Correio braziliense, n. 20528, 06/08/2019. Brasil, p. 7

 

Mapa da Violência

Maria Eduarda Cardim

06/08/2019

 

 

Segurança » De acordo com estudo do Ipea, Norte e Nordeste concentram capitais e 18 dos 20 municípios com maior taxa de homicídios. Cidades mais pacíficas estão em São Paulo. Brasília é a terceira capital com menos mortes

Uma pesquisa realizada com 310 municípios brasileiros com mais de 100 mil habitantes em 2017 mostra que as cidades mais violentas estão localizadas no Norte e no Nordeste do país. De acordo com os dados do Atlas da Violência, estudo feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea),  em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 18 dos 20 municípios mais violentos, além das 10 capitais mais violentas, estão localizados nessas regiões.

Maracanaú, no Ceará, é o município mais violento do Brasil. O levantamento registrou 145,7 homicídios para cada 100 mil habitantes na cidade localizada na região metropolitana de Fortaleza, a 24 km da capital. Em 2017, 308 pessoas foram assassinadas na cidade, de 224 mil habitantes. A segunda cidade mais violenta do País é Altamira, no Pará, onde 62 presos foram mortos no massacre do Centro de Recuperação Regional na última semana. São Gonçalo do Amarante, no Rio Grande do Norte, aparece em terceiro lugar no levantamento. Os três municípios estão localizadas em estados, cujas capitais também estão entre as cinco mais violentas de 2017.

Segundo o estudo, o aumento das mortes nas regiões Norte e Nordeste foi influenciado pelo acirramento da guerra do narcotráfico e pela rota do fluxo das drogas. O pesquisador do Ipea, Helder Ferreira, afirma que a violência associada com mercados ilícitos de drogas chamou atenção. “Nós já tivemos indícios do poder das facções pela mortalidade nos presídios. As notícias que temos vistos de massacres é mais um indício do quão frequente ocorrem atuações violentas”, explicou.

Na última semana, Altamira, a segunda cidade mais violenta, foi palco do maior massacre em presídios de 2019. Ao todo, 62 presos morreram na tragédia decorrente de uma briga entre integrantes das facções Comando Vermelho e Comando Classe A. Este ano, o Brasil acumula mais de 100 mortes causadas por rebeliões de presos integrantes de organizações criminosas. Em maio, uma briga interna na Família do Norte (FDN) deixou 55 mortos em presídios de Manaus.

Helder acredita que um dos desafios da segurança pública é o controle das situações dos presídios, que passa pelo reordenamento da política criminal e pelo saneamento do sistema de execução penal. Para o pesquisador, a melhora da qualidade dos presídios é um dos pontos-chave da questão. “A superlotação dos presídios dificulta ainda mais neste caso. Por isso, medidas alternativas à prisão são necessárias”, ressaltou.

O estudo sugere dois pilares como parte da solução do problema. Um dos pontos que merecem atenção das políticas públicas, de acordo com o estudo, são ações focalizadas nos territórios vulneráveis. “De maneira geral, o Brasil se destaca por altas taxas de homicídio. Embora a violência seja alta, não está espalhada em todo o território. O fato de ser concentrado é ainda mais grave, mas traz a possibilidade de ações mais pontuais”, explicou Helder. Em 2017, 50% dos homicídios do país estavam concentrados em 120 municípios.

Ranking positivo

O estado de São Paulo é um dos exemplos que vão na contramão do crescimento da violência no Brasil. A capital do estado é a menos violenta entre as 27 unidades federativas do país. Brasília também figura como uma das capitais menos violentas, depois São Paulo (SP) e Campo Grande (MS). Em 2017, a média de mortes no Distrito Federal foi de 20,5 a cada 100 mil habitantes.

Também estão em São Paulo 14 das 20 cidades menos violentas do país, inclusive a mais pacífica. De acordo com o levantamento, Jaú (SP) teve as menores taxas de homicídio em 2017. Localizada a 296 km da capital do estado, a cidade registrou 2,7 homicídios para cada 100 mil habitantes. No ano do estudo, apenas quatro homicídios foram registrados. Indaiatuba e Valinhos, também situadas em São Paulo, ocupam o segundo e o terceiro lugares na lista.