Correio braziliense, n. 20528, 06/08/2019. Política, p. 6

 

Oficial da Força Aérea assume Inpe

Maria Eduarda Cardim

06/08/2019

 

 

Monitoramento » Ministro Marcos Pontes anuncia novo comando para o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais depois de polêmica sobre desmatamento

Após dois dias da polêmica demissão do ex-diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) Ricardo Galvão, o ministro de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), Marcos Pontes, anunciou ontem o oficial da Força Aérea Darcton Policarpo Damião como presidente interino do instituto. Darcton Policarpo ficará no cargo até que o diretor definitivo do órgão seja escolhido. A escolha será feita por meio de um comitê de busca que montará uma lista tríplice. No entanto, a data ainda não foi definida.

De acordo com o Marcos Pontes, a escolha de Policarpo foi feita com base em três critérios: capacidade de gestão, entendimento do Inpe e conhecimento de questões de desmatamento. “Recebi uma série de currículos e analisamos com base nesses critérios. Desta análise de currículo, quem foi o vencedor foi o Doutor Darcton Policarpo Damião. Ele tem passagem pelo Inpe e é uma pessoa de confiança. Vai ser um ótimo diretor interino para dar continuidade a este trabalho”, disse o ministro por meio de um vídeo nas redes sociais.

De acordo com o ministro da Ciência e Tecnologia, o nome de Darcton Policarpo Damião será enviado à Casa Civil, e a substituição deve ser confirmada ainda nesta semana.

Segundo o currículo na Plataforma Lattes, Darcton Policarpo Damião se graduou em Ciências Aeronáuticas na Academia da Força Aérea (AFA). O militar é mestre em sensoriamento remoto pelo Inpe e doutor em desenvolvimento sustentável pela Universidade de Brasília, com tese de doutorado sobre desmatamento na Amazônia.

Darcton assume o órgão após a polêmica sobre dados do desmatamento na Amazônia, que motivou a exoneração de Ricardo Galvão. O ex-diretor autorizou a divulgação do levantamento que mostrava um aumento de 88% do desmatamento da Floresta Amazônica em junho deste ano em relação ao mesmo mês de 2018. Após o episódio, Galvão foi alvo de críticas do presidente Jair Bolsonaro, que considerou “mentirosos” os dados apurados pelo instituto.

Bolsonaro e o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, chegaram a convocar uma entrevista coletiva no Palácio do Planalto  para contestar os dados divulgados pelo Inpe. Entidades ligadas ao setor também divulgaram notas à imprensa na semana passada, lamentando a exoneração de Galvão. O subprocurador-geral da República, Nívio de Freitas Filho, divulgou uma nota afirmando que o inconformismo do governo com os dados é “inaceitável” porque o Inpe trabalha com “extremo rigor”.

O ministro Marcos Pontes comentou o caso. “Para falar verdade, todos os questionamentos e problemas foram positivos para o sistema como um todo. O sistema vai ser ainda melhor”, disse no vídeo. Com relação ao ex-diretor, Marcos disse que teve uma conversa com Ricardo Galvão em que ele mesmo percebeu que a situação estava constrangedora. “O assunto poderia ter sido resolvido pelo ministério, mas não vamos discutir o que poderia ser feito no passado. O Galvão mesmo se sentiu desconfortável em permanecer no instituto”, completou.

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Amazônia sob ataque, dizem generais

Jorge Vasconcellos

Rodolfo Costa

06/08/2019

 

 

 

 

Os generais Eduardo Villas-Boas, assessor do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) do Palácio do Planalto, e Alberto Cardoso afirmaram ontem que o Estado brasileiro está sendo “alvo de um ataque indireto de nações estrangeiras que utilizam o discurso a favor da preservação da Amazônia em nome de seus interesses pelas riquezas do país”. Eles apresentaram a palestra “Intérpretes do pensamento estratégico-militar”, no Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal, em Brasília.

“Há hoje uma guerra indireta em andamento, que, agora, imediatamente, após a assinatura do acordo entre o Mercosul e a União Europeia, envolve a Alemanha, o Uruguai, os Estados Unidos e outros países. E o curioso é que são países que se consideram com autoridade moral de apontar o dedo para o Brasil”, disse  Villas-Boas. “A Amazônia abriga uma riqueza de 23 trilhões de dólares. São 17 trilhões em recursos minerais e 6 trilhões de biodiversidade.

A Amazônia abriga soluções para os problemas mais importantes da humanidade, como a água, a produção de alimentos, energia renovável, biodiversidade, mudanças climáticas”, acrescentou. Para ele, a Amazônia precisa de uma administração que leve em conta os componentes social, econômico e de segurança, com a participação das Forças Armadas.

O general Alberto Cardoso, que foi chefe do Gabinete Militar no governo Fernando Henrique Cardoso, afirmou que a disseminação de problemas na Amazônia, como desmatamento e a questão indígena, está por trás de uma manobra externa e interna contra o país. “É essa história que estamos vendo sobre a Amazônia. É uma manobra indireta. O Estado brasileiro está sendo fixado, com esse ataque de fixação, com essas acusações. Genocídio, invasão de terras indígenas, agronegócio, mineração, meio ambiente. Isso aqui são instrumentos de fixação, de ataques ao Estado brasileiro. Há uma manobra externa forte nisso aí, e interna também”, disse o general.

Também ontem, o presidente Jair Bolsonaro voltou a comentar a exoneração do agora ex-diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) Ricardo Galvão. Em Sobradinho (BA), ele culpou o que chamou de “maus brasileiros”, que divulgaram “números mentirosos” sobre o desmatamento na Floresta Amazônica. No domingo, ele havia avisado que “certas coisas” ele “manda, não pede”, justificando a decisão que tomou ao determinar que o ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, exonerasse Galvão.