O globo, n.31413, 09/08/2019. País, p. 06

 

Presidente chama acusado de tortura de 'herói nacional'

Gustavo Maia 

Guilherme Caetano

09/08/2019

 

 

O presidente Jair Bolsonaro chamou ontem de “herói nacional” o coronel reformado do Exército Carlos Brilhante Ustra, morto em 2015 e acusado de prática de tortura durante o regime militar. Ele recebeu em seu gabinete a viúva do militar, Maria Joseíta.

— Não tive muito contato, mas tive alguns contatos com o marido dela enquanto estava vivo. Um herói nacional que evitou que o Brasil caísse naquilo que a esquerda hoje em dia quer —disse Bolsonaro.

Ustra foi o primeiro militar brasileiro a responder por um processo de tortura durante a ditadura. O Dossiê Ditadura, da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos, relaciona o coronel com 60 casos de mortes e desaparecimentos em São Paulo. A Arquidiocese de São Paulo, por meio do projeto Brasil Nunca Mais, denunciou mais de 500 casos de tortura cometidos dentro das dependências do DOICodi (Destacamento de Operações de Informações) no período em que Ustra era o comandante, de 1970 a 1974.

A admiração de Bolsonaro por Ustra já tinha sido manifestada em outras ocasiões. Quando ainda era deputado federal, ele exaltou o militar, por exemplo, como o “pesadelo de Dilma (Rousseff )”, na votação do impeachment da ex-presidente na Câmara, em abril de 2016.