O globo, n.31414, 10/08/2019. Mundo, p. 26

 

Eduardo diz que será o embaixador 'mais cobrado'

Eliane Oliveira 

10/08/2019

 

 

Horas depois de receber da Casa Branca o sinal verde para assumira Embaixada do Brasil nos Estados Unidos, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) iniciou, ontem, um corpo a corpo com os senadores que fazem parte da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Casa. Após se reunir com Chico Rodrigues (DEM-RR), provável relator de sua nomeação na comissão, Eduardo afirmou ter consciência da responsabilidade do cargo, ainda mais diante da polêmica criada a partir de sua indicação, que ontem levou o Cidadania (antigo PPS) a entrar com uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) para sustá-la .

— Se eu for para os EUA, provavelmente serei o embaixador mais cobrado do mundo, devido aos fatos todos que estão ocorrendo antes mesmo da minha ida — afirmou o parlamentar.

Eduardo Bolsonaro se referia, principalmente, às críticas à sua indicação. Os motivos alegados para quem não concorda com sua nomeação para o posto em Washington são o fato de o deputado ter apenas 35 anos, ser filho do presidente da República, não ter experiência na diplomacia e ser excessivamente alinhado a Donald Trump, que enfrenta uma disputa à reeleição no próximo ano.

—Certamente, é uma responsabilidade muito grande, mas ainda falta a sabatina no Senado. Vou me apresentar aos senadores para quebrar o gelo com aqueles que me conhecem pouco. Independentemente da resposta, seja positiva ou negativa, vou aceitá-la—disse. — A sabatina no Senado será crucial, e este é meu foco no momento. Vou visitar senador por senador.

Para o senador Chico Rodrigues, Eduardo cumpre os dois pressupostos para se tornar embaixador: acesso e influência. Rodrigues acredita que a sabatina acontecerá dentro de 15 dias.

—Eu diria que não existe nenhum impedimento legal para que ele possa assumira embaixada e, obviamente ,[ sua ida para os EUA] vai abrir uma janela de oportunidades para o Brasil. As últimas declarações do presidente Trump demonstram claramente isso.

Em nota divulgada mais cedo, o deputado disse ter recebido com alegria e orgulho a notícia da concessão, pelo governo americano, do agrément — que na linguagem diplomática significa autorização — e afirmou que, se seu nome for aprovado no Senado, pretende promover um “diálogo estreito” com o Legislativo, os ministérios e a comunidade brasileira nos EUA.

BILHETINHO DE TRUMP

O deputado disse, ainda, que o “sim” dos EUA confirma o apoio e a confiança já demonstrados pelo presidente Trump. Em dois momentos recentes, o chefe da Casa Branca tornou pública sua satisfação como filho do presidente Jair Bolsonaro. Na primeira vez, elogiou Eduardo durante uma conversa com jornalistas em Washington. A segunda manifestação do presidente americano foi um bilhete escrito de próprio punho que acompanhou o agrément, recebido na quinta-feira pelo Itamaraty.

O deputado afirmou ter sido surpreendido coma notícia. Segundou ma fonte, Trump teria escrito que “mal pode esperar para trabalhar com Eduardo”.

Por sua vez, o presidente Jair Bolsonaro afirmou não ter pressa para enviar ao Senado a indicação de Eduardo.

—Foi um agrément até um pouco diferente, né? Lado pessoal. Então eu tô muito feliz e tenho certeza que esses laços de amizade e comerciais com os Estados Unidos serão potencializados com o Eduardo lá — declarou o presidente na saída do Palácio da Alvorada.

Em sua ação no STF, o Cidadania pediu que a nomeação seja sustada sob alegação de que Eduardo não é capacitado para o cargo, configurando assim uma situação de nepotismo. O relator do processo é o ministro Ricardo Lewandowski. Ele pode tomar uma decisão liminar sozinho ou levar o caso diretamente para decisão do plenário da Corte. Para o Cidadania, a indicação do filho do presidente viola uma súmula do STF que proíbe o nepotismo. O partido destacou que a efetivação da nomeação abre caminho para a “perpetração do poder familiar na administração pública”, além de ser imoral.