O globo, n.31415, 11/08/2019. Sociedade, p. 42

 

Alemanha corta R$ 155 milhões para Amazônia 

11/08/2019

 

 

Em decisão que “reflete a grande preocupação com o aumento do desmatamento na Amazônia brasileira”, a Alemanha congelou R$ 155 milhões para o financiamento de projetos de proteção da floresta. O anúncio foi feito ontem pela ministra alemã do Meio Ambiente, Svenja Schulze, ao jornal “Tagesspiegel”. Em nota enviada ao GLOBO, a embaixada alemã no Brasil explicou que “a suspensão só concerne recursos que seriam destinados a novos projetos financiados pelo Ministério Federal do Meio Ambiente.

Os projetos financiados pelo Ministério Federal da Cooperação Econômica e do Desenvolvimento, incluindo o Fundo Amazônia, estão prosseguindo”. Ao jornal alemão, Schulze afirmou que “a política do governo brasileiro na Região Amazônica deixa dúvidas se ainda persegue uma redução consistente das taxas de desmatamento”. A ministra explicou ainda que o financiamento poderá ser retomado caso essa questão seja esclarecida.

De acordo com a reportagem, o primeiro passo do congelamento se refere a um montante de cerca de € 35 milhões, o equivalente a cerca de R$ 155 milhões. A publicação alemã ressaltou que a iniciativa internacional do ministério alemão contra as mudanças climáticas forneceu historicamente fundos significativos para projetos no Brasil. De 2008 até o ano passado, de acordo com a pasta, cerca de € 95 milhões foram repassados, ou pouco mais de R$ 420 milhões.

‘LOBBY AGRÁRIO’

A reportagem diz ainda que, “enquanto o governo do presidente da direita, Jair Bolsonaro, está comprometido com o objetivo do Acordo Climático de Paris de reduzir o desmatamento ilegal de florestas a zero até 2030 e o reflorestamento massivo, a realidade é diferente. Um dos maiores defensores de Bolsonaro é o lobby agrário”. Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), os alertas do desmatamento dispararam no mês passado.

Em julho, foram atingidos 2.254,9 km². No mesmo mês em 2018, esse índice ficou em 596,6 km². Comparando ambos os lados, trata-se de um aumento de 278%. A divulgação dos dados compilados pelo Inpe irritou o governo Bolsonaro, e o diretor do instituto foi trocado no início deste mês — saiu o cientista Ricardo Galvão e entrou o militar Darcton Policarpo Damião.

O jornal alemão lembrou a troca de comando no Inpe e a relacionou ao desmatamento no Brasil: “talvez os números e estimativas não sejam mais publicados de maneira tão transparente”. O governo alemão é o segundo país que mais repassou recursos para o Fundo Amazônia, criado em 2008 para financiar ações de conservação e combate ao desflorestamento. De seu orçamento total (R$ 1,8 bilhão), o fundo tem cerca de R $1 bilhão aplica dosem 103 projetos de diferentes origens—são de governos estaduais da região, órgãos federais( Embrapa eInpe, entre outros) e organizações da sociedade civil. Em dez anos, a Noruega repassou ao fundo R$ 1,2 bilhão, seguido por Alemanha (que desembolsou R$ 68 milhões) e a Petrobras (R$ 7,7 milhões).

O depósito de recursos estrangeiros depende do desempenho dos projetos desenvolvidos até agora. A pasta do Meio Ambiente em Berlim também defende que a participação alemã no Fundo Amazônia seja revista. Procurado pelo GLOBO, o Ministério brasileiro do Meio Ambiente não se manifestou sobre o corte até a conclusão desta edição.