Título: Estado de saúde de Niemeyer é delicado
Autor: Mader, Helena
Fonte: Correio Braziliense, 10/11/2012, Brasil, p. 12

Hospitalizado pela terceira vez neste ano, arquiteto teve problemas com função renal e foi transferido para a unidade de tratamento semi-intensivo. Novo boletim médico será divulgado hoje. Internação teve repercussão internacional

HELENA MADER

Enviada especial

Rio de Janeiro — O estado de saúde de Oscar Niemeyer, internado há uma semana no Rio de Janeiro, se agravou ontem. O arquiteto, que tem 104 anos, teve uma piora nas funções renais e foi transferido do quarto para a unidade de tratamento semi-intensivo do Hospital Samaritano, na Zona Sul da cidade. De acordo com o boletim médico, divulgado na manhã de ontem, o estado clínico de Niemeyer inspira cuidados. O documento é assinado pelo médico Fernando Gjorup, que acompanha o arquiteto.

O boletim oficial informa ainda que ele está lúcido e respira sem a ajuda de aparelhos. Mas com a piora da função renal, não há previsão de alta. Em 15 de dezembro, o arquiteto completará 105 anos. No Hospital Samaritano, no bairro de Botafogo, a movimentação de jornalistas que esperavam notícias sobre o estado de saúde de Niemeyer atraiu a atenção dos moradores da região. Mas até o início da noite, nenhum médico ou representante da unidade deu entrevista ou detalhes sobre a situação do arquiteto. Segundo a assessoria de imprensa do Hospital Samaritano, a família pediu discrição a respeito das condições físicas do paciente. Hoje, por volta das 12h, está prevista a divulgação de um novo boletim, que deve indicar se houve melhoras na função renal.

Niemeyer foi internado na sexta-feira da semana passada com desidratação. Ele não estava conseguindo se alimentar nem ingerir líquidos. Devido ao quadro, nesse período, ele passou por um procedimento para implantação de uma sonda gástrica. Os problemas renais e a desidratação também foram motivos de internação do arquiteto no mês passado. Em outubro, ele ficou hospitalizado por duas semanas e teve alta no último dia 27. Mesmo internado, Niemeyer se manteve lúcido, conversou e se alimentou normalmente.

Ao todo, o arquiteto deu entrada no hospital três vezes neste ano. Em maio, o motivo foi uma pneumonia. Ele permaneceu no Hospital Samaritano por 16 dias, sendo 10 em uma unidade intermediária, recebendo tratamento antibiótico por via venosa e soro reidratante.

Na época, mesmo internado, o artista se mostrou preocupado com o trabalho. Ele disse ao neto Kadu Niemeyer que queria receber alta para cuidar dos projetos. O mais urgente deles era o lançamento da revista de arquitetura e pensamento dirigida Nosso Caminho, editada por ele e a mulher. Enquanto ele esteve no hospital, a Torre Digital, sua mais recente obra em Brasília, foi aberta à visitação pública.

Filha única Em abril de 2011, ele foi submetido a cirurgias para retirada da vesícula e de um tumor no intestino. Na época, ele ficou internado por 12 dias por causa de uma infecção urinária. Em junho deste ano, o arquiteto sepultou sua filha única, Anna Maria Niemeyer, 82 anos, vítima de enfisema pulmonar. Ela deixou cinco filhos, 13 netos e quatro bisnetos.

Como à época, a saúde do patriarca da família já estava bastante debilitada, Oscar não compareceu ao enterro de Anna, realizado no cemitério São João Batista. "O pai receber a notícia da morte de um filho é uma coisa extremamente difícil, imagina para um pai de 104 anos, a situação é ainda mais complicada", comentou à época Carlos Oscar, um dos netos do arquiteto.

A internação de Niemeyer repercutiu nos jornais internacionais. A Prensa Latina, agência informativa latinoamericana, ressaltou a quantidade de vezes que o pai da arquitetura brasileira moderna esteve no hospital e o considerou uma personalidade conhecida em todo mundo pelo seu trabalho, especialmente pelo conceito urbano da capital federal. Entre as obras citadas está o Palácio do Alvorada, o Congresso Nacional e a Catedral.

Ao informar a internação do arquiteto, a France Presse destacou que, em 1988, Niemeyer ganhou o prêmio Pritzker, considerado o Nobel da arquitetura. A notícia foi replicada em jornais como o The Malay Mail, da Malásia, e o Inforsur Hoy, de notícias sobre a América Latina e o Caribe.