Mitt Romney, aguardam, em seus berços políticos, a definição do grande dia de votação nos Estados Unidos. Na programação reduzida de hoje, os dois visitarão o mesmo estado de Ohio — vedete na reta final da campanha. Romney também prevê uma ida à Pensilvânia.

Em Massachusetts, Romney votará com a mulher, Ann, na cidade de Belmont, às 8h45 locais (11h45 em Brasília). Ele viaja em seguida para os demais estados e retorna para acompanhar a apuração dos votos no Centro de Convenções de Boston. Romney é natural do estado de Michigan, mas foi governador de Massachusetts entre 2003 e 2007, onde tem residência. Obama e a primeira-dama, Michelle, aguardarão os resultados no Centro de Convenções McCormick Place, em Chicago (Illinois). Ele foi senador pelo estado entre 2005 e 2008, quando saiu candidato e tornou-se o primeiro presidente negro dos EUA. O primeiro-casal já votou antecipadamente.

Repetindo a maratona da reta final, o dia de ontem foi marcado pela corrida aos “swing states”. Obama visitou Wisconsin, Ohio e Iowa, enquanto Romney percorreu a Flórida, Virgínia, Ohio e New Hampshire. Apresentado pelo roqueiro e ativista Bruce Springsteen, Obama começou a campanha em Madison, no Wisconsin, defendendo porque merece mais quatro anos na Casa Branca. “Wisconsin, a essa altura, você já me conhece”, gritou a uma multidão. “Quando eu digo que sei o que é uma mudança real, você pode acreditar, porque me viu lutar por isso, e sabe que continuarei fazendo. Você pode ver as cicatrizes em mim que provam isso. Você pode ver o cabelo grisalho na minha cabeça mostrando o que é lutar por mudança.”

Bem distante dali, ao sul, na Flórida, “mudança” foi o mesmo argumento do republicano. “Esta nação iniciará uma mudança para um amanhã melhor”, afirmou, para uma plateia de entusiastas. “Podemos começar um amanhã melhor amanhã (em um trocadilho com a data de votação, hoje). E com a ajuda do povo da Flórida, é exatamente isso que vai acontecer”, reforçou. A Flórida é um dos poucos estados chave onde o republicano apresenta leve vantagem nas pesquisas, enquanto Obama mantém ligeira distância nos demais.

Suspense

Vem da Flórida também um dos maiores fantasmas das eleições presidenciais norte-americanas. Com a disputa tão acirrada, o país pode ter de esperar, mais uma vez, por semanas até conhecer o vencedor. A eleição presidencial nos EUA é indireta e cada estado conta com um número de votos no Colégio Eleitoral, que somam 538. Para se tornar presidente, é preciso conquistar, no mínimo, 270 desses votos. Os delegados acompanham a votação de seu estado. Em 2000, em uma corrida à Casa Branca apertada, a Suprema Corte decidiu a eleição a favor de George W.Bush, depois de uma recontagem dos votos na Flórida (que tem 29 delegados). Apesar de ter ficado atrás do democrata Al Gore nos votos populares em todo o país, Bush levou os delegados da Flórida — a Justiça determinar sua vitória por 500 votos de diferença nesse estado.

Os jornais noticiaram a preocupação das campanhas com o tema. As equipes republicana e democrata mobilizaram advogados para uma briga na Justiça, ante um cenário de empate. Os advogados acompanharão a votação e estarão prontos a intervir não apenas para pedir a recontagem, mas para denunciar fraude ou solicitar que as urnas permaneçam abertas por mais tempo.

A volta a um cenário indefinido ocorre quatro anos depois de Obama conquistar, com folga, a eleição. Romney ganhou força nos últimos meses para competir em duro páreo. Analistas consideram o primeiro debate, em 3 de outubro, um divisor de águas. Segundo eles, naquele momento, boa parte dos americanos passou a ver o republicano como forte candidato. “Foi a primeira vez desde 1980 que um debate provocou uma mudança drástica no curso de uma campanha”, explicou ao Correio o cientista político da Brown University (Rhode Island) James Morone. “Romney acertou Obama de modo tão decisivo que salvou sua campanha.”

A “joia da coroa” Não foi à toa que os candidatos à Casa Branca decidiram, no dia da eleição, fazer campanha em Ohio. Considerado uma das joias da coroa, o estado passou a ser extremamente cortejado na reta final da campanha. Para Romeny, ele é ainda mais importante até mesmo por conta da tradição. Nunca nenhum republicano chegou à Presidência sem vencer lá. O único a conseguir tal façanha foi John Kennedy, em 1960.