O Estado de São Paulo, n. 46119, 24/01/2020. Metrópole, p. A15

 

China isola 20 milhões e cancela festa de ano-novo por vírus, Brasil descarta casos

Marlla Sabino

José Maria Tomazela

24/01/2020

 

 

Saúde. País suspende transporte em áreas mais afetadas e tem 1º óbito fora de província onde começou surto; governo do Brasil diz que 5 possíveis infecções foram reportadas, mas estão fora do padrão para classificar suspeitas. Aeroportos terão aviso sonoro sobre vírus

A China colocou ontem mais uma cidade em quarentena por causa do coronavírus, que já causou 25 mortes no país. As cidades de Wuhan, onde começou o surto, e Huanggang, na mesma região, tiveram operações de transporte suspensas, afetando cerca de 20 milhões de pessoas. Por precaução, Pequim e outras grandes cidades também cancelaram as festas do ano-novo chinês, celebração local que começa amanhã e movimenta milhares de turistas. No Brasil, o Ministério da Saúde diz que não há casos suspeitos no balanço oficial.

Ontem, a China confirmou a primeira morte fora da Província de Hubei, onde ficam Wuhan e Huanggang, o que eleva preocupações sobre o avanço do novo vírus no país. Além dos óbitos, já há 830 infectados, entre eles 177 em estado grave.

Áreas vizinhas a Wuhan e Huanggang também sofrem com restrições a meios de transporte e locais públicos. Outras regiões estudam medidas similares – o que tem revoltado a população. Pequim fechou, por tempo indeterminado, a Cidade Proibida, palácio imperial e tradicional ponto turístico.

A maioria dos mortos era de homens idosos com problemas de saúde prévios, como hipertensão e diabete. Assim, ainda que a origem do vírus continue desconhecida, cientistas acreditam que a doença não tenha alta letalidade entre jovens ou pessoas saudáveis.

Países têm elevado as medidas de controle em portos e aeroportos. Entre as ações, estão a criação de zonas exclusivas para passageiros vindos da China e câmeras térmicas para identificar pessoas com alta temperatura corporal. Estados Unidos, Tailândia, Japão, Coreia do Sul, Cingapura e Vietnã também já confirmaram casos.

Brasil em alerta. O Ministério da Saúde descartou haver suspeitas de coronavírus no País. Distrito Federal, São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas e Santa Catarina notificaram o governo sobre cinco possíveis infecções. O ministério disse que os casos não se enquadram nos padrões de suspeitas da Organização Mundial da Saúde (OMS). Entre esses parâmetros, estão tosse, febre, dificuldade de respirar e ter viajado a Wuhan.

“É natural que no início tenha confusão sobre a identificação de casos. Nem a Organização Mundial da Saúde tem claro conhecimento a respeito da transmissão”, afirmou Julio Henrique Croda, secretário substituto de Vigilância em Saúde do ministério. O governo de Minas, que havia reportado um caso em Belo Horizonte, disse que passou a seguir a orientação federal para notificações.

“O vírus sofreu pequena mutação e não se sabe ainda a forma de transmissão, se ele se assemelha à transmissão da Sars e do Mers (outras variações de coronavírus, transmitidos por gotículas de saliva ou secreção nasal) e, portanto, mais limitada, ou se pode adquirir habilidade maior de transmissão, como o vírus influenza”, disse Croda.

O governo disse não ver risco de haver epidemia no País e afirmou ter entrado em alerta nível 1 (numa escala até 3) para o risco de transmissão de coronavírus. O nível mais alto é ativado quando se confirmam casos transmitidos em solo nacional.

Agentes de aeroportos, portos e fronteiras foram orientados a reforçar cuidados. Não há recomendação para testar todo passageiro de voos de áreas com casos confirmados ou para cancelar viagens para China.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) divulgará informes sonoros em aeroportos para orientar passageiros. Os avisos pedirão a quem fez viagem a Wuhan que procure a unidade de saúde mais próxima se tiver febre ou tosse em até 14 dias após a viagem. Os informes, diz a Anvisa, estão sendo preparados.