Correio braziliense, n. 20527, 03/08/2019. Brasil, p. 6

 

Diretor do Inpe será exonerado

Simone Kafruni

03/08/2019

 

 

Após a polêmica sobre dados do desmatamento na Amazônia, o diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Ricardo Galvão, será exonerado do cargo. O anúncio foi feito pelo próprio Galvão, que se reuniu na manhã de ontem com o ministro de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Marcos Pontes. O diretor foi alvo de críticas do presidente Jair Bolsonaro, que considerou “mentirosos” os dados divulgados pelo instituto.

Bolsonaro não gostou da constatação do Inpe, de que o desmatamento na Amazônia disparou 88% em junho de 2019 em relação ao mesmo mês do ano passado. Segundo o órgão, a devastação na Amazônia Legal brasileira atingiu 920,4km² em junho de 2019, ante 488,4km² em junho de 2018. As primeiras críticas do presidente foram feitas durante um café da manhã com jornalistas estrangeiros em 19 de julho. Desde então, Bolsonaro vinha prometendo uma “surpresa” em relação ao Inpe.

Ao deixar a reunião com o ministro Pontes, Galvão afirmou estar satisfeito em saber da preservação do Inpe. “O meu discurso com relação ao presidente causou constrangimento e a situação ficou insustentável. No entanto, eu tinha uma preocupação grande que isso fosse respingar no Inpe. Não vai acontecer”, garantiu.

Na quinta-feira, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, convocou uma coletiva de imprensa para contestar os dados do Inpe: “Não queremos esconder a realidade. O desmatamento vem aumentando por diversas razões, mas é preciso fazer a real análise dos números”, disse. A justificativa do governo, que questionou o índice de 88%, mas não apresentou nenhum outro dado, foi que a fórmula adotada pelo Inpe “não é a mais adequada”.

Na mesma coletiva, Bolsonaro afirmou, sobre Galvão: “Se quebrar confiança vai ser demitido sumariamente”. “Não tem desculpa para, quem quer se seja, divulgar um dado com esse peso de importância para o nosso Brasil. A perda da confiança é uma pena capital. Agora, teremos muita responsabilidade em realmente identificar se houve ou não má-fé por parte dessa pessoa”, disse o presidente. Menos de 24 horas depois, Galvão anunciou sua saída.

Repercussão

A exoneração repercutiu de forma bastante negativa entre ambientalistas e na comunidade científica. Márcio Astrini, coordenador de políticas públicas do Greenpeace, comentou: “Bolsonaro sabe que seu governo é o principal responsável pelo cenário de destruição da Amazônia. A exoneração é apenas um ato de vingança contra quem conta a verdade. O novo governo vem implementando um projeto antiambiental que sucateia a capacidade do Estado de combater o desmatamento e favorece quem pratica o crime florestal. E, agora, na hora de encarar as consequências de suas decisões, tenta esconder a verdade de maneira vergonhosa.”

Em nota, o MCTIC agradeceu a Ricardo Galvão pelo profissionalismo na condução dos projetos que gerenciou e destacou “seu alto gabarito e currículo exemplar”. “O ministro Marcos Pontes afirma que o Inpe é um instituto de grande relevância para sociedade brasileira, com imenso prestígio no Brasil e exterior, mantendo seu compromisso com as pesquisas e projetos que desenvolve. A escolha do novo diretor se dará de acordo com o mérito necessário ao cargo.”