O globo, n.31412, 08/08/2019. País, p. 07

 

MP cobra explicações de Damares sobre comissão

Jailton de Carvalho

Leandro Prazeres

08/08/2019

 

 

O Ministério Público Federal (MPF) pediu que a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, explique por escrito as razões sobre a troca de quatro dos sete integrantes da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos. Procuradores também cobraram da ministra cópia integral dos procedimentos administrativos que levaram à substituição dos titulares da comissão.

Os procuradores pediram ainda cópia dos currículos dos novos integrantes da comissão indicados pela ministra. O grupo foi criado para investigar o desaparecimentos de vítimas durante a ditadura militar. Em um ofício de cinco páginas endereçado a Damares, os procuradores reproduzem um comentário do presidente Jair Bolsonaro sobre as mudanças:

“O motivo é que mudou o presidente, agora é o Jair Bolsonaro, de direita. Ponto final. Quando eles botavam terrorista lá, ninguém falava nada. Agora mudou o presidente. Igual mudou a questão ambiental também”.

Os procuradores também citam declaração do coronel da reserva Weslei Antônio Maretti, um dos novos integrantes da comissão, em defesa do coronel Brilhante Ustra, apontado como um dos símbolos da tortura durante a ditadura militar.

Ontem, o procurador da República Ailton Benedito afirmou que recorrerá da decisão do Conselho Superior do Ministério Público Federal que, por seis votos a quatro, barrou a indicação dele para a comissão. Segundo o procurador, não há impedimento legal para que ele substitua o atual ocupante da vaga, o procurador Ivan Garcia Marx. Benedito tem se destacado na internet por declarações favoráveis a militares e contra à esquerda:

— Entendo que tenho plenas condições de ser integrante da Comissão Especial em nome do MPF. Em nome disso, já estou preparando um recurso pertinente contra a decisão tomada ontem (anteontem) pelo conselho.